06 Dezembro 2019
Agência da ONU realizou pesquisa em mais de 100 países; apenas metade tinha estratégia para enfrentar o problema; sintomas mais comuns são: hipertermia, ferimentos ou morte por temperaturas extremas e doenças como dengue, malária e cólera.
A reportagem é publicada por ONU Brasil, 04-12-2019.
Proteger a saúde humana dos impactos das mudanças climáticas é mais urgente do que nunca, mas a maioria dos países não está fazendo o suficiente para atingir essa meta. É o que afirma o primeiro Panorama Global do Progresso nas Mudanças Climáticas e a Saúde, divulgado nessa terça-feira, dia 3 de dezembro, em Genebra e Madri, onde ocorre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP 25.
O novo estudo baseia-se em dados de 101 países pesquisados pela Organização Mundial da Saúde, OMS, listados no relatório da Pesquisa de Saúde e Mudança Climática da Organização Mundial de Meteorologia de 2018. A relação inclui Brasil, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
De acordo com o relatório, os riscos mais comuns à saúde sensíveis ao clima foram identificados pelos países como estresse térmico, lesões ou morte provocadas por eventos climáticos extremos, alimentos, água e doenças transmitidas por vetores como cólera, dengue ou malária.
A diretora do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes Sociais da Saúde da OMS, Maria Neira, disse à ONU News, de Madri, que a mensagem é clara e forte.
“Quando se atacam as causas do aquecimento global, o que também se faz é proteger a saúde das pessoas, porque a cada ano, essas mesmas causas que são responsáveis pela mudança climática, são também responsáveis pela poluição do ar. E essa poluição do ar que estamos respirando está matando mais de 7 milhões de pessoas a cada ano. Isso é inaceitável. Então, a gente quer explicar aqui na COP que o argumento da saúde pode ser uma grande motivação para os países, que estão aqui negociando, saberem que se eles tomarem as ações adequadas eles vão proteger e reduzir muito o número de mortes causadas pela poluição de ar e aquecimento global.”
Cerca de 60% dos países avaliados relataram que os resultados da pesquisa em relação aos riscos à saúde tiveram pouca ou nenhuma influência na alocação de recursos humanos e financeiros para atender às suas prioridades de adaptação para proteger a saúde.
O relatório aponta que metade dos países pesquisados desenvolveu uma estratégia ou plano nacional de saúde e mudança climática. No entanto, é preocupante que apenas cerca de 38% possuam finanças para implementar parcialmente seus planos e menos de 10% canalizem recursos para implementá-los completamente.
De acordo com a OMS, o cumprimento das metas do Acordo de Paris poderia salvar cerca de um milhão de vidas por ano até 2050 apenas através da redução da poluição. (Foto: ONU Meio Ambiente)
O estudo diz que os países têm dificuldades em acessar financiamento climático internacional para proteger a saúde das pessoas. Mais de 75% relataram falta de informações sobre financiamento climático, outros 60% disseram que existe falta de conexão dos agentes de saúde com os processos de financiamento e mais de 50% não sabem preparar propostas.
O diretor-geral da OMS Tedros Ghebreyesus afirmou que “a mudança climática não está apenas cobrando a conta para as gerações futuras, as pessoas já estão pagando agora com saúde.” Para ele, “é obrigação dos países terem recursos para agir contra as mudanças climáticas e preservar a saúde agora e no futuro.”
O valor dos ganhos em saúde com a redução das emissões de dióxido de carbono seria quase o dobro do custo de implementação dessas ações em nível global. Fora isso, o cumprimento das metas do Acordo de Paris poderia salvar cerca de um milhão de vidas por ano até 2050 apenas através da redução da poluição.
No entanto, segundo a OMS, muitos países não conseguem tirar proveito desse potencial. A pesquisa mostra que menos de 25% deles têm colaborações claras entre a saúde e os principais setores responsáveis pelas mudanças climáticas e poluição do ar, transporte, geração de eletricidade e energia doméstica.
A agência da ONU destaca que os ganhos em saúde que resultariam no corte de emissões de carbono raramente são refletidos nos compromissos climáticos nacionais.
A declaração provisória da OMM sobre O Estado do Clima Global, também divulgada nesta terça-feira, diz que a temperatura média global em 2019, no período de janeiro a outubro, foi de cerca de 1.1ºC acima do período pré-industrial.
Segundo a agência, o ano conclui uma década de calor global excepcional, recuo do gelo e níveis recordes do mar impulsionados por gases de efeito estufa de atividades humanas. As temperaturas médias para os períodos de cinco anos, 2015 a 2019, e de dez anos, de 2010 a 2019, devem ser as mais altas já registradas.
O ano de 2019 também deve ser o segundo ou o terceiro ano mais quente desde que dados passaram a ser coletados.
OMM: A água do mar está 26% mais ácida do que no início da era industrial. (Foto: OMM/Aleksandar Gospić)
A OMM alerta que o oceano, que age como um amortecedor absorvendo calor e dióxido de carbono, está pagando um preço muito alto. O calor do oceano atingiu níveis recordes e houve ondas de calor marinhas generalizadas.
A água do mar está 26% mais ácida do que no início da era industrial e ecossistemas marinhos vitais estão sendo degradados.
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que se medidas urgentes não forem tomadas agora, a temperatura deve ter um aumento “de mais de 3°C até o final do século, com impactos cada vez mais prejudiciais ao bem-estar humano.” Ele acrescentou que o mundo não está “nem perto de cumprir a meta do Acordo de Paris.”
Taalas enfatizou que ondas de calor e inundações severas que costumavam ser eventos raros estão se tornando mais regulares. Ele lembrou que países que vão “das Bahamas ao Japão e Moçambique sofreram o efeito de ciclones tropicais devastadores” e que “incêndios florestais se alastraram pelo Ártico e a Austrália.”
Escola 25 de Junho, na cidade da Beira, em Moçambique, foi danificada durante o ciclone Idai. (Foto: ONU/Eskinder Debebe)
O estudo indica que a atividade de ciclones tropicais em todo o mundo em 2019, por exemplo, ficou um pouco acima da média.
O Hemisfério Norte, até o momento, teve 66 ciclones tropicais, em comparação com a média nessa época do ano de 56, embora a energia acumulada do ciclone esteja apenas 2% acima da média. A temporada de 2018-19 no Hemisfério Sul também ficou acima da média, com 27 ciclones.
Na costa leste da África, o ciclone tropical Idai chegou a Moçambique em 15 de março como um dos mais fortes já registrados na região, resultando em muitas mortes e devastação generalizada. O Idai contribuiu para a destruição completa de cerca de 780 mil hectares de plantações no Malauí, Moçambique e Zimbábue, prejudicando ainda mais a situação precária de segurança alimentar.
O ciclone também deslocou pelo menos 77.019 em Moçambique, 53.237 no sul do Malauí e 50.905 no Zimbábue.
O chefe da OMM alertou ainda que “um dos principais impactos das mudanças climáticas são os padrões de chuvas mais irregulares”. Taalas afirmou que “isso representa uma ameaça à produção agrícola e, combinado com o aumento da população, significará desafios consideráveis à segurança alimentar para países vulneráveis no futuro.”
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Emergência Climática: OMS alerta para o impacto da mudança climática sobre a saúde humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU