19 Dezembro 2019
Levantamento do WWF mostra os maiores produtores de lixo plástico. O Brasil está em 4º lugar no ranking. Não bastasse estar bem posicionado em uma lista negativa, o País ainda lidera o ranking dos que menos reciclam entre os dez maiores poluidores.
A reportagem é de João Lara Mesquita, publicada por O Estado de S. Paulo, 10-12-2019.
A pesquisa foi baseada no “What a Waste 2.0: A Global Snapshot of Solid Waste Management to 2050”, um estudo do Banco Mundial. O WWF analisou dados de mais de 200 países. Estados Unidos, China e Índia, nessa ordem, são os maiores poluidores. Abaixo do Brasil, estão Indonésia, Rússia, Alemanha, Reino Unido, Japão e Canadá. Eles ocupam, respectivamente, do 5º ao 10º lugar.
(Fonte: WWF)
O Brasil produz 11,35 milhões de toneladas anuais de lixo plástico. Mas recicla apenas 145 mil toneladas, 1,28% do total. O País só não está mais “feio nessa fotografia” graças a Estados Unidos e China, as maiores potências mundiais. Os maiores produtores de lixo plástico, os norte-americanos reciclam 34,6% do lixo plástico. Contudo, a produção anual é alta: mais de 70 milhões de toneladas. Já a China recicla 21,92% das 54,7 milhões de toneladas que produz por ano. Ou seja, esses países reciclam um volume superior ao total de lixo produzido no Brasil. Mas deixam de reciclar um volume ainda maior. Nos Estados Unidos, são mais de 45 milhões de toneladas anuais não recicladas. Na China, mais de 42 milhões.
A média mundial de reciclagem plástica é de 9%. Mas, no ranking dos dez maiores poluidores, não é apenas o Brasil que recicla menos que a média. Índia (5,73%), Indonésia (3,66%), Rússia (3,58%) e Japão (5,68%) também estão bem abaixo dela. Do total de resíduos plásticos produzidos no Brasil, 91% são coletados, segundo o WWF. Mas, no final, quase 8 milhões de toneladas não são reaproveitadas. Vão parar em aterros sanitários. Outras 2,4 milhões de toneladas são descartadas em lixões a céu aberto.
“Nosso método atual de produzir, usar e descartar o plástico está fundamentalmente falido. Os maiores produtores de lixo plástico ainda não conseguiram debelar o problema. É um sistema sem responsabilidade. E atualmente opera de uma maneira que praticamente garante que volumes cada vez maiores de plástico vazem para a natureza”, disse Marco Lambertini, diretor-geral do WWF-Internacional. A instituição deixa claro, no entanto, que plástico não é “inerentemente nocivo”. Gera milhares de benefícios para a sociedade. “Infelizmente, a maneira com a qual indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o converteu em uma conveniência descartável transformou esta inovação em um desastre ambiental.”
O estudo aponta que, sem uma mudança radical, mais de 104 milhões de toneladas de plástico irão poluir os ecossistemas até 2030. E que, atualmente, mais de 10 milhões de toneladas já chegam aos oceanos todos os anos. “O que equivale a 23 mil aviões Boeing 747 pousando nos mares e oceanos todos os anos. São mais de 60 por dia. Nesse ritmo, até 2030, encontraremos o equivalente a 26 mil garrafas de plástico no mar a cada km2”. Não por outro motivo, estudos mostram que em 2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos.
Plástico nos oceanos. (Foto: Troy Mayne / WWF)
“Estimativas indicam que, desde 1950, mais de 160 milhões de toneladas de plástico já foram depositadas nos oceanos de todo o mundo. O material já está em nossa cadeia alimentar. Ainda assim, estudos indicam que a poluição de plástico nos ecossistemas terrestres pode ser pelo menos quatro vezes maior do que nos oceanos. Aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foi criada após 2000. Este problema tem apenas algumas décadas. Mas, ainda assim, 75% de todo o plástico produzido já foi descartado.”
“No Brasil, a maior parte do lixo marinho encontrado no litoral é plástico. Nas últimas décadas, o aumento de consumo de pescados aumentou em quase 200%. As pesquisas realizadas no País comprovaram que os frutos do mar têm alto índice de toxinas pesadas geradas a partir do plástico em seu organismo, portanto, há impacto direto dos plásticos na saúde humana. Até as colônias de corais – que são as ‘florestas submarinas’ – estão morrendo. É preciso lembrar que os oceanos são responsáveis por 54,7% de todo o oxigênio da Terra”, disse Anna Carolina Lobo, gerente do Programa Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil. Mas, apesar disso, e devido ao aquecimento global, os oceanos estão sufocados, e cada vez com níveis menores de oxigênio.
Segundo o WWF, os principais danos do plástico à natureza podem ser listados como estrangulamento, ingestão e danos ao habitat. “O estrangulamento de animais por pedaços de plástico já foi registrado em mais de 270 espécies, incluindo mamíferos, répteis, pássaros e peixes, ocasionando desde lesões agudas e até crônicas, ou mesmo a morte. Esse estrangulamento é hoje uma das maiores ameaças à vida selvagem e conservação da biodiversidade. A ingestão de plástico já foi registrada em mais de 240 espécies. A maior parte dos animais desenvolve úlceras e bloqueios digestivos que resultam em morte, uma vez que o plástico muitas vezes não consegue passar por seu sistema digestivo.”
Embora os impactos na saúde humana ainda sejam desconhecidos, várias pesquisas mostram que as pessoas têm consumido muito micro e nanoplástico. Até no sal que usamos na cozinha há partículas de plástico. “A probabilidade é maior com frutos do mar, especialmente mariscos, mexilhões e ostras. Há diversas outras fontes de contaminação. Um estudo recente sobre água engarrafada constatou a contaminação por microplásticos de 93% das garrafas, provenientes de 11 marcas diferentes em nove países”, lembra o estudo do WWF.
Microplásticos também são liberados durante a lavagem de roupas e nanoplásticos utilizados em produtos cosméticos podem se acumular nas redes de esgoto. “Os processos de tratamento de esgoto removem muitas dessas partículas plásticas, que se tornam um subproduto do lodo residual. Esse lodo é muitas vezes utilizado como fertilizante, fazendo com que milhares de toneladas métricas de microplásticos sejam despejadas no solo a cada ano. Contudo, as estações de tratamento de esgoto não são capazes atualmente de remover todas as partículas das águas residuais antes que sejam devolvidas ao ambiente ou ao sistema hídrico municipal.”
O WWF indica que a poluição plástica causa um prejuízo bilionário à economia mundial: mais de US$ 8 bilhões. Os principais setores afetados são o pesqueiro, o comércio marítimo e o turismo. “Enquanto o lixo plástico nos oceanos prejudica barcos e navios utilizados na pesca e no comércio marítimo, o plástico nas águas vem reduzindo o número de turistas em áreas mais expostas, como Havaí, Ilhas Maldivas e Coréia do Sul.”
A produção mundial de plásticos atingiu 396 milhões de toneladas em 2016, diz a entidade, baseada nos últimos dados disponíveis para elaborar o estudo. “A produção de plástico em 2016 resultou em aproximadamente 2 bilhões de toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono (que causa o efeito estufa e o aquecimento global), o que equivale a quase 6% das emissões mundiais de dióxido de carbono por ano. Se toda a capacidade estimada para produção de plástico for construída, a produção atual poderá aumentar em 40% até 2030.”
O levantamento do WWF mostra que apenas 20% dos resíduos plásticos são encaminhados para reciclagem, em âmbito global. “Em 2016, 39% dos resíduos plásticos foram enviados diretamente para os aterros, onde são necessários 400 anos para que se decomponham. A incineração industrial é utilizada para tratar 15% dos resíduos, o que emite 2,7 toneladas métricas de dióxido de carbono na atmosfera para cada tonelada métrica de resíduo plástico incinerado.”
Diante desses dados, a instituição dá as seguintes orientações para os consumidores: “Acione seus representantes no governo para garantir que adotem medidas para a redução, reciclagem e gestão dos resíduos plásticos de forma transparente e responsável. Faça uso de seu poder de consumidor e exija que as indústrias demonstrem liderança através da redução da dependência do plástico descartável e desnecessário, enquanto investem em alternativas ecologicamente viáveis. Reduza seu consumo de plásticos desnecessários, além de reutilizar e reciclar o que for utilizado.”
Apesar destes alertas em escala mundial, o Brasil ainda não tem qualquer política eficiente em nível de Estado para o problema apesar de ser um dos maiores produtores de lixo plástico. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, dos tempos de Lula, é um tremendo fracasso. Hoje, alguns Estados e municípios proíbem certos materiais plásticos, como canudinhos, por exemplo. Mas é muito pouco para o nível da catástrofe que se avizinha. Passado quase um ano da nova administração, o Ministério do Meio Ambiente continua perdido em polêmicas menores com ONGs e ativistas, esquecendo-se de tomar providências para minimizar o problema. E a indústria do plástico no Brasil, apesar de pujante, diz que o problema não é com ela. Enquanto não agimos, a África lidera o banimento do material no mundo.
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Maiores produtores de lixo plástico: Brasil em 4º lugar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU