06 Agosto 2021
“A realidade da nossa vida não brota das nossas crenças, mas das convicções, que, tantas vezes, são iguais às dos mortais comuns”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Religión Digital, 04-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Eis o artigo.
Que realmente manda em nossa vida? As crenças que cada um tem? Ou as convicções que determinam o que cada um faz?
É claro, não é o mesmo falar de um (das crenças) que de outro (as convicções). Como acertadamente explicou Jürgen Habermas (que tomou esta definição de Charles Sanders Peirce), “a convicção consiste principalmente no fato de que um está disposto reflexivamente a deixar-se guiar em sua atividade pela fórmula da qual está convencido” (“Conocimiento e interés”, Ed. Taurus, 1982).
De fato, isso vem nos dizer que nossas crenças expressam o que livremente aceitamos como verdadeiro, por exemplo, nossa religiosidade ou nossa espiritualidade, enquanto que as convicções dizem o que fazemos e o que deixamos de fazer. Por isso – como exemplo – há tantas pessoas que creem firmemente que fumar lhes é prejudicial, porém não tiram o tabaco. Pela simples razão de que ficam na crença. E não passam da crença à convicção. Insisto: cada um faz aquilo que está e no que está convencido.
Por isso, nem mais nem menos, de acordo com o Evangelho de João, Jesus disse aos líderes judeus: “Se não faço as obras do meu Pai, vocês não precisam acreditar em mim. Mas se eu as faço, mesmo que vocês não queiram acreditar em mim, acreditem pelo menos em minhas obras” (Jo 10, 37-38). As “obras” de Jesus não foram apenas os milagres que ele realizou, mas toda a sua vida e atividade (J. Zumstein). Uma vida e uma atividade que intrigaram até mesmo João Batista quando ele estava na prisão (Mt 11,2-6). E se ele confundiu João Batista, não vai nos confundir?
Pois é quando as “crenças” vão para um lado e as “convicções” para outro, inevitavelmente acontece o que estamos vendo: o dano mais importante que pode ser feito ao Cristianismo e à Igreja não é aquele que os que estão de fora, mas o que vem de dentro. Porém, estamos dentro das “crenças”, enquanto as nossas “convicções” são, muitas vezes, aquelas que quase todos têm: viver o melhor possível e usufruir do que está ao nosso alcance nesta vida e de acordo com as nossas “crenças”. O que, é claro, acalma nossa consciência. E não percebemos que a realidade da nossa vida não nasce de crenças, mas de convicções que, tantas vezes, são iguais às dos mortais comuns.
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“Os danos mais graves que a Igreja e o cristianismo sofrem vêm de dentro”. Artigo de José M. Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU