22 Outubro 2020
"As eleições de 2020 podem contribuir para reduzir as desigualdades de gênero e garantir maior inserção feminina na política municipal", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 21-10-2020.
As mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto em 1932. Porém, mesmo sendo maioria da população, continuaram minoria do eleitorado até a virada do século. O gráfico abaixo mostra que, em 1974, mais de quatro décadas depois da conquista do direito de voto, as mulheres ainda eram apenas um terço do eleitorado (24 milhões de eleitores homens e 12 milhões de eleitoras mulheres). Mas a diferença de gênero foi diminuindo e, em 1998, houve empate, com cerca de 53 milhões de eleitores para cada sexo.
Todavia, nas eleições do ano 2000, pela primeira vez, as mulheres superaram os homens no número de eleitores registrados. Nos anos seguintes, as mulheres ampliaram o superávit feminino no registro eleitoral e ultrapassaram os homens em 7,7 milhões de eleitores em 2020 (dados de agosto). Houve seja, houve reversão do hiato de gênero, com as mulheres sendo minoria do eleitorado no século XX e sendo uma maioria crescente no século XXI.
Crescimento do número de eleitores. (Fonte: TSE)
Além da feminilização, outra característica do perfil demográfico dos eleitores é o envelhecimento do eleitorado, isto é, uma diminuição do peso dos jovens e um aumento da proporção de idosos. Assim, o eleitorado grisalho terá um peso decisivo crescente a cada eleição.
Em 1992, o percentual de eleitores de 16 a 24 anos era de 23,8% e o percentual de eleitores idosos (60 anos e mais) era de 10,5%. Portanto, o peso dos jovens era mais do dobro do peso dos idosos. Mas esta diferença veio mudando e a partir de 2014 os idosos superaram os jovens. Em 2020, o percentual de jovens caiu para 13,5% e o percentual de idosos subiu para 20,4%.
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral, de agosto de 2020, indicam um eleitorado total de 150,5 milhões de pessoas, sendo 20,3 milhões de jovens (representando 13,5% do eleitorado) e 30,6 milhões de idosos (representando 20,4% do eleitorado). Portanto, o número de idosos aptos a votar superará em quase 7 milhões o número de jovens. A tendência é que o processo de envelhecimento seja ainda mais acentuado em 2022, nos 200 anos da Independência do Brasil.
Envelhecimento do eleitorado brasileiro. (Fonte: TSE)
Cabe ressaltar que o poderio eleitoral do total de idosos será acompanhado pelo maior peso proporcional das mulheres idosas. O gráfico abaixo mostra que a percentagem de mulheres no eleitorado era de 49,2% em 1992, sendo que o sexo feminino tinha menos de 50% em todos os grupos etários. Mas em 2006, as mulheres já eram 51,5% do eleitorado e eram maioria em todos os grupos etários. Nas eleições de 2020, o peso feminino chegou a 52,5% do total do eleitorado e as mulheres ampliaram a vantagem em todos os grupos etários, por exemplo, chegando a 53,9% no grupo etário 60-69 anos e a 55,9% no grupo etário 70 anos e mais. Portanto, é cada vez maior o peso proporcional das mulheres com mais de 30 anos (balzaquianas) no eleitorado brasileiro.
Percentagem de mulheres no eleitorado. (Fonte: TSE)
Evidentemente, o envelhecimento ocorre de maneira diferenciada nas diversas Unidades da Federação (UF). O gráfico abaixo mostra a percentagem de jovens e idosos nas 4 UFs que possuem um eleitorado com uma estrutura etária mais envelhecida: Rio de Janeiro com 25,3% de idosos, Rio Grande do Sul com 25%. Minas Gerais com 22,7% e São Paulo com 21,8%, todos mais envelhecidos do que a média do Brasil (com 20,4% de idosos). O Amapá (AP) é a UF com um eleitorado mais rejuvenescido do país, sendo 19,8% de jovens de 16 a 24 anos e somente 11,4% de idosos.
Envelhecimento do eleitorado no Brasil. (Fonte: TSE)
O gráfico abaixo mostra que o Rio de Janeiro é a UF com maior percentagem de mulheres no eleitorado (53,8%), seguido de São Paulo (52,9%). O Rio Grande do Sul está empatado com a média do Brasil (52,5%), Minas Gerais tem 52,1% e o Amapá tem 51,2% de mulheres.
Feminilização do eleitorado brasileiro. (Fonte: TSE)
O que todos estes dados mostram é que o eleitorado brasileiro está ficando mais envelhecido e mais feminino. Aliás, as mulheres reverteram o hiato de gênero na educação e são maioria em todos os níveis educacionais.
Nas Olimpíadas de Pequim, 2008 e de Londres, 2012, conquistaram 2 das 3 medalhas de ouro trazidas ao Brasil. A participação feminina no mercado de trabalho aumentou muito nas últimas décadas.
Mas nos espaços de poder a participação feminina ainda é muito baixa e o déficit democrático de gênero no Poder Legislativo não reflete o avanço social do “segundo sexo” no Brasil.
As eleições de 2020 podem contribuir para reduzir as desigualdades de gênero e garantir maior inserção feminina na política municipal.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O perfil do eleitorado brasileiro por idade e sexo em 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU