18 Fevereiro 2021
Frédéric Mounier, ex-correspondente de La Croix no Vaticano, publicou um novo livro sobre o Papa Francisco, analisando as questões-chave que este se focou desde que se tornou bispo de Roma.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 13-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
É possível resumir um papa e suas ações em menos de 450 páginas?
É exatamente isso que Frédéric Mounier tenta fazer em seu novo livro, “Le Pape qui voulait changer l’Église” (“O Papa que quis mudar a Igreja”, em tradução livre).
Le Pape qui voulait changer l’Église
Mounier, que trabalhou como correspondente do La Croix em Roma e no Vaticano entre 2009-2013, ofereça algumas interessantes chaves para ajudar seus leitores a entender o pontificado do Papa Francisco.
O jornalista francês minuciosamente disseca os primeiros sete anos do Papa argentino, citando uma abundância de fontes, incluindo suas próprias entrevistas com lideranças do Vaticano.
Mounier recorda-nos que o esse papa foi eleito com o implícito mandato de reformar a Cúria Romana que muitos cardeais viam como irreformável e até mesmo uma ineficiente máquina.
E ele percebe que Jorge Mario Bergoglio trouxe uma mudança que pode ser tanto funcional quanto espiritual, a qual o novo papa começa colocando em ação logo que chega à Cátedra de Pedro.
Embora elas não tragam realmente qualquer novo elemento para o pontificado, essas páginas são uma análise temática das questões em jogo como e uma crônica escrita por um observador de longo-prazo da Igreja com uma irreprimível curiosidade daquilo que está acontecendo.
Mounier compartilha memórias pessoais e anedotas dos anos de vaticanista. Uma delas é um jantar em Santo Domingo, em 2011, com o núncio papal da época.
Mounier conta quão atônito ficou, poucos anos depois, quando descobriu que o núncio que o recebeu havia sido afastado de suas responsabilidades, pois fora acusado de pedofilia.
O trabalho do Papa é pesado e obstaculizado por aqueles que querem “matar o pontificado”, escreve Mounier.
O antigo correspondente vaticanista disse que o trabalho também é impedido pelos repetidos escândalos que irromperam nos anos recentes, sejam esses de má gestão dos casos de abusos sexuais nas dioceses, ou a explosão de escândalos financeiros no menor Estado do mundo.
Essas são situações que o Papa Francisco está tentando resolver, explica Mounier.
E ele pontuou que os esforços do Papa atrapalharam alguns observadores, incluindo aqueles que gastaram muitos anos analisando a vida da Igreja e os trabalhos do Vaticano.
Francisco é de fato um “papa desconcertante”, mesmo para os estudiosos do Vaticano que às vezes pensam que podem prever o comportamento do Pontífice.
Ele é desconcertante, em primeiro lugar, pela atenção constante que dá às chamadas periferias.
Francisco fez inúmeras viagens às “periferias geográficas” do mundo, desde 2013.
Também prestou particular atenção às “periferias existenciais”, colocando os migrantes no centro das suas preocupações, desde a primeira e extremamente surpreendente viagem a Lampedusa, algumas semanas após a sua eleição.
Francisco também é o papa de “paradoxos enigmáticos”, algo que não escapa aos olhos observadores e perspicazes de Mounier.
“Pastor gentil e chefe duro, sério e sorridente, espontâneo e autocontrolado, caseiro, mas viajante, apaixonado por sua Igreja e unido a ela, nem conservador, nem progressista, apreciado por quem não gosta de Papas e repelido por muitos amantes de Papas”, é a maneira como Mounier resume o paradoxal Francisco e seu pontificado complexo.
Ao longo de seu livro, Mounier oferece uma descrição incomparável dos costumes e tradições do Vaticano e o que ele chama de “muro de algodão” que o cerca.
Ele chama isso de uma espécie de almofada espessa e silenciadora, que garante trocas abafadas e protege o microcosmo do Vaticano de qualquer explosão de vozes... mas sem protegê-lo da violência das lutas pelo poder.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Chaves para entender um pontificado inesperado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU