17 Novembro 2016
Uma carta. Cinco perguntas sobre os pontos mais controvertidos da Amoris Laetitia, que Francisco não respondeu. Um motivo a mais, dizem, para “informar a respeito de nossa iniciativa ao povo de Deus”.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Chiesa.it, 14-11-2106. A tradução é do Cepat.
A carta e as cinco perguntas não tem necessidade de tantas explicações. Basta lê-las. A novidade é que quatro cardeais que, no último dia 19 de setembro, as entregaram a Francisco, sem ter tido resposta, decidiram torná-las públicas, estimulados justamente por este silêncio do Papa, para “continuar a reflexão e a discussão” com “todo o povo de Deus”.
Explicam isto no prefácio da publicação do todo. E o pensamento corre direto a Mateus 18, 16-17: “Seu teu irmão não te der ouvido, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não faça caso, diga à comunidade”.
“Testemunha”, neste caso, foi o cardeal Gerhard L. Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, porque também ele, além do Papa, recebeu a carta e as perguntas.
As cinco perguntas foram formuladas, efetivamente, como nas interpelações clássicas à Congregação para a Doutrina da Fé. Ou seja, foram formuladas de tal modo que se possa responder simplesmente a elas com um sim ou com um não.
Normalmente, as respostas dadas pela Congregação mencionam explicitamente a aprovação satisfatória do Papa. E nas audiências pessoais concedidas por Francisco ao cardeal prefeito, após a entrega da carta e das perguntas, evidentemente os dois não falaram delas.
Mas, precisamente os quatro cardeais não receberam nenhuma resposta ao seu apelo, nem por parte do cardeal Müller, nem por parte do Papa, evidentemente por vontade deste último.
Os quatro cardeais que assinaram e agora dão a conhecer publicamente esta carta não estão entre os mesmos que, há um ano, no início da segunda sessão do sínodo sobre a família, entregaram a Francisco a famosa carta “dos treze cardeais”.
Os treze eram membros do sínodo e estavam em pleno serviço nas suas respectivas dioceses. Também ocupavam cargos importantes na cúria, como os cardeais Robert Sarah, George Pell e o próprio Müller.
Mas estes quatro, com uma autoridade reconhecida por todos, estão privados de papéis operativos, seja por motivos de idade ou porque foram exonerados.
É isto o que os torna mais livres. Com efeito, não é um mistério que seu apelo foi e é compartilhada por não poucos cardeais que ainda estão em plena atividade, também por bispos e arcebispos de primeiro nível, no Ocidente e Oriente, mas que decidiram permanecer nas sombras.
Em poucos dias, 19 e 20 de novembro, se reunirá em Roma todo o colégio de cardeais para o consistório convocado pelo papa Francisco. Inevitavelmente, o apelo dos quatro cardeais se converterá em tema de animada discussão entre eles.
Avanços e retrocessos históricos. Foi no consistório de 2014 que Francisco abriu caminho à longa marcha que desembocou na exortação Amoris Laetitia, quando confiou ao cardeal Walter Kasper a exposição de abertura, em apoio à comunhão para os divorciados em segunda união.
Nesse consistório, a controvérsia se deflagrou imediatamente de forma ardente. É a mesma que até hoje mais divide a Igreja, também em seus níveis mais altos, visto como são contraditoriamente interpretadas e aplicadas as não claras sugestões da Amoris Laetitia.
Kasper é alemão e, curiosamente, dois dos cardeais que – na frente que lhe faz oposição – publicam o presente apelo são também alemães, sem mencionar o cardeal Müller, que assinou a cartas “dos treze” e que agora recebeu esta outra carta não menos explosiva.
A divisão na Igreja existe e atravessa clamorosamente esta Igreja da Alemanha que, para muitos, representa a ponta mais avançada da mudança.
E o papa Francisco cala, talvez porque pensa que “as oposições ajudam”, tal como explicou a seu irmão jesuíta Antonio Spadaro ao fazer editar a antologia de seus discursos como arcebispo de Buenos Aires, há poucos dias nas livrarias.
Acrescentando que: “A vida humana está estruturada em forma de oposições. É o que acontece, nesse exato momento, também na Igreja. Não necessariamente as tensões se resolvem e são homologadas. Não são como as contradições”.
Mas, aqui, precisamente, se trata de contradições. Sim ou não. São estas e não outras respostas que devem ser dadas às cinco perguntas, dos quatro cardeais, sobre pontos cruciais da doutrina e da vida da Igreja colocados em dúvida pela Amoris Laetitia.
Nota da IHU On-Line: A íntegra da carta, sob o título Criar clareza. Alguns nós por resolver em "Amoris laetitia" - Um apelo, em espanhol, inglês, português, alemão e italiano, pode ser lida aqui.
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“Aclarar”. O apelo de quatro cardeais ao Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU