20 Abril 2020
"A queda de certezas causará distúrbios mentais e empregos em risco trarão um aumento de suicídios como na crise de 2008”. A advertência é de Stefano Bolognini, 70 anos, psicanalista de Bolonha, ex-presidente da Sociedade Mundial de Psicanálise.
A entrevista com Stefano Bolognini é editada por Francesco Rigatelli, publicada por La Stampa, 18-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em que momento mental estamos?
A primeira fase foi imprevista, tanto do ponto de vista organizacional como psíquico. Somente no filme "Contágio" de Soderbergh vimos algo semelhante. Não se pode fingir que não seja traumático. Inútil negar que se trate de angústia da morte e da invisibilidade do inimigo, que é diferente da guerra. Por fim, está em crise a esperança de solução do trauma, ou do pesadelo, porque os tempos sem vacina estão se estendendo. Por enquanto, fora os gastos, não houve reações irracionais, mas se esperam em vista da abertura.
Vamos sofrer de distúrbios pós-traumáticos?
Muito. Após o terremoto do Friuli, muitas pessoas mantiveram suas roupas perto da cama por anos por medo de não conseguirem fugir. Os traumas se enraízam profundamente nas pessoas. Penso naqueles que perderam parentes sem se despedir ou no medo de médicos e enfermeiros de contagiar pacientes e familiares. Para os outros, a ameaça é menos precisa, mas não acho que vamos nos abraçar e beijar serenamente no futuro. Os distúrbios mais sérios, no entanto, não são os medos residuais, mas os solavancos do aparato psíquico que antes contava com algumas certezas. No boxe, diz-se que os boxeadores mudam após o primeiro nocaute.
Paradoxalmente, poderiam nascer mais filhos?
Poderia ser uma reação à angústia da morte, mas é difícil fazer previsões. As verdadeiras vítimas são os amantes, mas também os casais com filhos não estão passando bem pela crise.
Os suicídios aumentarão como em 2008?
O desemprego está entre os principais motivos para o suicídio. Estamos caminhando para uma temporada com alto risco depressivo, não apenas econômico, para o qual serve uma assistência equivalente à anti-infecciosa. Os serviços psiquiátricos atuais não suportarão o impacto da crise.
O calor poderia influir sobre o vírus e sobre nós?
Ficando em casa redescobrimos o valor dos relacionamentos e estamos ansiosos pelo verão como tempo livre para socializar ao ar livre. O conflito entre esse desejo e a necessidade de segurança será interessante.
Qual é o conselho do psicanalista para resolvê-lo?
É o conselho da avó: paciência e bom senso. É melhor encontrar os amigos mais tarde e com segurança, também para não olhares atravessado ao primeiro sinal de tosse.
O que Freud pode nos ensinar hoje?
É suficiente ler ‘Psicologia das massas e análise do eu’ e ‘O mal-estar da civilização’ para entender a angústia generalizada da morte e de perda e para manter uma visão não racional, mas razoável, sem sermos dominados por humores violentos. Freud ensina a pensar além do instinto, a ser humanos e um pouco melhores.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“É um trauma que permanecerá conosco por muito tempo. Na fase 2 aumenta o risco de depressão”. Entrevista com Stefano Bolognini, psicanalista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU