17 Dezembro 2020
Até agora o país geria quase metade dos resíduos sólidos globais de todo o mundo. Agora tem que lidar com suas mais de 200.000 toneladas de resíduos. Receios por novos mercados, nem sempre regulamentados, no Sudeste Asiático e na Turquia.
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 16-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em algumas semanas terminará uma era, a era da China "lata de lixo" do mundo, e um novo e complicado futuro começará oficialmente para os resíduos sólidos de todo o planeta. A partir de 1º de janeiro de 2021, a China proibirá todas as importações de resíduos sólidos de outros países, bem como o descarregamento, armazenamento e descarte de resíduos estrangeiros em território chinês. Uma mudança histórica para uma nação que desde a década de 1980 cuida do descarte e da reciclagem de resíduos do mundo todo.
Nos últimos três anos, as políticas "verdes" chinesas iniciaram um percurso claro, primeiro com a proibição de importação de 24 tipos de resíduos sólidos, incluindo papel não separado e têxteis, e depois com plástico e outros materiais. Em 2017, a China havia processado quase metade dos produtos reciclados de todo o mundo, cerca de 45 milhões de toneladas por ano de metal, plástico e papel. Depois esses números começaram a cair drasticamente: 22,63 milhões de toneladas em 2018, 13,48 milhões em 2019 e este ano, até novembro, apenas 7,18 milhões, com queda de 41% ao ano.
A proibição total terá início no ano que vem, o que poderá ser uma oportunidade para vários países do mundo começarem a repensar como reduzir drasticamente algumas produções e descartes de materiais, mas que também pode se tornar um bumerangue para a gestão de resíduos globais. De fato, vários países asiáticos - sublinhou um recente relatório do Greenpeace - da Malásia ao Vietname, da Tailândia à Indonésia, começaram a lidar com resíduos estrangeiros, muitos dos quais provenientes da Europa, com sistemas de eliminação que nem sempre são cristalinos.
E isso é um problema: por exemplo na batalha ligada à gestão do plástico, material do qual apenas 9% é totalmente reciclado e recuperado no mundo, o fato de toneladas de novos resíduos plásticos da Europa aos Estados Unidos poderem acabar nos países do sudeste asiático preocupa pela saúde do planeta, alerta o Greenpeace. Entre outras coisas, justamente esses países abrigam a maioria dos 10 rios mais poluídos e prejudiciais para o transporte de plástico para o mar e seus frágeis ecossistemas.
Também a Itália, segundo relatório do Greenpeace, não está isenta desses mecanismos, já que está em décimo primeiro lugar entre os maiores exportadores de resíduos plásticos do mundo. Em 2018 foram exportadas 197 mil toneladas para o estrangeiro, num volume de negócios de 58,9 milhões de euros e no ano passado, por exemplo, pelo menos 1300 toneladas de plástico foram para a Malásia.
Na China, um dos países mais impactantes do mundo em termos de emissões com efeito climático e que hoje assume um forte compromisso em favor do meio ambiente, cresce a consciência da questão ecológica, tanto que apesar de muitas economias locais se basearem justamente na importação de resíduos, a nova proibição é saudada em quase todos os lugares como positiva para o futuro verde do país, uma "vitória", como a definiu Qiu Qiwen, chefe do departamento de resíduos sólidos e químicos do Ministério de Ecologia e Meio Ambiente (MEE).
Para associações ambientais chinesas, como o Greenpeace Ásia, é “uma oportunidade para todos os países reduzirem a produção de resíduos. Esse veto aumenta a pressão sobre os países exportadores de resíduos para refletirem sobre como produzir menos, que é a verdadeira solução para a crise que estamos enfrentando".
O que é preocupante, no entanto, é o fato de quem será agora, com a entrada em vigor da proibição total, que irá cuidar das enormes quantidades de resíduos de plástico, metal e papel, vindos de todo o mundo. Relatos de ambientalistas indicam que já após os primeiros bloqueios chineses “a maior parte do plástico foi para países e regiões menos regulamentadas sobre esses materiais e no Sudeste Asiático que, em especial, não tem restrições adequadas para impedir importações excessivas, ou capacidades reais para lidar com todo esse lixo."
Estima-se que nas últimas décadas a China tenha lidado com quase 95% do plástico usado na União Europeia e 70% dos Estados Unidos: é, portanto, óbvio que hoje, apesar da produção global de resíduos plásticos esteja diminuindo, muito desse material deva encontrar novos mercados para exportação.
Toneladas de plástico agora estão indo para o Sudeste Asiático, Oriente Médio e Turquia, mas nem sempre legalmente. No final de novembro, na Itália, no porto de Cagliari, foram apreendidos dois contêineres carregados com resíduos plásticos: estavam sendo enviados para a Turquia como material ex novo para a indústria de plásticos, mas na realidade se tratava de resíduos plásticos originados por operações de processamento. Segundo os Carabinieri do Noe, após o primeiro bloqueio chinês está em curso uma intensificação dessas exportações de resíduos plásticos da Itália para os países do Leste Europeu e da Ásia.
Um problema, o da gestão dos resíduos estrangeiros, que para a China a partir de 1 de janeiro não será mais da sua conta. Na verdade, a produção de resíduos internos no país cresceu exponencialmente e agora a China passará a lidar exclusivamente com seus resíduos sólidos: fala-se de cerca de 215 milhões de toneladas por ano, que depois irão para incineradores e aterros. De acordo com China Business News, apenas entre 20 e 30% dos resíduos plásticos chineses são realmente reciclados, mas para remediar essas deficiências, desde 2019 a China já concentrou novos recursos econômicos, mais de 15 bilhões de euros, para uma gestão mais eficaz de seus próprios resíduos. Onze cidades e cinco áreas metropolitanas foram selecionadas para iniciar programas de lixo zero, reciclagem e redução de resíduos.
Políticas que, além das promessas de emissão zero até 2060, vêm acompanhadas de iniciativas vinculadas, por exemplo, a sacolas não biodegradáveis proibidas desde janeiro nas grandes cidades, ou várias proibições de materiais não recicláveis. Os chineses, portanto, decidiram encerrar uma era para começar outra, mais verde e respeitosa com o meio ambiente, dizem, passando agora a bola para outros países, chamados a uma redução global de resíduos.
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A China proíbe a importação de resíduos a partir de 1º de janeiro. Para onde irão agora? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU