22 Outubro 2019
Um grupo considerável entre os 185 prelados católicos no Sínodo dos Bispos para a Amazônia, no Vaticano, aprova a ordenação de mulheres como diáconas, a fim de resolver a falta de ministros ao longo da região de nove nações, disse um dos bispos participantes.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 21-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Há muito apoio para isso”, disse Dom Derek Byrne, em uma entrevista no dia 17 de outubro. “Especialmente dos bispos que estão nessa situação e acham que simplesmente não podem servir ao seu povo.”
Byrne, que atua como bispo da diocese rural brasileira de Primavera do Leste-Paranatinga, caracterizou como “forte” o sentimento sobre o assunto entre os prelados no Sínodo de 6 a 27 de outubro.
“Existe um apoio substancial”, disse o bispo na mesma entrevista.
Embora Byrne tenha dito não saber se esse apoio alcançaria o limiar de dois terços necessário para obter uma aprovação do Sínodo, ele acrescentou: “Eu não sou o único. Não estou remando em uma canoa por conta própria”.
A necessidade de reconhecer o ministério das mulheres católicas na Amazônia emergiu como um dos vários temas principais no Sínodo da Amazônia. Nove dos pequenos grupos de trabalho do encontro mencionaram o assunto em seus relatórios do dia 18 de outubro, que devem ser usados nos próximos dias como base para o primeiro rascunho de um possível documento final do Sínodo.
Byrne, um irlandês que vive no Brasil há cerca de 25 anos, disse que levantou essa questão em seu pequeno grupo e durante seu discurso de quatro minutos em uma das sessões gerais do Sínodo.
“A segunda coisa de que falei foi sobre o papel das mulheres na Igreja”, afirmou o bispo. “Eu disse que todos nós já vimos isso, especialmente em nossas comunidades rurais – elas dependem muito das mulheres, e algumas delas são realmente mães da comunidade, e a comunidade não estaria de pé se não fosse pelas mulheres.”
“Eu disse que espero que a Igreja volte a ordenar diáconas”, disse Byrne, referindo-se a pesquisas de historiadores da Igreja que mostram evidências abundantes de que as mulheres atuavam como diáconas nos primeiros séculos da Igreja.
“Eu acredito que a Igreja deu um péssimo tratamento para as mulheres”, disse o bispo. “Eu acho que o ministério das mulheres precisa ser mais reconhecido, e esse seria certamente o primeiro passo na direção certa.”
Byrne, 71 anos, é membro da Sociedade Missionária de São Patrício, uma ordem irlandesa que foi fundada originalmente em 1932 para enviar padres para trabalhar na Nigéria, mas que depois se expandiu para trabalhar em todo o mundo.
Byrne passou seus primeiros seis anos como sacerdote no Brasil nos anos 1970 e retornou para o país em 2002. Foi nomeado bispo pelo Papa Bento XVI em 2008 e mudou-se para o cargo atual por indicação do Papa Francisco em 2014.
A Diocese de Primavera do Leste-Paranatinga fica no Estado brasileiro de Mato Grosso, localizado no extremo sul da Floresta Amazônica e no nordeste do Pantanal, a maior planície alagada contínua do mundo.
Byrne disse que sua diocese tem a metade do tamanho da Irlanda e disse que leva seis horas para se chegar a algumas das suas 19 paróquias devido à necessidade de viajar em estradas de terra.
Ele afirmou que tem cerca de 30 padres para servir à sua população católica, divididos entre padres diocesanos, de ordens religiosas e alguns emprestados por outras dioceses.
O bispo disse que a primeira questão que ele levantou em seu discurso na sala do Sínodo foi a necessidade de ordenar homens casados como padres, a fim de permitir que os católicos tenham acesso à Eucaristia.
“Temos pessoas sedentas pela Eucaristia e ninguém para enviar para celebrar a missa para elas”, disse Byrne.
Ele disse que se pronunciou a favor da ideia de ordenar homens casados regionalmente. “Eu disse que sinto que o dever e a responsabilidade da Igreja de prover a Eucaristia têm precedência sobre a lei do celibato.”
O primeiro rascunho do documento final do Sínodo deve ser apresentado à assembleia no dia 21 de outubro. Os membros do Sínodo terão a oportunidade de apresentar emendas até o dia 26 de outubro, quando será realizada a votação final do texto.
Entre os 185 membros votantes do Sínodo da Amazônia estão bispos, padres e um irmão religioso. Outras 80 pessoas, incluindo 33 mulheres, estão participando como peritos e auditores sem direito a voto.
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Apoio a diáconas no Sínodo é ''substancial'', diz bispo brasileiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU