07 Fevereiro 2022
O presidente da Conferência Episcopal alemã, Georg Bätzing, não tem dúvidas: Joseph Ratzinger deve pedir desculpas pelos erros que teria cometido quando era arcebispo de Munique em relação aos casos de abuso sexual cometidos por padres da diocese contra menores. Esta é também a opinião de outros prelados. Não concordam com isso, porém, as almas mais conservadoras da Igreja que rejeitam a ideia de que o Papa Emérito tenha algo para se desculpar.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada pelo jornal La Repubblica, 02-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"É absolutamente grotesco mostrar ao mundo o Papa Emérito como um mentiroso" pela questão de "um único evento, 42 anos depois, entre as centenas de reuniões em que ele pode ou não ter participado", disse o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller, em entrevista ao portal Kath.net, comentando sobre o fato de Ratzinger ter participado de uma reunião em Munique na qual foi decidida a posição do padre Peter Hullermann, o abusador em série.
"O Papa Emérito não queria encobrir" a praga da pedofilia, disse o bispo de Passau, Stefan Oster, que em seu site reconstrói o caso explicando que na biografia de Peter Seewald sobre Bento XVI, publicada em 2020, já estava escrito que Ratzinger esteve presente no encontro decisivo em 1980, quando chegou a admissão do padre abusador H. “Portanto, a pesquisa se Seewald já havia revelado a participação de Ratzinger” e “já se sabia que tal encontro não dizia respeito à função de H. na pastoral, mas sua estadia em Munique para a terapia”.
O Vaticano, com um editorial do Vatican News, falou sobre o assunto nos últimos dias, lembrando a luta de Bento XVI contra a pedofilia clerical e ao mesmo tempo sua disposição durante seu pontificado de encontrar e ouvir as vítimas pedindo a elas perdão. Na Alemanha, todos reconhecem o que Bento fez, mas ao mesmo tempo o pedido de desculpas públicas pelos erros do passado torna-se cada vez mais forte. Como se torna mais forte a demanda de que dois importantes episcopados em nível europeu, o italiano e o espanhol, decidam abrir um caminho que os leve a ter um relatório sobre pedofilia externo como aconteceu na Alemanha. Na Itália, conforme antecipado pelo Repubblica, tudo poderia começar após a reunião da CEI em maio.
“As pessoas, como também vimos em muitas partes do mundo, não confiam mais na justiça dentro da Igreja porque as pessoas querem entender o que resulta de fontes independentes e objetivas, então nesse sentido mais cedo ou mais tarde essa exigência virá”, disse nas últimas horas o padre jesuíta Hans Zollner, um dos fundadores do Centro para a Proteção dos Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e um dos maiores especialistas na luta e prevenção de abusos na Igreja.
E ainda: "Ou a Igreja decide fazê-lo por conta própria e decide ordenar investigações a pessoas independentes como aconteceu na Alemanha, na França, como agora irá fazer também a Conferência Episcopal portuguesa, ou em algum momento será forçada porque o Estado, ou alguém em nome do Estado vai exigir tal tipo de processo. Na minha opinião, a alternativa é que ou começamos uma verdadeira luz sobre esses fatos ou outros vão gerir e lidar com esse assunto".
Nas últimas horas, o cardeal Marx, arcebispo de Munique, interveio novamente. Para dizer que "as coisas como estão não podem continuar". Marx argumentou que muitas das dificuldades que os padres vivem hoje também resultam do fato de viverem o celibato: "Para alguns padres seria melhor se fossem casados. Não só por razões sexuais, mas também porque sua vida seria melhor, se não estivessem sozinhos. Esta discussão deve ser enfrentada".
Na Espanha, a previsão de Zollner já é quase uma realidade. Nas últimas horas, de fato, o órgão de gestão da Câmara dos Deputados espanhola (a chamada "Mesa del Congreso") admitiu o pedido de três partidos para criar uma comissão de inquérito sobre possíveis casos de abusos contra menores cometidos no âmbito da Igreja Católica: trata-se de um primeiro passo necessário para permitir que o pedido seja analisado, discutido e votado pelos parlamentares.
O pedido foi apresentado pelo Podemos, um dos dois membros da coalizão de centro-esquerda no poder, e por dois partidos independendistas da Catalunha e dos Países Bascos (Esquerra Republicana e Eh Bildu). Para o ok à comissão de inquérito, será decisivo o voto do Partido Socialista (PSOE), principal membro do governo: a formação do primeiro-ministro Pedro Sánchez deixou em aberto a possibilidade de votar sim, mas não exclui outras possibilidades: “Estamos empenhados em procurar a melhor fórmula possível para responder a esta tão reprovável situação”, disse em coletiva de imprensa a porta-voz do governo, a socialista Isabel Rodríguez.
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Abusos na Igreja. Os bispos alemães e Ratzinger: "Ele deve se desculpar" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU