16 Janeiro 2020
Do fundo de nossos corações, assinado pelo cardeal Robert Sarah com a colaboração de Bento XVI, é o quarto livro de entrevistas que Nicolas Diat publica com o cardeal guineense. Mas que papel o diretor de coleção da Fayard realmente desempenha com o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos?
A reportagem é de Marie-Lucile Kubacki, publicada por La Vie, 15-01-2020. A tradução é de André Langer.
Se todos os olhos se voltam naturalmente para o papa emérito, eles, no entanto, são os dois protagonistas do “caso”: na luz, o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; nas sombras, Nicolas Diat, diretor de coleções da Fayard, que, na noite de 12 de janeiro, escreveu externando seu orgulho de publicar “um livro do Papa Bento XVI com o cardeal Robert Sarah”. “Papa” e não “Papa emérito”: a fórmula, ambígua, não deixou de provocar algumas franzidas de sobrancelha.
O cardeal e o editor se conhecem há muito tempo, por terem escrito três obras em conjunto pela Fayard: Dieu ou rien (2015), La force du silence (2016) e Le soir approche et déjà le jour baisse (2019). Nicolas Diat, que possui um diploma em comunicação política, trabalhou durante quatro anos para Laurent Wauquiez, onde foi consultor especial, particularmente quando o político era ministro encarregado de assuntos europeus.
Autor de um belo livro sobre o fim da vida nos mosteiros (Un temps pour mourir, Fayard), ele conheceu o cardeal Sarah em 2012, quando estava fazendo uma pesquisa para o seu livro sobre Bento XVI, L’homme qui ne voulait pas être pape (O homem que não queria ser papa, Editora Albin Michel). O livro lhe rendeu, o que é raro, um comentário satírico de Federico Lombardi, jesuíta, na época diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé: “O autor do livro, que certamente é um grande admirador do Papa Bento – escreveu –, por outro lado, não parece ser um bom discípulo seu”.
Quanto ao cardeal, suas diferenças com o Papa Francisco renderam-lhe a reputação de ser um de seus principais adversários desde o Sínodo sobre a Família. Uma reputação que também se deve ao fato de que suas palavras e suas notícias são sistematicamente reproduzidas nos chamados sítios identitários de “reinformação”, geralmente politizados na extrema direita e hostis a Francisco.
Quando ele concordou em nos receber em seu escritório, em Roma, em 2016, durante uma pesquisa para La Vie, fizemos-lhe a pergunta diretamente: o que você acha do fato de ser apresentado como um inimigo do Papa Francisco? Ele nos deu esta resposta: “Eu acho que é uma tática diabólica. Eu não me oporia ao papa, é ridículo e é pura mentira. Ele é meu pai na fé. Estou aqui para apoiar sua ação. Os outros cardeais estão aqui para ajudar o Papa. Este é o nosso papel, até sangrar. É por isso que usamos uma roupa de cor vermelha. Estou aqui porque o papa me chamou. Eu tenho a mesma fé que ele, a mesma doutrina, nada se opõe a nós”.
Se alguns o acusam de jogo duplo, outros asseguram, ao contrário, que ele é legitimista. Esses dizem que ele é manipulado pelo seu círculo mais próximo de pessoas, destacando que ele é um homem direito, um verdadeiro espiritual que, quando jovem em seu país, a Guiné, comportou-se de maneira heroica, enfrentando o regime e disposto a resistir até o martírio. Eles questionam o papel de Nicolas Diat em relação ao cardeal, cuja comunicação ele efetivamente administra.
Em um Tweet publicado no início da tarde de terça-feira, 14 de janeiro, após os esclarecimentos prestados pelo secretário particular de Bento XVI, o editor escreveu: “Obviamente, estou chateado com a tempestade que acaba de se abater sobre o cardeal Sarah. Tenho a sensação de que ele será forte o suficiente para superar essa provação”. O que quer que pensemos, seria um insulto ao antigo opositor de Ahmed Sékou Touré [líder político africano e presidente da República da Guiné de 1958 até sua morte em 1984] considerá-lo um fantoche.
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Nicolas Diat, o homem por trás do cardeal Sarah - Instituto Humanitas Unisinos - IHU