23 Março 2018
Foto: Cineweb
"É esse tempero feminista o melhor trunfo do roteiro de Helen Edmundson e Philippa Goslett, que acompanha Maria Madalena (Rooney Mara) lutando contra o destino imposto às mulheres em sua época – ou seja, o casamento arranjado e a maternidade compulsória", escreve Neusa Barbosa, crítica de cinema, em comentário publicado por Crítica Cineweb, 28-02-2018.
Por muitos séculos apontada erroneamente como prostituta – por um lamentável pré-julgamento do Papa Gregório Magno, numa homilia do longínquo ano de 591 - , Maria Madalena foi finalmente reabilitada como apóstola e evangelista pela Igreja Católica em 2016, o que dá o mote para o novo drama bíblico que leva o seu nome, dirigido pelo australiano Garth Davis (Lion: uma jornada para casa).
É esse tempero feminista o melhor trunfo do roteiro de Helen Edmundson e Philippa Goslett, que acompanha Maria Madalena (Rooney Mara) lutando contra o destino imposto às mulheres em sua época – ou seja, o casamento arranjado e a maternidade compulsória. Inteligente, independente e versada como parteira e pescadora, ela assusta seus parentes, que chegam a levá-la a uma sessão de exorcismo, na qual ela quase se afoga. Mas não há demônios nesta jovem, que apenas quer decidir sua própria sorte num tempo em que era vedado às mulheres inclusive rezar na sinagoga à noite.
A passagem de Jesus (Joaquin Phoenix) pela Judeia dominada pelos romanos dá-lhe a oportunidade de mudança, ainda que à custa de romper com sua família e despertar o falatório, inclusive dos demais apóstolos que seguiam Jesus, como Pedro (Chiwetel Ejiofor). O mais compreensivo é Judas Iscariotes (Tahar Rahim), um jovem que perdeu mulher e filho e conta com o estabelecimento, por Jesus, do Reino de Deus na Terra para reencontrá-los. Essa crença de Judas, aliás, estará na raiz de sua conhecida traição, o que permite uma humanização do personagem ausente de outras adaptações bíblicas.
Numa história como esta, muito conhecida, procura-se enfatizar a atenção dada por Jesus a Maria, muitas vezes sua confidente e testemunha de alguns dos principais acontecimentos de sua vida. A presença dela é também um ímã para que outras mulheres juntem-se aos seguidores de Jesus até que este entre em Jerusalém e cumpra o seu destino com o sacrifício na cruz.
O filme tem um andamento intimista e respeitoso com as figuras que invoca, interpretadas por alguns atores competentes. Mas isso não é o suficiente para romper o ranço da reverência de uma história mística. Afinal, é pregação para convertidos, revestida de um simpático tom feminista, e só.
Moça independente. Maria Madalena nega-se a seguir os preceitos impostos às mulheres na Judeia dominada pelos romanos. Recusou mais de um casamento arranjado e, por isso, é mal-vista até dentro de sua família. Um dia, Jesus passa por sua região e ela decide segui-lo.
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Maria Madalena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU