05 Julho 2019
Susana Gouveia, presidenta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmou que o instituto fará cortes no questionário utilizado para o Censo 2020, que cairá de 112 para 76 perguntas. A dirigente foi sabatinada nesta quinta-feira (4) na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, na Câmara dos Deputados.
A reportagem é de Igor Carvalho, publicada por Brasil de Fato, 04-07-2019.
Gouveia afirmou que as mudanças no questionário já estavam previstas e que não guardam relação com os cortes de 25% no orçamento para o Censo, anunciados em abril pelo ministro da Economia Paulo Guedes. O valor dispensado para a execução da pesquisa era de R$ 3,1 bilhões. Após a contenção do governo, o IBGE recebeu R$ 2,3 bilhões.
As mudanças na quantidade perguntas para o Censo visam reduzir, de acordo com o IBGE, o tempo de permanência do agente do IBGE com o entrevistado de 7 para 4 minutos.
Uma das questões subtraída do formulário é o valor do aluguel. Para Dione de Oliveira, economista e diretora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE), a medida pode impactar diretamente o planejamento dos municípios.
“Teremos um prejuízo enorme e irreparável no dado do aluguel. O valor do aluguel, ele compõe o déficit habitacional, 50% do déficit é explicado pelo valor do aluguel. Então, se a gente não capta essa informação, nós não vamos estimar o valor do aluguel”, afirma Oliveira.
“Perdendo as informações de déficit habitacional, perdemos a oportunidade de fazer política pública, perde a referência, inclusive, para a iniciativa privada, porque o planejamento é público e é privado para as construções. A gente perde a possibilidade de localização de investimentos habitacionais, no município e nos bairros das grandes cidades. É um prejuízo irreparável que a direção do IBGE, de forma irresponsável, está levando a cabo.”
Em sua fala, Gouveia respondeu. “Censo tem que medir densidade populacional e o perfil da população brasileira. Ponto. Censo não precisa ser tudo para todos. IBGE não é só Censo, e o Censo não precisa resolver todos os desafios de informação que a sociedade tem”, disse a dirigente.
Sinal da precariedade provocada pelos cortes do governo federal no Censo 2020, é a falta de atualização nos endereços que serão percorridos pelos agentes do IBGE. De acordo com Antônio Tadeu, coordenador da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), o catálogo de endereços é de 2010.
A gente tem que ter muito cuidado. Hoje, 84,5% dos setores, tem o retrato de 2010, ou seja não estão atualizados. Isso é um risco para a cobertura. Se não atacarmos isso aqui, eu corro o risco de ir para o campo, fazer entrevista e não atender todos os setores. Será a primeira vez, após quatro censos, que irei às ruas fazer o Censo sem os endereços minimamente atualizados”, explicou Tadeu.
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Corte no Censo traz ‘prejuízo irreparável’ a políticas habitacionais, diz economista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU