Por: MpvM | 14 Dezembro 2018
"João Batista propõe, então, atitudes concretas, adequadas para cada um dos grupos: ao povo em geral, ele recomenda a compaixão com os necessitados através da partilha dos bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se corrompam, que não cobrem dos mais pobres valores indevidos; aos soldados, pede que não usem de violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos…
"Todas as recomendações de João Batista são para reparar danos aos irmãos, porque tudo aquilo que prejudica um irmão é contrário a Vontade de Deus."
A reflexão é de Terezinha Cota, religiosa da Congregação Nossa Senhora do Cenáculo. Ela possui graduação e mestrado em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus - CES.
Referêcias bíblicas
1ª Leitura: Sof 3,14-18ª
Salmo – Is 12,2-3.4bcd.5-6
2ª Leitura: Filip 4,4-7
Evangelho: Lc 3,10-18
O Advento nos coloca no compasso da espera, da esperança e da partilha...
Parece-me oportuno considerar a penitência própria do Advento, porque ela não é como a da quaresma.
- Durante a quaresma somos convidados à conversão de nossos pecados.
- Durante o Advento somos convidados a viver com mais dignidade nossa vocação cristã.
A primeira penitência é de reconhecimento de nossa fraqueza, de nossa pecaminosidade, a segunda penitência é para aperfeiçoamento de nosso testemunho cristão, a alegria do despojamento, que nos conduz a partilha à luz de 2 Cor.8,9: “Nós conhecemos a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico se tornou pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (2 Cor 8,9).
A primeira leitura (Sof. 3, 14-18a) é do profeta Sofonias. Ele prega em Jerusalém durante o reinado de Josias (sec. VII a.c.). Manassés, o rei anterior, ergueu altares a deuses estrangeiros e permitiu até que no Templo fosse colocada a imagem da deusa Astarte. Ele acreditava em advinhações e magias e suas injustiças fez sofrer os mais pobres.
Quando Josias sobe ao trono procura combater estas condutas. O profeta Sofonias também ataca a idolatria e as injustiças como graves infidelidades à Aliança, porém sua mensagem não é somente censura, é um apelo à conversão.
O profeta pede ao povo que se volte novamente para Deus e lhe assegura que ao viver os compromissos da Aliança viverá este tempo novo de alegria e felicidade, experimentará a presença e o amor de Deus, será digno das promessas da Salvação. É o próprio amor de Deus que faz com que Judá se volte para os caminhos da Aliança e o próprio Deus se alegra com esta transformação.
Para nós também fica esta certeza: de que é o amor de Deus e não o medo despertado por ameaças que nos introduz por caminhos de conversão e transformação. O medo acentua o fechamento. A experiência do amor suscita superações que nos humanizam, que nos levam ao encontro com os irmãos para a maior comunhão entre nós.
O nosso Bom Deus jamais desiste de vir e de se colocar no meio de nós para realizar a salvação. Será que nossas comunidades cristãs percebem o quanto esta presença amorosa, já é por si mesma, a razão de nossa alegria?
Nosso salmo responsorial (Is 12,2-3.4bcd.5-6) é um cântico do profeta Isaías. Ele fará ecoar a confiança nesta presença amorosa de Deus, que sempre nos traz a salvação. Presença que nos fortalece, nos enche de confiança, gratidão e alegria, que nos faz reconhecer a grandeza de Deus.
O fio condutor entre a primeira leitura, o salmo responsorial e a segunda leitura (Fil. 4,4-7), é a convocação à alegria.
Paulo está na prisão e recebeu a ajuda fraterna da Comunidade de Filipos, por isso escreve-lhes uma carta para manifestar sua gratidão e afeto; dirigi-lhes várias exortações e recomendações. O trecho da Carta aos Filipenses deste domingo é justamente a recomendação à alegria, que para Paulo é algo tão essencial, por isso ele repete duas vezes: “Irmãos: Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos.
A alegria recomendada por Paulo é a mesma que Lucas anunciou aos pastores: “Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma grande alegria que será também para todo o povo: hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!”
A carta de Paulo e este trecho do Evangelho de Lucas apresentam a alegria cristã, ela tem uma razão inabalável: a presença salvadora de Jesus na história da humanidade.
Paulo acrescenta recomendações à bondade, à confiança, à oração de súplica e de ação de graças. Que a chegada do Senhor nos encontre com estas atitudes e, também, na mansidão, na compaixão e no respeito para com os irmãos; na escuta e diálogo com o Senhor.
Não é possível nem esperar, nem acolher se não cultivamos com o Senhor a intimidade, cada dia, através de nosso diálogo contínuo com Ele.
O Evangelho de hoje (Lucas 3, 10-18) tem duas partes: os vers. 10-14 e os vers. 15-18.
Na primeira parte do Evangelho, João Batista apresenta para grupos específicos as pistas concretas para preparar os caminhos do Senhor, para colocar em prática a conversão; na segunda parte compara o batismo na água ao batismo no Espírito.
Encontramos primeiro uma seção própria do evangelista Lucas, marcada pela questão: “... o que devemos fazer?” Ele coloca esta mesma questão em At 2,37; 16,30; 22,10. “O que devemos fazer?” já expressa abertura à salvação que vem de Deus.
João Batista propõe, então, atitudes concretas, adequadas para cada um dos grupos: ao povo em geral, ele recomenda a compaixão com os necessitados através da partilha dos bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se corrompam, que não cobrem dos mais pobres valores indevidos; aos soldados, pede que não usem de violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos…
Todas as recomendações de João Batista são para reparar danos aos irmãos, porque tudo aquilo que prejudica um irmão é contrário a Vontade de Deus.
Na segunda parte do Evangelho, (vers. 15-18), João Batista anuncia o batismo no Espírito Santo. Seu batismo “na água” é uma proposta de conversão; mas o batismo de Jesus consiste em receber a vida de Deus que atua no coração humano e transforma-o por dentro. Para o evangelista Lucas tudo isso se concretizará plenamente no dia de Pentecostes (Atos 2, 1-12).
Diante de uma sociedade onde a desigualdade é escandalosa, os clamores dos excluídos colocam em nossos corações o imperativo da partilha?
A corrupção, a exploração dos trabalhadores, a apropriação ilícita do que pertence aos marginalizados e outras atitudes imorais, não são impedimentos existenciais para acolher o Senhor que vem?
Os atos de violência, que tantas vezes derramam sangue dos inocentes, o descaso e a rejeição aos imigrantes, as traições ao Evangelho por parte de igrejas que se denominam cristãs, não suscitam em nós o desejo ardente de suplicar a conversão?
Ser cristão é ser batizado no Espírito, é ser portador dessa vida de Deus que nos permite testemunhar Jesus e o seu Evangelho. Que em nossa caminhada, opções, decisões e compromissos pessoais, comunitários e solidários, sejam decididos sob a inspiração do Espírito.
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3º domingo do advento - Ano C - Alegrai-vos sempre no Senhor! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU