27 Mai 2022
Mais um naufrágio anunciado. Outra tragédia das migrações no Mediterrâneo. Aconteceu ontem à noite na costa da Tunísia, perto de Sfax. A última tragédia é confirmada pela Organização Internacional para as Migrações, segundo a qual havia cerca de uma centena de pessoas no barco que partiu de Zouara, das quais 76 estariam desaparecidas; 24 foram resgatados. “Outro naufrágio na costa da Tunísia - diz o porta-voz da OIM Itália, Flavio Di Giacomo - que teria causado pelo menos 76 desaparecidos. Agora são mais de 650 pessoas que morreram no Mediterrâneo este ano. No entanto, o apelo para reforçar o patrulhamento é desatendido”.
A reportagem é de Daniela Fassini, publicada por Avvenire, 26-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas mesmas horas, sempre no Mediterrâneo, ocorreu outro evento dramático: a virada de um barco carregado de migrantes. Felizmente, neste caso, homens, mulheres e crianças (a mais nova tem dois anos) foram resgatados pela ONG Open Arms com uma operação difícil. O momento é registrado em uma foto tirada do navio, que mostra perfeitamente a dramaticidade da situação.
A silhueta do barco destaca-se na escuridão da noite, deixando entrever pequenos pontos alaranjados. Ampliando a imagem, esses pontos tornam-se as mãos de homens e mulheres agarrados à borda do barco, pernas à procura desesperada um ponto de apoio para não cair na água, olhos escancarados na procura de ajuda enquanto tentam não se afogar. O barco com mais de cem pessoas a bordo virou em frente ao Astral, o navio Open Arms empenhado em busca e salvamento. “É difícil entender a inércia deliberada da Tunísia, Malta e Itália em um caso tão claro; apesar de avisados, deixaram o barco à deriva durante várias horas: isto é omissão de resgate”, explica a tripulação do Open Arms, ressaltando que ontem de manhã as autoridades não tinham respondido ao mayday, o SOS, embora, após o resgate, poderia haver pessoas desaparecidas.
“Precisamos que as autoridades ajam rapidamente e indiquem um porto seguro. O tempo está piorando e no Astral não temos espaço, comida e água suficientes para todas as pessoas a bordo”, alertou o chefe da missão Open Arms, Gerard Canals, após o difícil resgate de ontem à noite. Agora, 110 pessoas estão em segurança no convés do navio. O alarme disparou na noite de terça-feira, quando o navio Open Arms recebeu a indicação de que o barco estava em perigo.
"Depois de ter alertado as autoridades competentes", chegando ao local à uma da madrugada, a tripulação distribuiu coletes salva-vidas. “Assim que a distribuição foi concluída, porém, o barco virou e nossa equipe teve que realizar um resgate usando os infláveis presentes pelo nosso navio”, conta a equipe de resgate. “A Líbia continua a ser o primeiro país em número de partidas para a Itália - explica Di Giacomo -. Continua sendo um país instável, vimos isso há apenas uma semana com o confronto armado em Trípoli entre os dois governos. Isso significa que a condição dos migrantes na Líbia não melhorou em nada: as condições dos centros são e continuam sendo desumanas”.
Os números de pessoas que perderam a vida ao longo desta rota do Mediterrâneo central falam por si: mais de 600 desde o início do ano. Sem falar nas rejeições, ou seja, os migrantes que na tentativa de chegar às costas da Europa foram interceptados e mandados de volta à terra pela chamada guarda costeira de Trípoli. São 6.340 pessoas desde o início do ano, levadas de volta a presídios desumanos. "A Líbia continua sendo um porto não seguro em meio à indiferença generalizada - denuncia o porta-voz da OIM - e é o verdadeiro grande problema humanitário: a rota do Mediterrâneo central continua sendo a mais perigosa e muitas, muitas pessoas continuam a morrer fugindo dos horrores e da violência".
O naufrágio da noite passada no sul do Mediterrâneo "ocorreu em águas territoriais da Tunísia", disse a Guarda Costeira de Roma. “O centro de operações – acrescenta-se – manteve-se em contato constante com a guarda costeira tunisina durante toda a noite e também ofereceu a disponibilidade de meios navais para apoiar as atividades de resgate tunisinas”.
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Alarmes ignorados, 76 migrantes desaparecidos. Salvação? É ficar agarrados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU