20 Dezembro 2021
“Com João Batista e Maria como nossos guias, nós podemos nos alegrar – não porque nossos problemas acabaram, mas porque nós vemos o nascimento de Jesus no horizonte”, escreve Claudia Ávila Cosnahan, assessora da Arquidiocese de Los Angeles, em artigo publicado por La Croix International, 15-12-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Poucos anos atrás, eu fui a um retiro na Abadia de Santo André, um mosteiro beneditino da Congregação da Anunciação, em Valyermo, Califórnia, no norte do condado de Los Angeles, no deserto de Mojave.
Os monges seguiam uma adaptação moderna do Ofício Divino e praticavam o silêncio depois da Contemplação após as Laudas da manhã.
Os participantes do retiro tinham acesso a uma sala onde ocorria uma conversação silenciosa, mas nós éramos avisados que o barulho o leva mais longe no deserto, então era aconselhado que nós evitássemos falar, se possível.
Depois de começar o grande silêncio, eu fui à minha sala para escrever. Enquanto eu refletia sobre os movimentos espirituais do dia, eu escutava um barulho de arranhão. Fiquei de pé na cama para espiar por cima de uma fresta no forro e descobri um pequeno rato, congelado de medo e olhando para mim.
Sentei-me novamente e o rato continuou a arranhar aleatoriamente durante a noite. O som parecia ficar mais alto a cada minuto que passava.
Eu não conseguia dormir, preocupada com o rato rastejando, na pior das hipóteses, para a minha cama. Decidi que, em vez disso, ficaria acordada. Eu rezei com as Escrituras por um tempo e terminei a noite com um rosário que finalmente me acalmou para dormir.
Na segunda noite, fiquei surpresa ao descobrir que meu companheiro de quarto, o roedor, ainda estava lá, mas agora olhando para mim pela fresta, observando cada movimento meu enquanto eu observava os dele.
Eu esperava encontrar silêncio e sono reparador na noite do deserto, mas o Espírito tinha planos diferentes para mim. O monge beneditino tinha razão: aprendi que o silêncio do deserto torna os sons mais perceptíveis e que, embora possa ter estado na solidão, nunca estive sozinha.
Durante o mês de dezembro, somos inundados com imagens das maravilhas do inverno, mas a liturgia do Advento nos leva para o deserto.
João Batista surge duas vezes por ano, lembrando-nos do arrependimento, anunciando as Boas Novas e nos preparando para a paixão, morte e ressurreição na Quaresma e para o nascimento de Jesus no Advento. Ele serve como nosso guia porque foi antes de nós.
Podemos imaginar que ele passou muitas noites agitadas sentado no silêncio e na solidão do deserto com Deus, discernindo claramente a voz de Deus e cheio da certeza de que a salvação está aqui.
Com João como nosso guia, podemos sentir alegria em meio à turbulência externa, sabendo que mesmo que as coisas possam ser difíceis, não estamos sozinhos e, como a multidão reunida em torno de João Batista no Evangelho de hoje, podemos estar “cheios de expectativa” pelo futuro (Lucas 3, 15).
Este ano, a festa de Nossa Senhora de Guadalupe caiu no terceiro domingo do Advento. Também celebramos a Imaculada Conceição da Mãe Santíssima alguns dias antes. Pensando em Maria nesta semana do Advento, começo a contemplar o silêncio de seu seio e a solidão de sua gravidez.
Enquanto nosso tempo de Advento dura cerca de quatro semanas, o de Maria durou aproximadamente quarenta – a duração de sua gravidez – começando com a Anunciação. Suas quarenta semanas me lembram de nossos quarenta dias no deserto da Quaresma.
Ao contrário de João Batista, cujas noites agitadas eram causadas pelos desconfortos externos do deserto, podemos imaginar que muitos dos desconfortos de Maria em suas quarenta semanas se deviam aos sintomas internos de sua gravidez.
Com Maria como nossa guia, podemos sentir alegria em meio à turbulência interna, sabendo que, embora estejamos ansiosos, preocupados, com raiva ou deprimidos, não estamos sozinhos em nosso sofrimento. Maria experimenta esse silêncio e essa solidão com Deus; ela está intimamente ligada ao salvador e está “cheia de expectativas” para o futuro (Lucas 3, 15).
Hoje podemos nos alegrar não porque as coisas que nos perturbam chegaram ao fim, mas porque vemos o nascimento de Jesus no horizonte, e esse nascimento tem significado porque sabemos como a vida de Cristo se desenrola. Antecipar seu nascimento é antecipar a crucificação.
A cor rosa da vela do Advento do domingo da Alegria não sugere uma visão ingênua do mundo. Em vez disso, é a púrpura penitente e dolorosa mesclando-se com a alegria da salvação.
É a luz de Deus entrando no silêncio e na solidão.
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Alegrar-se no silêncio e na solidão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU