"A revelação da Trindade emerge do abraço amoroso do Senhor Crucificado/Ressuscitado. Desde a montanha onde tudo começou, onde Jesus abraça esta comunidade fragilizada pela dor, cheia de fé e dúvidas, se dá ordem da caminhada final, até o fim deste tempo de violência e injustiça, de desamor e abandono. Por isso Jesus “chega perto”, se “aproxima”, “senta junto”, todos significados da expressão proselton, em grego. Então lhes declara que eles têm, em seu nome, “todo o poder” (contra o qual poder algum poderá, nem mesmo estes que agora causam tanto sofrimento. v. 18), lhes envia a dar esse mesmo abraço parental, fraternal e empoderador. Abraço que se partilha discipulando e batizando, sem exclusão (a todas as nações) e, consolando, pois não acaba enquanto este tempo (eon) carente amor, justiça e paz, durar (v.20)."
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Leituras do dia
Evangelho: Mt 28, 16-20
Primeira Leitura: Dt 4,32-34.39-40
Segunda Leitura: Rm 8, 14-17
Salmo: Sl 32, 4-5.6.9.18.19.20.22
Evangelho
O Evangelho deste Domingo da Santíssima Trindade, segundo Gillermo Hendriksen (El Evangelio según San Mateo) recebe três nomes diferentes: “a grande declaração”, “o grande mandato” ou “a grande consolação”. Na verdade este autor capta bem esse tríplice sentido com que culmina o Evangelho de uma igreja perseguida e abatida pela violência que parece não ter fim. Uma “declaração”, porque anuncia o “poder/autoridade” (exousia) que lhe é dado no céu e na terra (26.18). Um “mandato”, porque tem o “ide/vai” (poreutentes) e “discipulai/fazei discípulos/as” (mateteusate) em 26.19. E uma “consolação”: “estarei com vocês todos os dias até o fim do tempo” (eon).
Podemos dizer que o final do Evangelho segundo a comunidade de Mateus é um abraço trinitário que empodera, envia e anima. Por outro lado, a formulação única da Trindade neste texto – único em que aparece a fórmula “do Pai e do Filho e do Espírito Santo” – chama a atenção e gera questionamentos: como será que esta comunidade chegou a esta fórmula trinitária tão clara e vinculada ao batismo? Certamente, foi fruto deste abraço particular com que Jesus reencontra seus discípulos onde tudo começou: na Galileia.
Não esquecer o ponto de partida (26,16)
O texto faz questão de criar um contexto. Enfim, a declaração, o mandato e a consolação poderiam ter sido ditas em qualquer lugar, até mesmo em Jerusalém. Mas, a Jerusalém que esta comunidade lembra está destruída e banhada em sangue (inclusive de pessoas das comunidades cristãs). No versículo 16, diz que “quando os discípulos foram para Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha ordenado”. Jesus é que “ordena” (etassato) buscar o ponto de partida – princípio depois adotado por Santa Clara de Assis – e a uma montanha onde tudo pode se ver e compreender em amplitude e profundidade (assim como no sermão em Mt 5-7 ou na transfiguração Mt 17.1-9, lugar que é mais lembrado neste Evangelho do que em qualquer outro).
Viver a adoração e superar a dúvida (26,17)
A atitude de “adorar” (proskineo) também é mais usada neste Evangelho do que em qualquer outro. Os primeiro a adorá-lo foram os Sábios de Oriente (Mt 2,2.8.11). Jesus lembra do mandamento de “adorar somente ao Senhor teu Deus” para vencer Satanás (Mt 4.10), às pessoas lhe adoraram pedindo cura para si ou para outras pessoas (Mt 8,2;9,18;15,25), e também os próprios discípulos e discípulas reconhecendo sua divindade e ressurreição (Mt 14,33;20,20, 28,9). Mas, tem aquelas pessoas que ainda duvidavam (edistaxan), uma palavra que aparece somente neste Evangelho e apenas duas vezes, aqui e quando Pedro afundava na água por duvidar (14,31). Esta comunidade tinha fé (adorava), mas isso não apagava a dor, a dúvida, a incerteza, que precisava ser empoderada, enviada para a missão e animada pela presença permanente de Jesus.
O abraço trinitário do discipulado e do batismo (26,18-20)
A revelação da Trindade emerge do abraço amoroso do Senhor Crucificado/Ressuscitado. Desde a montanha onde tudo começou, onde Jesus abraça esta comunidade fragilizada pela dor, cheia de fé e dúvidas, se dá ordem da caminhada final, até o fim deste tempo de violência e injustiça, de desamor e abandono. Por isso Jesus “chega perto”, se “aproxima”, “senta junto”, todos significados da expressão proselton, em grego. Então lhes declara que eles têm, em seu nome, “todo o poder” (contra o qual poder algum poderá, nem mesmo estes que agora causam tanto sofrimento. v. 18), lhes envia a dar esse mesmo abraço parental, fraternal e empoderador. Abraço que se partilha discipulando e batizando, sem exclusão (a todas as nações) e, consolando, pois não acaba enquanto este tempo (eon) carente amor, justiça e paz, durar (v.20).
Relacionando com os outros textos
A Santíssima Trindade é Deus que abraça, da mesma forma que desde a criação abraçou amorosamente a humanidade e depois abraçou o povo oprimido e sem terra, dando um rumo e um sentido para sua caminhada (Dt 4.32-34.39-40). Abraço trinitário que se revela através do Espírito de adoção e não de escravidão que o apóstolo Paulo apresenta para a comunidade de Roma (Rm 8,15-16).
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