31 Julho 2019
O tráfico de pessoas sempre foi uma realidade presente na vida da humanidade, mas essa situação tem piorado na atualidade. O combate desse crime é uma preocupação para muitos governos e países, e também para a Igreja católica, que tem encontrado na pessoa do Papa Francisco um aliado fundamental na denúncia e luta contra essa realidade cruel.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
No dia 30 de julho, em que se comemora o Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, o bispo de Roma pedia em sua conta de Twitter que "rezemos para que o Senhor liberte as vítimas do tráfico e nos ajude a responder ativamente ao grito de ajuda de tantos irmãos e irmãs privados de sua dignidade e liberdade". O pedido do Papa reforça suas palavras no prefacio do livro “Mulheres crucificadas. A vergonha do tráfico contada da rua” (Editora Rubbettino) do pe. Aldo Buonaiuto, disponível nas livrarias italianas desde segunda-feira, 29 de julho, onde diz que “uma pessoa nunca pode ser colocada à venda” e que “a mentalidade de que uma mulher deve ser explorada como uma mercadoria para usar e depois jogar fora é patológica”.
Como tem acontecido em outros lugares, a Igreja brasileira tem se posicionado, por meio da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), que em uma nota tem manifestado seu compromisso no enfrentamento desta realidade criminosa que ceifa a vida e os sonhos de milhares de pessoas em todo o planeta.
(Fotos: Luis Miguel Modino)
Segundo a nota da Comissão, o tráfico de pessoas é uma realidade que atenta contra a dignidade “de cidadãs e cidadãos que, fragilizados por suas condições de vulnerabilidades se tornam alvos fáceis para as ações criminosas de traficantes”. Esta é uma realidade muito presente no Brasil, local de origem, trânsito e destino, sendo responsável por 15% das vítimas na América latina.
Em linha com o pedido da Comissão, que “convoca toda a sociedade a empenhar-se em identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las para que possamos contribuir na superação desta violação da dignidade e da liberdade humanas, mobilizando cristãos e cristãs para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus”, a Rede um Grito pela Vida tem participado das mobilizações, por meio da Campanha Coração Azul.
A Rede um Grito pela Vida está ligada à vida religiosa, que desde há mais de dez anos tem se constituído numa voz profética nesse campo. Nesse sentido, a Conferencia dos Religiosos do Brasil, assumia o combate e prevenção do tráfico humano como uma das suas prioridades na última assembleia, celebrada semanas atrás. Como reconhece a Irma Valmi Bohn, coordenadora nacional da rede, “é um passo muito grande, importante para a vida religiosa assumir o compromisso da prevenção do tráfico humano como uma das prioridades da Assembleia Nacional. Para nós como Rede um Grito pela Vida é um apoio, uma força muito grande também, e para a própria vida religiosa uma maior conscientização e compromisso para juntos abraçar esta causa da prevenção, do cuidado da vida dos mais vulneráveis e mais frágeis”.
A religiosa, falando dos passos que estão sendo dados nesse caminho de prevenção, afirma que “como Rede um Grito pela Vida, nos 24 estados que nós estamos atualmente, faltam dois no Brasil, os passos que a gente vai dando, cada local, cada núcleo no seu espaço, na sua realidade, na sua cultura, a gente vai fazendo, principalmente, a prevenção, a sensibilização, a conscientização cada vez maior da sociedade, dessa importância de proteger nossas crianças, de proteger, orientar e cuidar os nossos adolescentes, jovens e mulheres”.
Numa tentativa de “sensibilizar e mobilizar as pessoas no combate a esta forma moderna e atual de escravatura”, a rede pretende ajudar a “dar visibilidade, resistir, sensibilizar, conscientizar, chamar atenção para esta realidade”. Em Manaus, ao longo da semana estão acontecendo diferentes atividades, como tem sido a videoconferência promovida pela Secretaria de Educação do Estado, onde participaram professores e alunos de 28 municípios do estado de Amazonas, que contou com a participação da Irmã Rose Bertoldo, da Rede um Grito pela Vida, junto com representantes do governo do estado e do ministério público. Junto com isso, aconteceu um ato na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, promovendo a adesão do mundo da advocacia à Campanha Coração Azul.
O momento central da semana tem sido uma concentração no entorno do Teatro Amazonas, cartão postal da cidade, na tarde-noite do dia 30. No evento se fizeram presentes representantes de diferentes estamentos do estado, tanto do poder executivo como judiciário, mostrando em todo momento a importância do combate ao tráfico humano, em um estado que se destaca pela quantidade de rotas, tanto nacionais como internacionais, e de possíveis vítimas.
Ao longo da semana, até sexta-feira estão previstos diferentes atos de conscientização, que englobam palestras em escolas públicas da cidade de Manaus, rodas de conversa com migrantes venezuelanos e abordagens informativas na rodoviária e no aeroporto, numa tentativa de conscientizar a população sobre a realidade do Tráfico de Pessoas.
Como denuncia a Comissão, “a realidade política do país vai se deteriorando com a retirada de direitos, restrição das políticas públicas de garantias de direitos humanos, com corte dos orçamentos e redução dos espaços de controle social”. Tudo isso favorece o aumento de “atitudes criminosas e lesivas à dignidade e à vida das pessoas”. Junto com isso, não pode ser esquecido “o grito de milhões de migrantes e refugiados”, uma realidade muito presente na região norte do país, onde a massiva chegada de migrantes venezuelanos os coloca como “alvo das redes de traficantes..., que se aproveitam da vulnerabilidade e das necessidades urgentes das pessoas, expondo-as como alvos fáceis para a exploração”.
A chegada de migrantes venezuelanos faz com que o tráfico humano seja “uma realidade que está se intensificando”, segundo Rosana Nascimento, coordenadora da Pastoral do Migrante da arquidiocese de Manaus. Ela reconhece que essa é uma situação que acontece “principalmente com as mulheres, com a exploração sexual bem forte, a gente tem recebido notícias disso”, afirmando que “dado que se trata de pessoas numa vulnerabilidade extrema acaba virando um prato cheio essas práticas exploradoras, se tornando uma realidade muito forte em Manaus”.
Na tentativa de prevenir o tráfico humano, “como pastoral a gente tem tentado viabilizar oportunidades para que as mulheres aprendam a fazer alguma coisa para viabilizar geração de renda”, afirma Rosana Nascimento. Ela reconhece que com isso, “não é que vai a acabar, mas abre-se uma porta, uma oportunidade para que as mulheres vejam uma possibilidade de ganho, pois o que leva as mulheres a se envolver nessas redes de tráfico é a vulnerabilidade”.
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Prevenção, sensibilização e conscientização da sociedade sobre o tráfico humano, prioridade da Rede um Grito pela Vida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU