10 Junho 2019
"Churchesforfuture" (as Igrejas para o futuro). Uma similaridade nada casual com a iniciativa da jovem sueca Greta Thunberg que há meses leva milhares de jovens às ruas para conscientizar a opinião pública sobre a urgência de combater às mudanças climáticas, é o título (mais do que significativo) de um documento assinado em Berlim, em 20 de maio último, por representantes das Igrejas Católica e Luterana e ainda não terminou de colher adesões em todo o mundo alemão (a mais recente, em ordem temporal, foi da diocese de Bolzano-Bressanone, em nome do Instituto Justiça, Paz e Proteção da Criação - De Pace Fidei - liderado pelo teólogo Pe. Paul Renner).
A reportagem é de Salvador Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 08-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um apoio, não considerado óbvio e de certa forma inesperado, este que as igrejas da Alemanha, Áustria e Suíça, expressam com sua adesão à batalha da jovem sueca que, como se deve lembrar, também foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano no último 17 de abril, mas se trata de um apoio em consonância com a tradição "verde" da Europa Central, com uma forte sensibilidade ambiental, bem anterior, mesmo no campo cristão, para a encíclica Laudato si' do Papa Francisco sobre os cuidados da Casa Comum.
Um compartilhamento vindo "de baixo" com a iniciativa de Greta já tinha sido assumido, nos últimos meses, pela Associação Austríaca da Juventude Católica (KJÖ) e da Rede Ecumênica Alemã para a justiça climática. Mas também alguns bispos se manifestaram, com autoridade, neste sentido: entre eles, D. Heiner Wilmer, bispo de Hildesheim (geral emérito da Congregação do Sagrado Coração, os padres dehonianos), que durante a missa de Natal de 2018 tinha comparado Greta Thunberg a um dos jovens profetas. "Ela fica em pé na frente de todos, calma, sem atirar pedras, e pede apenas que nos atenhamos às disposições da Conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática", disse o bispo, 58 anos, diante de mais de 2.500 jovens reunidos para a missa na catedral de Hildesheim/ em 24 de dezembro passado, acrescentando o convite explícito para "levantar-se".
"Estou muito impressionado com esses jovens que se manifestam nas ruas semana após semana", também tinha afirmado seu colega Heinrich Timmerevers, bispo de Dresden que, para a DPA, a agência de notícias alemã, em 16 de abril, na véspera da visita de Greta ao Vaticano, havia declarado: "Devemos levar muito a sério suas advertências (em relação às mudanças climáticas), porque esses jovens estão realmente em condições de nos despertar".
“Nós, como igrejas e organizações eclesiais, respeitamos muito os manifestantes e apoiamos as sérias preocupações das novas gerações. Portanto, pedimos aos membros de nossas igrejas e às várias organizações eclesiásticas que aumentem significativamente seu empenho para a justiça climática em sua vida pessoal, eclesial e social. Assim nos tornamos: ‘Igrejas para o futuro!’", pode ser lido no documento assinado por 21 bispos católicos e luteranos e uma longa série de organizações de desenvolvimento reunidas na Rede Ecumênica de Justiça Climática, fundada na Alemanha, em 2018, e que conta entre seus membros também com entidades austríacas e suíças.
A KJÖ, a Juventude Católica da Áustria, lançou nas últimas semanas a hashtag "#callforchange - vozes jovens para a criação" e está divulgando pedidos específicos sob a insígnia de uma "sociedade sustentável". Os jovens são convidados a enviar suas sugestões na forma de medidas para combater as mudanças climáticas até o final de julho de 2019 (a lista conclusiva será entregue aos políticos responsáveis pelas decisões na área ambiental).
"O seu pedido insistente de arrependimento é muito justificado em consideração da crise climática em curso e de uma ação muito incerta no campo político e social - continua o documento assinado na Alemanha em relação à iniciativa "Fridaysforfuture" - Por muitos anos as igrejas fizeram campanhas para a promoção da justiça climática, mas devemos reconhecer que nós também, no que nos diz respeito, fazemos ainda muito pouco ou, pelo menos, não somos coerentes o suficiente na implementação de nossas responsabilidades. Portanto, compartilhamos abertamente o apelo dos jovens para que possamos reconhecer nossos erros e nos arrepender pelas omissões e, além disso, assumir seriamente todo compromisso em sentido ambiental. Os jovens lembram-nos de uma das mensagens fundamentais da nossa fé cristã, no sentido de salvaguardar a criação e a solidariedade com os nossos vizinhos da ‘casa comum’.
Em solidariedade com as ‘sextas-feiras pelo futuro’ em todo o mundo, nós, membros do movimento da Rede Mundial, iniciamos a iniciativa ‘Igrejas para o futuro’ para um apelo à justiça climática: ‘Pedimos aos membros de nossas igrejas e das organizações religiosos o seu empenho pela justiça climática, tanto pessoal como na Igreja e na sociedade, uma das maneiras para fortalecer significativamente a promoção da vida. Você também se torne ‘Igrejas para o futuro’!"
Além de orações para jovens participantes das futuras manifestações, os bispos encorajam, na esteira do espírito da encíclica social do Papa Francisco, Laudato si', "o contato com os responsáveis locais das ‘Fridaysforfuture’, a fim de identificar que tipo de apoio eles podem obter das igrejas, organizações religiosas e tudo o que eles poderiam precisar.”
Também o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, elogiou a jovem Thunberg por "ter motivado milhões de crianças e jovens a combater as mudanças climáticas".
Escrevendo, em 31 de maio, em sua coluna semanal no jornal gratuito distribuído em Viena (Heute), o cardeal declarou que a estudante sueca de dezesseis anos tinha lhe dado "esperança para o futuro". No mesmo dia, Greta Thunberg, junto com Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia de origem austríaca, tinha liderado milhares de apoiadores jovens e adultos das "sexta-feira para o futuro" em uma marcha de protesto pelas ruas da capital austríaca. Schönborn comparou o Movimento com a situação política na Áustria, observando, com satisfação explícita, como Greta recebera uma ovação de pé por ter corajosamente chamado as pessoas às suas responsabilidades.
"Que contraste!", escreveu o arcebispo, ressaltando o testemunho, "pela voz da geração mais jovem que já se cansou da política dos partidos porque está consciente de que seja possível enfrentar, todos juntos, os grandes desafios de hoje".
"Foi realmente um sinal encorajador que muitos jovens tenham saído às ruas para a grande causa da proteção do clima comum a toda a humanidade", ecoou o auxiliar do cardeal, Bispo Stephan Turnovszky, 54 anos, responsável pela pastoral juvenil na conferência episcopal austríaca, e que à agência Kathpress admitiu que ele também participou do protesto nas ruas da cidade, na convicção de fornecer apoio total àqueles grupos de jovens católicos que promoveram a "sexta-feira para o futuro", e prometendo que ele teria usado toda a sua influência para "levar esses jovens diante de políticos e tomadores de decisão".
Monsenhor Turnovsky havia enfatizado que "é de suma importância que os representantes da Igreja ajudem os defensores das ‘sexta-feira para o futuro’, para que seu protesto possa alcançar medidas concretas para a proteção do clima".
"Chegou a hora de assumir a sério a responsabilidade pela criação e induzir uma mudança radical à luz do aquecimento global da atmosfera, da pobreza generalizada no mundo e do fosso crescente entre os seus habitantes, mas também de um pensamento econômico limitado ao curto prazo e da falta de incentivos fiscais adequados", disse a porta-voz da KJÖ, Magdalena Bachleitner, comentando a adesão ao documento.
Por sua vez, a Rede Ecumênica pela Justiça Climática na Alemanha, iniciando o #churchesforfuture, ressalta como dentro dela se registre a adesão das principais organizações de caridade da Igreja católica alemã, como Miserior e Adveniat, bem como da Associação da juventude católica alemã (BDKJ).
Enquanto isso, o abade Beda Maria Sonnenberg da Abadia Beneditina bávara de Plankenstette acrescenta: "Todos nós devemos ser eco-pioneiros e colocar em discussão as nossas tradições e os nossos estilos de vida", declarou o abade, 53, apontando o dedo contra determinados hábitos, que segundo ele precisam absolutamente ser revistos, a partir da sustentabilidade ecológica até mesmo das Jornadas Mundiais: “Quando milhares de pessoas voam ao redor do mundo para participar da Jornada Mundial da Juventude, não deveríamos talvez considera-la uma catástrofe ambiental que deveria ser severamente limitada?" perguntou de forma quase provocativa em uma entrevista à KNA, em 31 de maio, explicando suas motivações: "O verdadeiro esplendor da Igreja não está em uma massa de jovens que se reúnem para uma missa, mas sim quando os fiéis tomam conta de seu próximo em dificuldade, mesmo que ninguém fique sabendo”.
Somente as próximas semanas poderão dizer se esse compartilhamento com o Movimento de Greta Thunberg, à insígnia de "Churchesforfuture", permanecerá limitado ao mundo alemão ou se estenderá a outras realidades da Igreja universal, por exemplo na Itália ou no resto da Europa.
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As Igrejas alemãs lançam a campanha “Churchesforfuture” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU