16 Março 2021
“Essa fragilidade onde a Ética e Política se encontram é a nossa verdadeira alternativa, nossa razão e ordem, frente à loucura dessa ultradireita para a qual a vida não vale nada”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 13-03-2021. A tradução é do Cepat.
Não é preciso explicar que a direita neoliberal argentina já se constituiu como tal. Não é verdade que seja necessário ter em frente um governo progressista ou democrático-popular para que empregue sua força. Nem sequer um governo eventualmente inibido em suas possibilidades.
São representantes políticos de um Poder fora do governo que já decidiu que é a própria Democracia que deve ser destruída. Porque a Democracia sempre pode trazer alguma surpresa, um movimento imprevisto que afete os interesses de um Poder que, em tempos de neoliberalismo, deseja ser ilimitado, reproduzir-se sem obstáculos.
No projeto desse Poder, já está delineado que os governos democrático-populares sejam apenas um mero parêntese, um interregno reparador, até que a direita neoliberal retorne. E nem sequer a feroz pandemia atenuou o desejo do Poder de perseverar em seu ser. Por isso, nunca mais haverá oposição, nem pactos de Estado frente às urgências da Nação, nem qualquer dialética possível entre adversários.
É uma direita ultradireitista de cunho goebbeliano, que aperfeiçoa sua artilharia midiática corporativa e judicial, dia a dia. Conta com um dado histórico central: a progressiva dissolução dos chamados interesses objetivos por parte dos setores populares que já se movem, subjetiva e politicamente, por identificações que, por mais confusas que sejam, os reafirmam. E, depois, pela lenta extinção da denominada batalha pelo sentido.
A direita ultradireitista atua fora do sentido. De forma performativa, transforma qualquer sinal separado da verdade em um juízo de existência, em um tempo histórico no qual as notícias são ordens ocultas. Por tudo isso, os governos democráticos e populares devem reunir seus legados históricos sem nostalgia, mas, ao contrário, como fonte de inspiração para desenhar uma atualização ética das experiências populares.
Nunca como agora se tornou uma exigência de primeira ordem vincular a Ética à Política. Não me refiro a uma ética normativa, mas a uma que comece pela própria pessoa. Pelo exame da própria vida em relação à causa que defendemos. Não se trata da considerada função crítica do intelectual, mas, ao contrário, de ser capaz de inclusive pensar contra si mesmo. Porque quando se trata da igualdade e a justiça, nunca estamos à sua altura, sempre estamos nas vésperas.
No entanto, essa fragilidade onde a Ética e Política se encontram é a nossa verdadeira alternativa, nossa razão e ordem, frente à loucura dessa ultradireita para a qual a vida não vale nada.
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A ascensão da ultradireita argentina. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU