27 Mai 2021
O arcebispo católico de Malines-Bruxelas, que faz a ponte entre as comunidades de língua francesa e flamenga da Bélgica, continua confiante no futuro da Igreja.
A reportagem é de Christophe Henning, publicada por La Croix International, 26-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal belga Jozef De Kesel, que recentemente completou um ano de tratamento contra o câncer, lançou um novo livro que defende o diálogo entre a Igreja e a sociedade.
O arcebispo de Malines-Bruxelas, 73 anos, e primaz da Igreja Católica na Bélgica disse ao La Croix que, apesar de estar debilitado e fatigado pela doença, está ansioso para voltar à praça pública.
Com um jeito leve e um sorriso cativante, ele acolheu o La Croix e o La Libre Belgique para uma entrevista conjunta em sua residência arquiepiscopal em Mechelen (Malines), a cidade flamenga perto de Bruxelas.
Sentamo-nos com ele em uma sala que exibe o “L’Enfance du Christ", um políptico de 11 painéis do artista sacro contemporâneo francês conhecido como Arcabas (1926-2018).
É uma representação comovente da fragilidade do menino Jesus e um exemplo do uso poderoso das cores douradas pelo falecido pintor.
Essa fragilidade é algo que De Kesel, o bispo mais importante da Bélgica, sentiu em sua própria carne.
Em uma mensagem de Páscoa, ele confidenciou aos católicos do país que a sua doença era um convite a parar e a “redescobrir aquilo que corria o risco de ser esquecido pelos hábitos e pela rotina do cotidiano”.
Quinto de nove filhos, ele foi ordenado em 1972 e, durante muitos anos, se dedicou ao ensino.
Formado na Universidade Gregoriana de Roma, foi nomeado bispo auxiliar de Malines-Bruxelas em 2002, para auxiliar o cardeal Godfried Danneels (1933-2019), um homem de quem era próximo.
De Kesel foi nomeado bispo de Bruges em 2010. A diocese estava passando por uma crise depois que o bispo anterior, Roger Vangheluwe, foi forçado a renunciar após admitir que havia abusado de dois sobrinhos menores de idade anos antes.
De Kesel, que é considerado um bispo ao “estilo Francisco”, foi então nomeado chefe da Arquidiocese de Malines-Bruxelas no dia 6 de novembro de 2015. Apenas um ano depois, o papa o nomeou cardeal no primeiro consistório posterior.
Embora o cardeal De Kesel tenha uma carreira eclesial impecável, ele é um homem livre.
Ele sempre alcança o equilíbrio adequado e exibe um bom senso que neutraliza qualquer agressão.
Ele não hesitou em se unir aos outros bispos belgas na crítica à nota da Congregação para a Doutrina da Fé que reafirmava a oposição do Vaticano às bênçãos de casais do mesmo sexo.
Há alguns anos, ele questionou se o celibato dos padres deveria ser mantido a todo custo e continua enfatizando que a Cúria Romana ainda tem uma estrutura muito pesada.
O cardeal exibe o mesmo ardor quando discute com o governo belga sobre questões éticas. Por exemplo, ele ainda milita pelo reconhecimento da cláusula de consciência diante dos pedidos de aborto ou eutanásia que são acessíveis no marco da lei belga.
O que vem por aí para o principal bispo da Bélgica?
“A pandemia nos ensinou que nós somos vulneráveis, responsáveis uns pelos outros”, insiste o cardeal De Kesel.
Recuperado, ele está longe de pensar em se aposentar. Pelo contrário, em tempos bons e maus, ele pretende continuar levando a voz da Igreja não só em nome dos cristãos, mas pela salvação do mundo.
Nada menos do que isso.
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Cardeal Jozef De Kesel, um homem de grande liberdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU