27 Julho 2017
“Para os agentes econômicos que pressionaram pelo impeachment, com o mercado financeiro à frente – e que tudo precifica –, o “custo Temer” já está alto demais. O otimismo de um ano atrás, que bastava um governo “de confiança” para o déficit ser contido, desmorona dia a dia”, escreve Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS, em artigo publicado por Zero Hora, 27-07-2017.
O recente aumento de impostos expõe a ferida do governo Temer e ajuda a explicar a divisão de sua base em apoiá-lo ou se livrar dele de vez. Para os agentes econômicos que pressionaram pelo impeachment, com o mercado financeiro à frente – e que tudo precifica –, o “custo Temer” já está alto demais. O otimismo de um ano atrás, que bastava um governo “de confiança” para o déficit ser contido, desmorona dia a dia.
Tais agentes, obviamente, erraram. Na euforia, lembrar tal hipótese era gesto mal visto e interpretado como torcer contra. Todavia, desde o início restava claro que o governo carecia de legitimidade e que esta, no mundo inteiro e no Brasil em particular, sempre é compensada com o que Max Weber chamou de prebendas, ou seja, com mais gasto público.
No caso de Temer, mais complicado ainda é que sua base de sustentação não seria popular, mas congressual. Dizer que não está preocupado com a impopularidade é mero jogo retórico: ela tem custo, e aí quem precifica não é o mercado financeiro, mas o da política. Neste, a regra do jogo é que a “base aliada” cobra, e será mais cara quanto maior for a impopularidade.
Mas não nos iludamos: o rombo não vem apenas do estimado R$ 2 bilhões da liberação de emendas parlamentares ou de outras prebendas, o chamado de “keynesianismo fisiológico”, embora estas sejam por si só repugnantes e imorais quando há cortes em setores essenciais (desde hospitais, universidades e forças armadas até passaportes).
Deve-se também a erro de diagnóstico da equipe econômica, ao entender que a arrecadação viria com o crescimento, e que bastava credibilidade e um governo de confiança aos credores para isso ocorrer.
A euforia no lado financeiro não chega aos investimentos produtivos de forma automática; reticente, o empresário paga para ver, ainda mais na grave depressão como a atual. Se a receita fosse tão simples, a história das crises seria outra. Meirelles confiou demais em seu taco – ou, talvez a melhor frase, confiaram demais no taco dele. Mas ainda continua blindado.
Críticas tendem a ser desqualificadas e os erros são postos somente na conta de Temer. Falar sobre suas ligações com a JBS ou sobre sua condução equivocada da política econômica parece não ter eco. E a ironia é que boa parte do cacife provém de presidir o Banco Central no governo Lula.
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