19 Novembro 2020
Das 45 candidaturas evangélicas na disputa em 21 capitais, nove foram para o segundo turno e apenas três venceram o primeiro turno das eleições.
A reportagem é de Cida de Oliveira, publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 18-11-2020.
A expectativa de repetir nas eleições de 2020 a onda ultra conservadora de 2018 motivou evangélicos, militares e policiais a costurar dobradinhas em 45 candidaturas para disputar a prefeitura de 21 capitais brasileiras. O que se viu nesse primeiro turno, no último dia 15, foram candidatos a prefeito evangélicos, usando títulos como “pastor”, pastora”, “missionária” e “apóstolo”, em muitos casos com vices ligados ao Exército e às polícias, usando “capitão”, “coronel” e “delegado” antes de seus nomes. Há também o oposto, em que os evangélicos aparecem como vice. E candidatos que, embora não se declarem oficialmente como evangélicos, têm o apoio dessas igrejas e suas lideranças.
No entanto, somente três dessas candidaturas saíram vitoriosas no primeiro turno das eleições e nove vão disputar o segundo. As demais obtiveram colocações que vão do terceiro lugar até o último na contagem dos votos.
Os resultados sugerem o arrefecimento da onda ultraconservadora que não durou dois anos. E mais do que isso, o desgaste, principalmente nas capitais, do discurso antidemocrático que ganhou força com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e culminou com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.
Os ataques à democracia seguiam com força nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro e em atos promovidos por bolsonaristas, como os que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). “Mesmo com o Exército ‘batendo cabeça’ e desdenhando da pandemia e da doença junto com governo, a onda antidemocrática prosseguia. Mas veio a derrota de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, com a divulgação das suas atrocidades, seu desdém pela doença, suas vítimas. O impacto foi tão grande que na semana passada tinha militar querendo abafar as falas de Bolsonaro nesse sentido”, disse à RBA o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da Sociologia e Política – Escola de Humanidades (a antiga Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).
Segundo Ramirez, a força da pandemia, com mais de 166 mil mortos e quase 6 milhões de infectados no Brasil, enfraqueceu as promessas dos pastores neopentecostais em relação à cura da covid-19. E também a confiança no presidente Bolsonaro. Líderes evangélicos aliados ao governo e sua necropolítica, ou com a aliança estremecida, pregaram que Jesus pode curar a doença. Ou passaram a comercializar nas igrejas produtos “consagrados” capazes de derrotar o novo coronavírus.
“Mesmo com tudo isso, os fiéis viam familiares, parentes e amigos sendo afetados, muitos de maneira grave, com morte. Isso foi levando todo apoio ao colapso. Ficou claro para essas pessoas que a democracia é o caminho, e não a religião”, afirma.
Na avaliação do sociólogo, são grandes as chances de, a exemplo de Trump, Bolsonaro vir a ser derrotado pela pandemia. O discurso presidencial é descolado da realidade, quando a retomada das restrições já estão sendo consideradas pelos governos estaduais. “O discurso era de que tudo estava sob controle, que havia exageros quanto a medidas preventivas e que era preciso aumentar a flexibilização. Ficou claro que o aumento do contágio é fruto da política de um governo que não se preocupa com a saúde da população. Além disso, Bolsonaro não está vinculado a nenhum partido. Há a possibilidade de quando chegar 2022 não ser aceito em nenhuma legenda”, diz.
Palmas – Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita com 46.243 votos (36,24%). Apesar de não ser assumidamente evangélica, criou durante sua gestão um comitê municipal com as lideranças evangélicas da região para consulta de políticas públicas.
Florianópolis – Gean Loureiro (DEM), eleito no primeiro turno, não é oficialmente evangélico. Seu vice, Topázio Silveira Neto (Republicanos) é um empresário apoiado pela Igreja Universal, mesmo sem ter se declarado evangélico.
Campo Grande – Evangélico, Marquinhos Trad (PSD) foi reeleito. Durante seu governo foi criticado pela gestão pautada em doutrina religiosa. Primo do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, recebeu 218.418 votos (52,58%).
Cuiabá – Abílio Junior (Podemos) é neto de líderes da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Mato Grosso, com muita influência na região. Obteve 90.631 votos (33,72%).
Goiânia – O vice de Maguito Vilela (MDB) e o Pastor Rogério Cruz (Republicanos). A chapa teve 217.194 votos (36,02%). Vai disputar com Vanderlan Cardoso (PSD), que tem Wilder Morais (PSC) como vice. Ambos evangélicos, receberam 148.739 votos (24,67%).
Manaus – David Almeida (Avante) é evangélico. Recebeu 218.929 votos (22,36%).
Maceió – João Henrique Caldas (PSB) é autor de uma lei estadual que institui o dia 30 de novembro como feriado estadual alusivo ao Dia do Evangélico. Obteve 109.053 votos (28,56%).
Rio de Janeiro – Com 576.825 votos (21,90%), Marcelo Crivella (Republicanos) é da coligação “Com Deus, pela Família e pelo Rio”.
São Luís – Eduardo Braide (Podemos) recebeu forte apoio das lideranças da Igreja Assembleia de Deus. Ficou em primeiro lugar no primeiro turno, com 193.578 votos (37,81%). Vai disputar o segundo turno com Duarte Junior (Republicanos), que se filiou ao partido do vice-governador do Maranhão Carlos Brandão com o objetivo de herdar os votos evangélicos que elegeram governador e vice. Obteve 113.430 votos (22,15%).
Vitória – A chapa Delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos) a prefeito e a Capitã Estéfane Ferreira (Republicanos) a vice tem pauta voltada a segurança pública e a moralidade cristã, mesmo não se declarando publicamente evangélicos. Pazolini é próximo à ministra Damares Alves e já a homenageou na Assembleia Legislativa. Ao lado de Damares teve envolvimento no caso do aborto da menina de 10 anos vítima de estupro. Recebeu 53.014 votos (30,95%).
Curitiba – Delegado da Polícia Federal Fernando Francischini (PSL) é evangélico e defende pautas conservadoras. Obteve 52.340 votos (6,26%).
Teresina – Gessy Fonseca (PSC) para prefeita e Mara Denise (PSC) a vice. Ambas evangélicas, obtiveram 50.221 votos (12,14%).
Salvador – Na contramão da maioria dos políticos evangélicos, Pastor Sargento Isidório (Avante) se apresenta como “ex-gay” antibolsonarista. Mas se declara conservador. Ficou conhecido em 2018 por apoiar Fernando Haddad (PT). Recebeu 64.728 votos (5,33%).
Belém – José Priante (MDB) teve na chapa a Pastora Patrícia Queiroz (PSC). Ficaram com 123.808 votos (17.03%).
Palmas – Pastor e agropecuarista, Eli Borges (Solidariedade) recebeu 16.582 votos (13,0%).
Rio Branco – Tendo na chapa a vice Missionária Antônia Lúcia (PL), Roberto Duarte (MDB) recebeu 12.362 votos (6,97%).
Rio de Janeiro – Benedita da Silva (PT), evangélica, já integrou a bancada evangélica da Câmara quando foi deputada federal. Ficou com 296.847 dos votos (11,27%).
São Paulo – Celso Russomanno (Republicano) se autodenomina católico, mas é apoiado pela Igreja Universal do Reino de Deus, que controla o Republicanos. Obteve 560.666 votos (10,50%).
Vitória – Capitão Assumção (Patriotas) teve na chapa como vice o Capitão Tristão (PTB). Assumção (com ‘m’) é evangélico. Deputado estadual, apresentou um projeto de lei que cria o “Dia do combate a Cristofobia” no Espírito Santo. Recebeu 12.365 votos (7,22%).
Porto Velho – Coronel Ronaldo Flores escolheu como vice a Pastora Cila. A chapa ficou com 16.750 votos (7,62%).
Teresina – A Pastora Diana Carvalho (Republicanos) foi escolhida para vice de Fábio Abreu (PL). A chapa obteve 29.037 votos (7,02%).
Curitiba – Pastora da Igreja do Evangelho Eterno, Christiane Yared (PL), a candidata a prefeita recebeu 32.677 votos (3,91%). Não participa da bancada evangélica na Câmara.
São Luís – Apóstolo Silvio Antônio (PRTB), que se auto-intitula representante de Bolsonaro e Mourão, recebeu 16.070 votos (3,14%). É fundador e presidente do Ministério Apostólico Internacional Shalom (MAIS) e integrante da Embaixada Cristã de Jerusalém. Sua vice foi Sargento Ana Célia, do mesmo partido.
Belém – Vavá Martins (Republicanos) é pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, radialista e apresentador de TV de programas ligados à entidade religiosa. Obteve 49.476 votos (6,81%).
Boa Vista – Pastor Isamar Ramalho (Podemos) é da presidência da igreja Assembleia de Deus em Roraima. O major da Polícia Militar Overlan Alves foi o vice. A chapa recebeu 8.303 votos (5,25%).
Manaus – Capitão Alberto Neto (Republicanos) é evangélico e muito popular nas redes sociais. Recebeu 76.576 votos (7,82%).
Palmas – Mesmo não sendo declaradamente evangélico, Gil Barison (Republicanos) tem apoio da Igreja Universal. Seu vice foi o Tenente Gilberto (PRTB). Obtiveram 7.654 votos (6,0%).
Porto Velho – Líder da Igreja Assembleia de Deus, Lindomar Garçon (Republicano) e sua vice, a cabo da Polícia Militar Milene Barreto, do mesmo partido, receberam 12.061 votos (5,49%).
Manaus – Mesmo não se declarando evangélico, Alfredo Nascimento (PL) está sempre nas igrejas e recebe apoio das lideranças evangélicas da região, como ocorreu na candidatura ao senado em 2018. Recebeu 31.676 votos (3,24%).
Rio Branco – O Pastor Jamyl Asfury (PSC) ficou em sétimo e último lugar no primeiro turno. Recebeu 1.509 votos (0,85%). O lema da candidatura era “Rio Branco Feliz! Deus Governando com a Gente”.
São Luís – O evangélicos Jeisael Marx e Janicelma Fernandes (Rede) a vice são da Assembleia de Deus. Ficaram com 14.144 votos (2,76%).
Porto Alegre – O evangélico João Derly (Republicanos) obteve 19.004 votos (2,94%).
São Paulo – Joice Hasselmann (PSL) é evangélica. Ficou com 98.342 votos (1,84%).
Belém – Guilherme Lessa (PTC) é pastor evangélico, locutor, escritor, cantor gospel e assessor parlamentar. Recebeu 2.417 votos (0,33%).
Aracaju – A missionária Simone Vieira (DC) teve como candidato a vice o delegado Paulo Marcio (DC). A chapa obteve 634 votos (0,24%).
São Paulo – Andrea Matarazzo (PSD) escolheu como vice Marta Costa (PSD), filha de pastor, ligada à Igreja Assembleia de Deus. Como deputada, apresentou projetos ligados à moral cristã. A chapa ficou com 82.743 votos (1,55%).
Belo Horizonte – Aliado de Bolsonaro, Lafayette Andrada (Republicanos) teve como vice em sua chapa Marlei Rodrigues, do mesmo partido, obreira da Igreja Universal. Receberam 7.327 votos (0,59%).
Porto Velho – Apoiado pelas congregações da Assembleia de Deus, Edvaldo Soares (PSC) ficou com 4.154 votos (1,89%).
Rio de Janeiro – A ex-juíza evangélica Gloria Heloisa é aliada de Bolsonaro. Obteve 13.816 votos (0,52%).
Rio de Janeiro – A chapa Clarissa Garotinho a prefeita e Jorge Coutinho a vice, ambos do PROS, recebeu 12.178 votos (0,46%). Evangélica, Clarissa é deputada e compõe a bancada evangélica na Câmara.
Porto Velho – Pastor Leonardo Luz (PRTB), da igreja Assembleia de Deus, conseguiu 741 votos (0,34%).
Belo Horizonte – Declarado evangélico, o Cabo Xavier (PMB) é ex-bolsonarista. Recebeu 865 votos (0,07%).
Natal – A Pastora evangélica Jaidy Oliver (DC) ficou em último lugar (13ª posição) nas eleições municipais, recebendo 373 votos (0,11%).
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Eleições: evangélicos, militares e policiais têm pouco destaque nas urnas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU