29 Outubro 2018
No dia seguinte ao Sínodo de 2015 sobre a família começou a campanha com a qual a direita reacionária norte-americana (em si, evangélica) e europeia (em si, ateia) tentavam anexar o tradicionalismo católico atacando o papa como herege e, através dele, a Igreja: agressão que ontem Francisco denunciou com palavras de fogo, que certamente não tinham como alvo nem as vítimas dos abusos, nem a imprensa, nem a justiça, mas aquela operação e seus titereiros políticos.
O comentário é de Alberto Melloni, publicado por La Repubblica, 28-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O sínodo dos jovens encerrado no sábado foi mais fácil (nos anos 1970 a comunidade de Taizé tinha pensado num concílio sobre os jovens...) e o documento final provou isso. As partes corajosas (a fórmula sobre a consciência, o respeito pela orientação sexual, a delicadeza sobre o aborto) reforçam as tendências já vistas; as muitas partes previsíveis, sobre as mídias sociais, as vocações, os deficientes, ficaram para a Secretaria do Esquecimento Pontifício com uma velocidade que vai depender da agenda do Papa para esta Europa onde vive e das etapas da viagem à Ásia no próximo ano. Enganar-se-ia, no entanto, quem pensasse que o Sínodo se resuma a esse mix, nascido de um debate desnecessariamente obscurecido pelo sigilo como, por exemplo, o Concílio Vaticano II jamais empregou.
O que ele deixa é de outra magnitude, e marcará o futuro da Igreja, já que a partir de Luciani em diante todos os papas estiveram no sínodo e assim será no amanhã. Antes de tudo a experiência sinodal feita pelos bispos, em um órgão que até 2013 de sinodal só tinha o nome. Francisco conseguiu instaurar uma pedagogia da sinodalidade e fazer entender o que significa a expressão "Igreja Sinodal". Discutindo, deliberando, ouvindo, eles esclareceram para si mesmos a diferença entre a colegialidade dos bispos e a sinodalidade da Igreja. Porque a colegialidade define o poderio "pleno e supremo" dos bispos em comunhão com Pedro. A sinodalidade, ao contrário, é a descoberta que em todos os níveis - universais, continentais, nacionais, diocesanos e paroquiais - apenas a comunhão pode produzir análises, escolhas, decisões, governo que não deve imitar o parlamentarismo, mas expressar obediência à palavra do Evangelho que, como dizia Gregório, o Grande, "cresce com aqueles que a leem". Em segundo lugar, no entanto, a incubação do sínodo prova que a luta para tornar regra essa prática ainda não acabou. Justamente na véspera do Sínodo, Francisco publicou a Episcopalis communio nova janela, uma constituição apostólica que regula o sínodo. Seu poderoso preâmbulo teológico fundava a sinodalidade sobre o próprio mistério da igreja local, na qual o bispo é "mestre" que anuncia a Palavra, mas também "discípulo" quando "sabendo que o Espírito é derramado sobre cada batizado, coloca-se na escuta da voz de Cristo que fala através de todo o povo de Deus, tornando-o infalível em acreditar”. Ao contrário o seu articulado canônico era muito imaturo, se não bruto: começava dizendo que o Sínodo é "submetido diretamente" ao papa, com um léxico (subiectus?) que definia a posição do réu confesso perante o Santo Ofício. Entre as duas opções, o documento final não permanece neutro: indica a "igreja sinodal" como o modo de ser do catolicismo.
E assim - e este é o terceiro ponto - o sínodo diz que Francisco ainda aposta nos bispos. Não pede a eles uma unidade disciplinar, extrínseca e impossível: mas sinodal. Se os bispos ao retornarem para casa, tomarem milhares de iniciativas sobre os jovens, as portas da Secretaria do Esquecimento engolirão tudo o que de bom e óbvio o sínodo produziu. Se eles mostrarem que aprenderam que a sinodalidade requer a "humilde determinação" que fez o Papa João dizer a palavra concílio, será outra história, será a igreja sinodal.
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Quando a Igreja aposta nos bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU