05 Junho 2020
"Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha
a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por
meio dele. Quem acredita nele, não está condenado; quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do
Filho único de Deus".
Leitura do Evangelho de João 3, 16-18. (Correspondente à Festa da Santíssima Trindade, ciclo A do Ano litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Continuamos com as grandes festas da nossa fé. Neste domingo celebra-se a Festa da Santíssima Trindade, que nos lembra dum aspecto essencial da nossa vida cristã. A liturgia de hoje contribui para que aprofundemos na presença do Espírito Santo na comunidade, que nos revela o Amor de Deus Pai e Mãe na pessoa de Jesus.
O trecho do evangelho situa-se no cenário do encontro entre Jesus e Nicodemos, que “foi encontrar-se com Jesus à noite”. Diz-se que os rabinos estudavam até a noite e o evangelho nos traz assim esta busca de Jesus como fonte de conhecimento. Nicodemos era “um judeu importante” que conhecia os sinais que Jesus realizava e por isso vai até ele.
Sua presença diante de Jesus à noite sinala também seu medo diante dos seus, como também expressa uma possível pergunta que havia sido feita por
alguns fariseus sobre a origem de Jesus: será ele o profeta enviado por Deus para acelerar a chegada do reino de Deus mediante o cumprimento da Lei? Mas Jesus fala da necessidade de nascer de novo, é fundamentalmente nascer do alto! Apesar de ser mestre de Israel, Nicodemos não compreende as palavras de Jesus e sua mensagem!
“Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” Assim começa a narrativa sobre a qual meditamos hoje. Para acolher as palavras de Jesus é preciso abrir-se e receber o amor de Deus na pessoa de Jesus. Esse é o Pai que Jesus vai nos revelar. No amor de Deus não há limites, só é preciso acolher a pessoa de Jesus que faz nascer em nós a vida eterna.
O amor de Deus é um amor que só pode ser compreendido se é experimentado. É uma experiência da sua presença na nossa vida e na vida das comunidades que nos conduz a redescobrir sua presença de amor no meio de nós. Ele está presente, mas muitas vezes nossas atitudes impedem que possamos reconhecê-lo e, assim, acolhê-lo para que faça morada em nós.
A Trindade é uma relação de amor entre as Pessoas que se manifesta no grande amor ao ser humano na entrega de seu Filho. Esta festa é uma memória vivente da presença do Pai, Filho e Espírito Santo que põem sua morada na nossa vida e nas comunidades que não fecham a porta ao seu Amor. Desta forma pode-se falar da experiência de Deus que nos conduz a Ele, à vivência da sua presença e ternura. Não há distinção de pessoas porque seu amor é “para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 16).
Como disse Enzo Bianchi, “Eis o dom dos dons de Deus: dom gratuito, dom de si mesmo, dom irrevogável e sem arrependimento; dom nunca merecível, mas que deve ser acolhido com fé; dom feito apenas por um amor louco de Deus, que quis se tornar homem, carne frágil e mortal (cf. Jo 1, 14), para estar no meio de nós, conosco, e assim compartilhar a nossa vida, a nossa luta, a nossa sede de vida eterna” (Texto completo: Uma comunhão de amor).
Podemos perguntar-nos, como descobrimos sua Presença na história de salvação? Como é possível reconhecê-lo neste momento histórico que estamos vivendo?
Nosso Deus não ficou separado da humanidade, senão pelo contrário, é um amor que se entregou por cada um e cada uma de nós. Não é possível acreditar em Deus se não acredito no irmão que está ao meu lado. Acreditar em Deus e receber seu amor deve-se expressar no compromisso com todas as pessoas que sofrem as injustiças sociais, a marginalização ou, como acontece neste tempo de pandemia, a exclusão social pela possibilidade de contágio e por isso devem ficar à beira do caminho, “fora da cidade”.
Como disse o Papa Francisco na carta aos irmãos e irmãs dos movimentos e organizações populares: “vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”.
E continua dizendo: “Quero que saibam que nosso Pai Celestial olha para vocês, vos valoriza, reconhece e fortalece em sua escolha. Quão difícil é ficar em casa para quem mora em uma pequena casa precária ou para quem de fato não tem teto. Quão difícil é para os migrantes, as pessoas privadas de liberdade ou para aqueles que realizam um processo de cura para dependências. Vocês estão lá, colocando seu corpo ao lado deles, para tornar as coisas menos difíceis, menos dolorosas”.
Deixando que suas palavras ecoem na nossa vida e no nosso agir, celebramos esta festa da Trindade sendo testemunhas vivas do amor do Pai por toda a humanidade.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
saíste da eternidade
à intempérie dos tempos,
e em uma herança corrompida,
divino e humano conosco,
aninhou teu amor um vôo
de asas solidárias
girando até a altura,
elevando sem fim o horizonte.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
te encarnaste para dizer-te perto,
na inaudita pretensão
de ser todas as línguas e cores
em uma carne mortal e reduzida,
de ser uma parábola inesgotável
de matizes infinitos pelos séculos,
chegando viva e nova para todos
até o umbral dos sentidos.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste
te arriscaste no lugar mais baixo
vigiado, excluído e fracassado,
para oferecer-nos a Vida
em encontros vulneráveis,
na face sem falsidade,
às vezes beijado como amigo
e no final triturado sem remédio
até a morte e o escárnio.
Em teu Filho Jesus
te ex-puseste,
não te impuseste com teofanias
de fogos e espantos siderais,
nem com a sedução astuta,
nem com o poder armado,
porque somente em encontros livres
podem engendrar-se auroras
para ressurgir desde a noite
mais divinamente amanhecidos
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
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