24 Abril 2013
A Universidade Gregoriana propôs, na última sexta-feira, uma análise da filiação jesuíta do Papa Francisco. Eleito papa, o cardeal Bergoglio testemunha o seu próprio carisma aos filhos de Santo Inácio. Mantendo uma proximidade pessoal real com aqueles com os quais se encontra e ao mesmo tempo dando os primeiros sinais de um governo forte, o Papa Francisco define um novo tipo de autoridade pontifícia.
A reportagem é de Frédéric Mounier, publicada no jornal La Croix, 22-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O Papa Francisco não pode ter perdido aquilo que o formou". O padre Gianfranco Ghirlanda é jesuíta, especialista em direito canônico, consultor de oito dicastérios da Cúria Romana. Reitor, de 2004 a 2010, da prestigiada pontifícia universidade jesuíta, a Gregoriana, ele participou na sexta-feira de um encontro sobre o tema: "Papa Francisco, um mês depois", em um auditório lotado da universidade.
Qual é o olhar dos jesuítas sobre esse papa jesuíta? Certamente, o pontífice quis que, no seu brasão, figurasse o monograma da Companhia: o sol com as três letras IHS (Iesus hominum Salvator: Jesus Salvador dos homens). Assim, a "assinatura" jesuíta aparece no centro do sinal pontifício.
Mas, concretamente, como o Papa Francisco coloca em prática o "programa" jesuíta que, segundo o padre Ghirlanda, não foi apagado com a sua eleição? "O que importa é o carisma próprio da Companhia, sua forma de pensar e de agir", é a sua análise, embora salientando que nenhuma vez, há um mês, o papa citou Inácio de Loyola, nem os Exercícios Espirituais, matriz da formação jesuíta.
Porém, "quem não seguiu os Exercícios não pode compreender os jesuítas", insistiu o padre Ghirlanda, recordando duas de suas características: a importância da Cruz, de fato muito presente nas intervenções públicas do Papa Francisco, diante do pecado, seja coletivo como pessoal; e a Ressurreição, considerada como "mais existencial do que intelectual", sobre a qual o papa não deixou de insistir, para levar cada um a escolher o seu próprio caminho sob o olhar de Deus.
Fundamentado nessa base espiritual, o ser jesuíta, como disse ainda o padre Ghirlanda e como se pôde constatar nesse primeiro mês de pontificado, é feito de "simplicidade na palavra, de ausência de pompa e de proximidade pessoal".
Essa proximidade foi enfatizada pelo padre Miguel Yanez, jesuíta argentino e especialista em teologia moral, formado nos anos 1970 na Argentina pelo padre Bergoglio, então jovem (33 anos) provincial dos jesuítas. "Acima de tudo, ele sabia o que fazia. A sua liderança era real, principalmente naqueles anos pós-conciliares bastante desconcertantes", explica. "A nossa formação era concebida por ele o mais próxima possível da cultura das pessoas. Bergoglio queria que ela também fosse alimentada pela história e pela literatura".
"Mesmo que a sua teologia não fosse uma 'Teologia da libertação'", lembra o padre Yanez, "ela era, no entanto, uma 'teologia do povo', que levava em conta todos os aspectos da religião popular e mariana". Portanto, "era no contato permanente com as pessoas comuns" que Bergoglio "alimentava a formação que queria para nós", contou o padre Yanez.
Mais prosaicamente, o jesuíta argentino lembra uma anedota. Embora fosse cardeal de Buenos Aires, Dom Bergoglio foi almoçar no seminário e foi convidado pelo reitor para tomar a palavra diante dos seminaristas, ao término da refeição. "Vão lavar os pratos!", respondeu, dando ele mesmo o exemplo.
Mais seriamente, o padre Ghirlanda observou que "essa humildade não é sinônimo de fraqueza": "O governo jesuíta é forte e decidido". Vimos isso por ocasião da nomeação pelo papa, no dia 13 de abril, do grupo de oito cardeais encarregados de aconselhá-lo no governo da Igreja e na reforma da Cúria: um simples comunicado dessa decisão substituiu o habitual aparato jurídico, pesado e lento, típico da Cúria.
Na Casa Santa Marta, onde o Papa Francisco continua residindo, prosseguem as consultas informais, como prelúdio para um discernimento alimentando tanto de oração, quanto de vários contatos. As homilias cotidianas na capela de Santa Marta, diante de uma "verdadeira" assembleia, alimentam um "mini-Magistério" do novo "pároco do mundo".
Os observadores também notaram que, desde a sua eleição, o Papa Francisco ainda não falou dos "temas sensíveis", ou seja, aqueles da moral privada. Ele se comporta, desse modo, como um verdadeiro diretor espiritual, um carisma habitual para os jesuítas, mas desta vez em nível mundial. A sua pastoral, ousadamente fundada na mensagem do Evangelho, dá prioridade à misericórdia, à acolhida de todos, independentemente do peso dos seus pecados.
É exatamente isso que chamou a atenção de Emma Fattorini, senadora italiana (PD) e especialista em história da Igreja. Na sexta-feira, ela destacou, "no meio da falta completa dos nossos valores", a "proximidade do testemunho do Papa Francisco". Ele soube, a seu ver, "responder à acusação de fundo contra a Igreja, denunciando a incoerência entre o que é dito e o que é vivido, que tanto minou a credibilidade da Igreja".
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Um olhar jesuíta sobre o papa jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU