16 Fevereiro 2021
Em vez de ignorar informações e notícias das mídias sociais, é preciso adquirir habilidades para detectar a desinformação.
O comentário é de Francis Chisembe Chishala, padre jesuíta, educador midiático e relações públicas em várias universidades e faculdades no Zâmbia.
O artigo foi publicado em La Croix International, 15-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O advento e o surgimento da tecnologia da informação e da comunicação na forma da internet mudou completamente o modo como o jornalismo e as relações públicas são feitos.
Surgiu um novo papel para o jornalismo cidadão, levantando grandes desafios legais e éticos para a profissão, ao mesmo tempo em que se promove o acesso às plataformas de mídia e a diversificação de vozes como um direito humano.
Com isso, um fantasma ronda sob a forma da desinformação e das fake news, erroneamente consideradas como sinônimos de novas mídias e mídias sociais.
Isso exigiu uma autocensura no terreno não regulamentado das novas mídias, por meio de reportagens responsivas por parte de cidadãos patriotas.
As novas mídias e as mídias sociais são os novos veículos midiáticos que as empresas de mídia utilizam lado a lado com a mídia tradicional na disseminação de informações e notícias.
As novas mídias e as mídias sociais são facilmente acessadas pela maioria das pessoas de uma forma mais simples e acessível.
Aqueles a quem chamamos de Geração X e Millennials, que têm acesso à internet, consomem informações e notícias usando novas tecnologias em seus celulares, tablets, laptops e computadores.
Apesar desses meios da internet, a plataforma tem seus próprios desafios principalmente no que diz respeito à credibilidade, responsividade e confiabilidade das informações e notícias.
O fato de a internet ser uma plataforma de livre acesso para o exercício da liberdade de expressão muitas vezes se esbarra com abusos e práticas antiéticas e ilegais por parte de disseminadores de informações e notícias.
A realidade é que a internet tornou mais fácil para todas as pessoas serem produtoras e consumidoras de mídia ao mesmo tempo. Consequentemente, isso muda a forma como o jornalismo e as relações públicas são feitos na mídia e na prática tradicionais.
Temos agora a realidade do jornalismo cidadão, o que significa que pessoas não treinadas também podem repercutir informações e notícias nas novas mídias e nas mídias sociais, revelando que as informações e as notícias não podem mais ser controladas por padrões jornalísticos e profissionais.
Esse processo comprometeu a qualidade e a precisão das informações e das notícias.
Aqueles de nós que defendem os direitos digitais veem oportunidades para uma liberdade total de expressão com esse novo arranjo de espaços livres e não regulamentados.
Em relação aos direitos humanos, nos quais os indivíduos têm igual acesso à mídia, esse novo arranjo de jornalismo cidadão é uma vantagem.
O jornalismo cidadão, portanto, é um paradoxo em que as informações e as notícias podem ser comprometidas e, ao mesmo tempo, pode-se remover o controle e a regulamentação das mídias, resultando em um acesso total às mídias para a melhoria da democracia.
É incorreto associar a desinformação e as fake news às novas mídias e às mídias sociais. Concordamos que a desinformação e as fake news se tornaram mais evidentes com as novas mídias e as mídias sociais, mas nem todas as notícias das novas mídias e das mídias sociais se enquadram nessas categorias.
As novas mídias e as mídias sociais não devem ser demonizadas pela realidade das fake news e da desinformação, mas devem ser princípios necessários dos direitos humanos, nos quais uma diversidade de vozes não é entregue apenas nas mãos de jornalistas e especialistas, mas de todos.
Embora o ônus recaia sobre as empresas de comunicação nas mídias tradicionais para efetuar a precisão, a veracidade e o equilíbrio das notícias, essa responsabilidade deveria ser transferida aos cidadãos, que são tanto codificadores quanto decodificadores de conteúdo nessa disseminação de novas mídias e mídias sociais.
Em primeiro lugar, como cidadãos, deveríamos ser capazes de praticar, por meio do dom da razão, a autocensura na codificação de informações e notícias nas novas mídias e nas mídias sociais.
A sociedade espera que, como cidadãos, vivamos de acordo com certos padrões éticos e morais, por exemplo, “não causar danos” em todos os níveis de existência e engajamento. É responsabilidade de cada cidadão agir de maneira justa e íntegra, mesmo nas novas mídias e nas mídias sociais.
Devemos desistir de codificar informações que sejam tendenciosas, divisivas, falsas, partidárias ou mera propaganda. Devemos fazer a nossa própria pesquisa, verificar fatos e opiniões. Temos que tentar, por todos os meios, ser o mais objetivos possível e, quando compartilharmos opiniões, elas devem ser atribuídas como tais.
O problema é nos apressarmos em publicar aquilo que não submetemos a um escrutínio, como boatos e propagandas. Devemos evitar ser alarmistas e propagandistas. Fatos devem ser fatos, e opiniões devem ser opiniões.
O acesso às mídias nos concede o direito de nos expressarmos sem sanções, mas isso não significa que podemos passar a publicar informações não verificadas e fake news.
Como cidadãos, nós deveríamos saber que temos acesso a públicos maiores, que exigem que aprimoremos o nosso esforço de reportagem como colaboradores e consumidores atenciosos de conteúdo midiático.
Portanto, não é apenas o jornalismo, as relações públicas e outras práticas profissionais que exigem adesão ética e legal, mas também é uma obrigação de todo bom cidadão. Não há desculpa para que produtores e consumidores de conteúdo midiático em novas mídias e mídias sociais ajam ou se comportem de outra forma.
Em segundo lugar, precisamos ter as habilidades e a capacidade de identificar a desinformação e as fake news. Tem-se argumentado que as informações e as notícias nas novas mídias e nas mídias sociais não devem ser levadas a sério como se faria com as mídias tradicionais.
Bem, isso seria problemático, porque até mesmo as mídias tradicionais agora têm que reproduzir nas novas mídias e nas mídias sociais aquilo que é codificado nas mídias tradicionais.
O problema com o argumento de não levar a sério as informações nas novas mídias e nas mídias sociais é que agora cada vez mais pessoas consomem conteúdo midiático nessas plataformas.
E, além disso, as mídias tradicionais consideram a internet como uma fonte valiosa de informações e notícias – o que significa que agora ela é importante por causa dos seus atributos de conveniência, imediaticidade e engajamento.
O que é importante e necessário agora não é a necessidade de ignorar informações e notícias das novas mídias e das mídias sociais, mas ser capaz de se proteger em relação àquilo que consumimos e encontramos nessas plataformas.
Isso significa que devemos adquirir capacidades e habilidades para detectar a desinformação e as fake news nas novas mídias e nas mídias sociais.
Quais são as ferramentas disponíveis para detectar a desinformação e as fake news atualmente no mundo? A razão e o conhecimento. Diz-se que conhecimento é poder. Como cidadãos, devemos ter a atitude de aprender e fazer as coisas certas. Precisamos ter uma mente crítica que pondere as coisas.
Nosso raciocínio e conhecimento deveriam ser informados pelos valores consagrados nas nossas culturas e na nossa fé. Eles também precisam ser informados por valores conservados na nossa sociedade e nação em geral.
Portanto, devemos recorrer à nossa cultura, educação, fé ou experiência quando estivermos resolvendo dilemas morais e éticos na execução de deveres e responsabilidades.
As novas mídias e as mídias sociais são os novos caminhos para exercer a cautela e o cuidado em relação àquilo que compartilhamos e consumimos.
O ônus recai sobre nós, como cidadãos. Se a sociedade espera que ajamos de maneira justa e correta, então não podemos nos dar ao luxo de ser irresponsáveis e despretensiosos nas novas mídias e nas plataformas de mídia social.
Ser jornalistas cidadãos não é uma desculpa para negar a ética, a moral e o cumprimento da lei. Em vez disso, é uma oportunidade para desmistificar a ideia de que a disseminação de informações e notícias é uma prerrogativa dos jornalistas e dos relações públicas.
Ao sermos disseminadores de informação e notícias online, estamos na verdade exercendo os nossos direitos humanos e a nossa liberdade de expressão como cidadãos em um regime democrático que diversifica as vozes públicas.
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O paradoxo das mídias sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU