17 Novembro 2020
A recente condenação de um ex-coronel salvadorenho pelo assassinato de cinco jesuítas espanhóis durante a guerra civil em El Salvador é o maior passo no caminho do ganho da justiça e cura de velhas feridas, disse o cardeal Michael Czerny.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada por The Long Island Catholic, 16-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em uma mensagem de 16 de novembro pelo 31º aniversário do martírio dos jesuítas espanhóis, um jesuíta salvadorenho e duas mulheres, cardeal Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Vaticano, disse que a condenação foi também “uma reparação às vítimas” do massacre de El Mozote, no qual 800 civis foram assassinados pelas forças militares salvadorenhas em 1981.
“Frente a esses eventos e os pequenos passos que estão sendo dados, é importante recordar as palavras do papa Francisco em Fratelli Tutti, sua mais recente encíclica: ‘Bondade, junto com amor, justiça e solidariedade, não são adquiridas de uma vez só por todos; devem ser realizadas a cada dia’”, escreveu.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 75 mil pessoas morreram durante os doze anos da sangrenta guerra civil de El Salvador, muitos dos quais foram mortos por esquadrões da morte apoiados pelo governo.
Em 11 de setembro, a corte espanhola ordenou que o ex-coronel Inocente Montano, de 77 anos, foi um dos mandantes e executores do assassinato dos cinco padres jesuítas – todos espanhóis – em 16 de novembro de 1989, na residência deles no campus da Universidade Centro-Americana – UCA.
Os cinco espanhóis eram os padres Ignacio Ellacuría, reitor da universidade, Juan Ramón Moreno, Ignacio Martín-Baro, Amando López e Segundo Montes. O padre jesuíta salvadorenho Joaquín López e Julia Elba Ramos, uma cuidadora da casa, e sua filha Celina, também foram assassinados no ataque.
Logo após o assassinato, cardeal Czerny, então um padre jesuíta, assumiu o cargo de um dos jesuítas assassinados, tornando-se diretor do Instituto de Direitos Humanos da universidade.
O tribunal poderia decidir apenas sobre os casos dos cinco jesuítas espanhóis como condição para a extradição de Montano dos Estados Unidos para a Espanha em 2017, onde ele residia.
Montano, que compareceu a seu julgamento em Madri em uma cadeira de rodas, foi condenado a 133 anos, quatro meses e cinco dias de prisão – 26 anos, oito meses e um dia para cada assassinato.
Em sua mensagem, o cardeal Czerny disse que, embora o aniversário de “nossos mártires” ocorra “em um contexto global e local muito diferente dos anos anteriores”, é uma realidade que deve sempre “ser confrontada com o Evangelho de Jesus Cristo”.
“Estamos no meio da pandemia do coronavírus, que nos obrigou a mudar muitas de nossas práticas sociais, econômicas, educacionais e religiosas, afetando sem dúvida os mais pobres e revelando a desigualdade e a injustiça que já sofremos”, afirmou o canadense cardeal disse.
Ele também disse que a recente tempestade tropical Eta, que devastou a América Central, foi “causada ou agravada por nossa atividade humana irresponsável para com a Criação” e serve como um lembrete para seguir o exemplo dos jesuítas martirizados que deram suas vidas em defesa dos pobres e os vulneráveis.
O cardeal Czerny disse que os cristãos podem encontrar as respostas para os desafios que a sociedade atual enfrenta na recente encíclica do Papa sobre fraternidade universal e a amizade social.
“O Santo Padre nos desafia com o imperativo de que nossos mártires também enfrentaram os seus em suas épocas e nós os celebramos hoje”, disse ele. “Só me identificando com os menores me tornarei o irmão e a irmã de todos”.
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El Salvador. Cardeal Czerny recorda o aniversário do martírio dos jesuítas da UCA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU