13 Abril 2022
"De onde podemos começar a ter esperança de novo, então? [...]. Naquelas mesas compartilhadas encontramos o sentido de humanidade que a guerra faz perder. Abrir os olhos é uma questão de um instante, um instante de graça em que reconhecemos no outro Jesus vivo ao nosso lado. Um único instante que nos revela que o ódio não vence. E é Páscoa", escreve a evangélica batista Anna Maffei, em artigo publicado por Riforma, revista semanal das igrejas evangélicas batista metodista e valdense, 15-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando os três chegaram à aldeia (Lucas 24, 13-35), para dois deles era chegar em casa. O terceiro, em vez disso, se preparou para continuar a viagem, mas eles o detiveram, não estavam prontos para deixá-lo ir. Eles rapidamente prepararam algo para comer, havia caído a noite, todos pareciam absortos em seus pensamentos. Um turbilhão de acontecimentos... Os dois já não tinham certeza de mais nada. Eles tinham visto seu amigo morrer. Haviam ficado chocados. Haviam se perguntado por que tanto ódio, por que tanta obstinação, não tinha explicação... Depois um homem se juntou a eles e caminhando com eles havia lido os acontecimentos de uma maneira completamente diferente. Oposta.
Entrar na glória, havia dito que aquele sofrimento não havia sido a última palavra, mas havia sido necessária para que Ele entrasse na glória. Em suma, era verdade o que as mulheres tinham dito: ele estava vivo! Não tinham mais certeza de nada, apenas que aquela visão de coisas tão diferente, inesperada, havia como que aquecido seus corações, aberto como um raio de luz na escuridão do presente... À mesa, então, viram o estrangeiro tomar a palavra, abençoar o pão, parti-lo e oferecê-lo. Foi um instante e eles o reconheceram...
O que há nessa história que nos faz amá-la tanto? Eu tento responder, mas não sei. Talvez saber que Jesus também possa se juntar a nós e que, discreto e silencioso, possa nos escutar enquanto debatemos entre nós, tentando entender o que acontece diante de nossos olhos.
Pensar que ele escute as palavras da nossa desorientação. Toda vez que nossas expectativas são frustradas, toda vez que o ódio parece prevalecer - sim, por que tanto ódio? - toda vez que voltamos para casa com a sensação de que o sentido da nossa vida e dos outros nos escapa completamente, bem, gostamos de pensar que exatamente nesses momentos Jesus esteja ali, ao nosso lado, e que seja ele mesmo a nos sugerir uma chave diferente de leitura daquelas usadas por nós até aquele momento.
Isso acontece às vezes. Acontece que uma palavra ouvida ou uma intuição que se infiltra nas brumas de nossa argumentação possa oferecer uma luz diferente e reabrir situações que pareciam fechadas até pouco tempo antes. Acontece quando estamos sozinhos, mas acontece ainda mais quando, em dois ou três, ficamos pensando sobre por que as coisas acontecem - por que tanto ódio? E quando, como crentes incrédulos e desiludidos, prontos para virar as costas e voltar para casa, encontramos a direção da comunidade e a impaciência de voltar a ser comunidade junto com os outros.
O Covid antes, e ainda mais a guerra agora, primeiro nos deixaram sem palavras, depois o ar ficou saturado de palavras, muitas das quais nos confundiram e nos deixaram ainda mais desesperados. Hesitei tremendo em escrever esta palavra, mas como evitá-la? Desesperados sim, porque agora nos desesperamos pensando que, como humanidade, nunca poderemos aprender com os erros e os horrores que deixaram longos rastros de sangue na terra e dor que o tempo nunca conseguiu elaborar completamente.
Desesperados sim, porque numa época em que o chamado da história era cuidar urgentemente da terra, tentando reparar algo do estrago feito, aqui estamos tendo que assistir a destruições e valas comuns, a prevalência da linguagem do ódio. Quem dera cuidar da água, do ar, do mar, quem dera escolher energia limpa!... Agora fala-se novamente em carvão e energia nuclear enquanto na Ucrânia as bombas envenenam tudo e todos como que para impedir que o sol volte a nascer.
Não sabemos quando essa fúria terminará, nem sabemos se os temores de possíveis escaladas continuarão sendo apenas temores. Então eu me pergunto: o que aquela história pode nos dizer hoje? Que força tem para nós? Na minha opinião, a força desta história concentra-se no momento em que Jesus abençoa a comunhão de mesa. Os gestos simples, cotidianos de cuidar do desconhecido acolhido em casa, de repartir o pão e uma palavra de bênção, de colocar tudo sob a graça de Deus que provê vida, este é o momento em que os olhos se abrem, o tempo encontra a eternidade, Deus e o humano se reconhecem, a morte é derrotada e o futuro torna-se novamente possível.
De onde podemos começar a ter esperança de novo, então? Talvez das casas que estão se abrindo em todo o mundo, das mesas postas para aquelas pessoas cansados que precisam de pão e humanidade, das igrejas que tiram os bancos e enchem as salas de camas de armar, daqueles que se tornam famílias para as mães com filhos e filhas em fuga, mas também daquelas mulheres que atravessam as fronteiras ao contrário e retornam para casa para ajudar os mais velhos e os vizinhos que ficaram sozinhos, para partir com eles o pão racionado e partilhar a pouca água que sobrou.
Naquelas mesas compartilhadas encontramos o sentido de humanidade que a guerra faz perder.
Abrir os olhos é uma questão de um instante, um instante de graça em que reconhecemos no outro Jesus vivo ao nosso lado. Um único instante que nos revela que o ódio não vence. E é Páscoa.
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Abrir os olhos em um instante de graça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU