01 Junho 2017
“Tristes “novos tempos”, nos quais a tradição filosófica de Locke e Smith, que tanto contribuiu para a construção iluminista ocidental, serve a seu avesso – a aposta na ignorância. Nada mais atual do que o velho ditado de meu avô, um chimango são-borjense: “a ignorância é atrevida”. Nem os deputados que aprovaram as medidas sabem por que o fizeram, pois não apareceram os estudos e projetos que lastreariam a decisão”, escreve Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS, em artigo publicado por Zero Hora, 01-06-2017.
É mais que oportuno o entendimento do Ministério Público de Contas do TCE-RS sobre a suspensão do fechamento de várias fundações importantes até que o governo do Estado explicite como tal ato guarda relação com os objetivos alegados, quais sejam, controle de despesas e modernização de gestão. Esta é justamente a pergunta que todos se fazem desde que o projeto veio a lume. Inicialmente, o governador argumentou que visava ao enfrentamento do déficit, mas não apresentou nenhum estudo ou projeto que o evidenciasse. Vários críticos defendem que a diminuição é irrisória (por volta de 0,5%), além de as tarefas executadas por tais fundações precisarem ser feitas por outros órgãos ou empresas, e que essas têm custos. Nenhuma resposta. E, na ausência desta, assessores palacianos atropelaram o argumento do próprio governador: o objetivo não era atacar custos, mas modernização de gestão, em consonância com os “novos tempos”.
Ora, não precisa ser especialista na área para saber que o termo “modernização” é vago e extenso a ponto de abarcar quaisquer medidas a que se queira dar conotação positiva (quem seria a favor de seu oposto, o “atraso”?). Nada significa sem que se explicitem metas concretas e quantificadas, as quais não podem ser reduzidas à rasa retórica de chavões de manuais. Substituiu-se, com a troca de argumento, a razão econômica pela estritamente política, ou a racionalidade ora questionada pelo MPC por simples e descarada ideologia. Essa emoldurada por um liberalismo tosco que nem para neoliberalismo serve, pois simplesmente extingue as fundações sem ter a capacidade de mostrar seu impacto no déficit (e por que a medida foi escolhida em vez de outras, como as isenções e subsídios) e ataca os fundamentos do que se considera gestão meritocrática, pois demite concursados e profissionais de larga experiência e titulação e fecha órgãos de pesquisa e laboratórios.
Tristes “novos tempos”, nos quais a tradição filosófica de Locke e Smith, que tanto contribuiu para a construção iluminista ocidental, serve a seu avesso – a aposta na ignorância. Nada mais atual do que o velho ditado de meu avô, um chimango são-borjense: “a ignorância é atrevida”. Nem os deputados que aprovaram as medidas sabem por que o fizeram, pois não apareceram os estudos e projetos que lastreariam a decisão.
A sociedade aguarda a resposta.
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O silêncio sem inocentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU