30 Novembro 2018
Com uma saudação militar e um silêncio nervoso, como sem querer arranhar seu inglês na frente das câmeras, o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, recebeu nesta quinta-feira o Secretário de Segurança dos Estados Unidos, John Bolton, na varanda de sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foi o primeiro encontro cordial entre os Estados Unidos e o Brasil, as duas principais potências americanas, em anos. Também o primeiro contato do ultradireitista Bolsonaro com a equipe de seu admirado Donald Trump. Foi o começo de uma nova era.
A questão não era se as desgastadas relações entre Brasil e Estados Unidos melhorariam com a vitória de Bolsonaro, que era considerado “o Trump tropical” mesmo antes de iniciar sua campanha; a questão era quando e com que velocidade. A resposta foi vista nesta quinta naquela mesa de café da manhã. John Bolton fez uma parada no Rio a caminho da reunião do G-20 em Buenos Aires só para cumprimentar o presidente eleito e encenar a proximidade que a Casa Branca já havia notado em comunicados e tuítes desde a vitória do ultradireitista.
Durante a reunião, falaram sobre a Venezuela e Cuba, e dos problemas que representam para ambas as administrações. “A Venezuela é uma questão que vem de longe e temos que buscar soluções”, explicou Bolsonaro à imprensa ao sair. “Sabemos que há 80.000 cubanos lá, o país tem esse agravante. Será difícil tirar a Venezuela dessa situação”. Também comentaram outra ideia que Bolsonaro está considerando, imitando uma decisão de Trump: mudar a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. “Essa possibilidade existe: Jerusalém tem duas partes e apenas uma não está em litígio. A embaixada norte-americana fica nessa parte”, argumentou o presidente eleito.
Antes de sair, Bolton convidou Bolsonaro para visitar seu colega na Casa Branca. É a primeira vez que um convite desses chega ao Brasil em anos. Até agora, o país seguia a doutrina do Partido dos Trabalhadores — que governou entre 2003 e 2016 —, de buscar parceiros comerciais mais lucrativos do que os Estados Unidos, como a China. Em termos diplomáticos, as duas potências também não tiveram grandes interesses comuns. Mas agora Bolsonaro quer uma política radicalmente oposta e está disposto a seguir Trump em decisões como a da embaixada ou retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre mudança climática, uma ideia com a qual especulou, mas acabou descartando. No entanto, nesta semana retirou o Brasil como o país anfitrião da cúpula das Nações Unidas sobre mudança climática de 2019.
“Parte do governo de Bolsonaro parece não entender que os Estados Unidos não têm tanto a oferecer ao Brasil”, explica Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas. “O Brasil não é muito importante em Washington e a proximidade com a China não é resultado de uma decisão, mas reflexo de uma nova realidade. Acreditam que os Estados Unidos podem gerar novas oportunidades econômicas que compensem as perdas com a China, mas isso não acontecerá. Trump não pode abrir o mercado para os brasileiros.”
Um dos filhos de Bolsonaro, o deputado Eduardo, está nos Estados Unidos há dias, concluindo essa aproximação em um terreno muito mais fértil do que o político e o econômico: o estético. É aí, nas promessas e no estilo de explicá-las, que Trump e Bolsonaro estão praticamente irmanados. Estão unidos pelo desprezo pela imprensa e pelas instituições, pelo seu desinteresse pelas minorias e pela globalização, e pela obsessão em devolver aos seus países a “grandeza” de décadas passadas. E é isso que Eduardo Bolsonaro explorou em sua viagem para, segundo suas palavras, “resgatar a credibilidade do Brasil no país”. É uma função que não lhe cabe como deputado por São Paulo, mas o uso de parentes em papéis institucionais é outro hábito que Trump e Bolsonaro têm em comum.
Eduardo Bolsonaro visitou o Senado norte-americano na terça-feira e se reuniu com pesos-pesados do Partido Republicano, como Ted Cruz e Marco Rubio. Mais tarde, foi convidado para a festa de aniversário do ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, que aplaudiu nas redes sociais como “ícone na luta contra o marxismo cultural”. Bannon, por sua vez, não conseguiu lembrar o nome de Bolsonaro quando, certa noite, o The Guardian lhe perguntou. Depois de hesitar, chamou-o de Botolini.
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Estados Unidos, um aliado acima de todos para o Brasil de Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU