11 Abril 2022
Rito celebrativo nessa quinta-feira, 7, nas valas comuns de Butcha. Quem o presidiu foi Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, arcebispo maior de Kiev e chefe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que visitou as cidades de Irpin, Butcha e Gostomel libertadas da ocupação russa. Em Irpin, o arcebispo visitou a Igreja da Natividade da Bem-Aventurada Virgem e em Butcha rezou em uma das valas comuns em memória “de todos os inocentes mortos pelos ocupantes”.
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada em Servizio Informazione Religiosa (SIR), 08-04-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto
“É muito difícil falar. O sangue deles clama daqui, desta terra, ao céu. E o coração cristão deve ouvir o grito deste sangue.”
“Viemos aqui para rezar pela paz eterna deles”, disse Sua Beatitude Sviatoslav após a missa fúnebre em Butcha, acrescentando que é importante que não apenas a Ucrânia, mas também o mundo inteiro sinta essa dor.
Valas comuns em Butcha, Ucrânia (Foto: Igreja Greco-Católica Ucraniana)
Sua Beatitude Sviatoslav sublinhou que, “se esse pecado não for condenado, se esse crime não for denunciado, pode se repetir”. “Cada um de nós poderia estar nesta vala comum”, disse ele. “Que o Senhor Deus faça repousar as almas dos seus servos inocentes mortos, que possa salvar vidas humanas, que possa proteger a Ucrânia daqueles criminosos que vieram para matar, saquear e destruir. Memória eterna aos inocentes mortos!”, acrescentou o primaz.
Após a libertação das cidades da ocupação russa, centenas de corpos civis torturados e dezenas de valas comuns foram encontradas em muitas cidades ao redor de Kiev, incluindo Irpen, Butcha, Gostomel, Motyzhyn e Borodyanka.
Só em Butcha, segundo o prefeito, Anatoliy Fedoruk, cerca de 300 pessoas foram enterradas em valas comuns, e dezenas de cadáveres jaziam nas ruas em ruínas da cidade, alguns com as mãos amarradas.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que em Borodianka, perto de Kiev, a situação é “muito mais horrível” do que em Butcha. De acordo com a procuradora-geral, Iryna Venediktova, 26 corpos foram encontrados debaixo dos escombros de dois prédios da cidade, enquanto as autoridades locais falavam em 200 desaparecidos.
Também são terríveis as imagens que chegam de Kramatorsk, na região de Donetsk, onde os foguetes russos atingiram a estação ferroviária, causando mortos e feridos.
“Compreendemos cada vez mais – comenta o arcebispo Shevchuk – que o objetivo desta guerra é o extermínio completo.” De fato, civis são alvejados, e são destruídas linhas ferroviárias e estradas que poderiam ser usadas para evacuar as pessoas das áreas inseguras.
“Ontem à noite ouvimos que os ocupantes pararam e confiscaram para as suas necessidades a carga humanitária que os nossos voluntários estavam tentando entregar às pessoas, em particular na região de Kherson, onde as pessoas estão realmente à beira da fome.”
(Foto: Igreja Greco-Católica Ucraniana)
Para ver o que exatamente havia ocorrido, Sua Beatitude Sviatoslav quis ir pessoalmente à pequena cidade de Butcha. A essa experiência, o arcebispo dedicou a mensagem que todos os dias difunde a partir de Kiev.
“Ao lado da vala comum aberta, vi os seus corpos sem vida e rezei pelo seu descanso eterno. E, nessa oração, eu me perguntei e perguntei a Deus: ‘Deus, o que significa te amar e amar o próximo...?’. E, justamente perto daquela vala comum, vendo as mãos dos nossos irmãos e irmãs assassinados, entendi algo, na minha opinião, muito importante: amar o próximo significa sentir afinidade por ele. Significa sentir que, juntos, somos pessoas, pertencemos à mesma família humana. E, onde ele ou ela repousa na vala comum, eu poderia estar.”
“Temos uma vocação comum, um destino comum”, continua o arcebispo. “Assim, todo cristão, não importa onde viva na terra, seja italiano, alemão ou australiano, vendo as atrocidades dos ocupantes em Butcha, diz hoje: ‘Eu sou ucraniano’, porque sente essa união do nosso gênero humano com as vítimas inocentes.”
“Pedimos que sejamos capazes, em meio ao ódio e à guerra que mata, de amar a Deus e ao nosso próximo, e de permanecer humanos.”
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Valas comuns na Ucrânia: “É difícil falar a respeito, o sangue deles clama a nós” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU