“Alegria não é uma coisa que se compra; quem faz a alegria no coração é o Espírito Santo”

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15 Março 2023

"'Não obstante todo o progresso e bem-estar alcançados durante os últimos dois séculos, o nível da alegria no mundo não subiu, mas, pelo contrário, baixou notavelmente'. A constatação do filósofo, teólogo e sacerdote xaveriano Battista Mondin (1926-2015) data de 1977. (...) Não à toa, a reflexão sobre a alegria é uma constante no pontificado do Papa Francisco". 

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

"O homem do nosso tempo tem absolutamente necessidade de alegria. (...) Não obstante todo o progresso e bem-estar alcançados durante os últimos dois séculos, o nível da alegria no mundo não subiu, mas, pelo contrário, baixou notavelmente." A constatação do filósofo, teólogo e sacerdote xaveriano Battista Mondin (1926-2015) data de 1977 e corrobora o que foi dito pelo Papa Paulo VI na exortação apostólica Gaudete in Domino, sobre a alegria cristã, dois anos antes:

"A sociedade técnica teve a possibilidade de multiplicar as ocasiões de prazeres; no entanto, ela encontra grandes dificuldades de engendrar também a alegria. Porque a alegria tem outra origem. É espiritual. Assim, o dinheiro, o conforto, a higiene e a segurança material, etc. muitas vezes não faltam; e, apesar disso, o tédio, o mau humor e a tristeza infelizmente continuam a ser a sorte que cabe a muitos. E isto, não raro, chega até ao ponto de tornar-se angústia e desespero, que a presente ausência de cuidados, o frenesi de felicidade presente e os paraísos artificiais não conseguem eliminar."

Não à toa, a reflexão sobre a alegria é uma constante no pontificado de Francisco. Segundo ele, a alegria nada tem a ver com euforia e otimismo e tampouco depende das circunstâncias externas.

"A alegria não é viver de risada em risada. Não, não é isso. A alegria não é ser divertido. Não, não é isso. É outra coisa. A alegria cristã é a paz. A paz que está nas raízes, a paz do coração, a paz que somente Deus pode dar. Esta é alegria cristã. (...) Não é uma coisa que você compra no mercado; é um dom do Espírito, e também vibra no momento das tribulações, no momento da provação. (...) A alegria cristã é o respiro do cristão. Um cristão que não é feliz no coração não é um bom cristão. É o respiro, o modo de se expressar do cristão, a alegria. Não é uma coisa que se compra ou o que faço com o meu esforço. Não. É um fruto do Espírito Santo. Quem faz a alegria no coração é o Espírito Santo."

Este período da Quaresma, no qual o Senhor nos convida ao silêncio, à oração, ao jejum e à esmola – como nos ensina a Igreja –, disse o Papa em outra ocasião, "é o tempo propício para dar espaço à Palavra de Deus. É o tempo para desligar a televisão e abrir a Bíblia. É o tempo para nos desconectarmos do celular e nos conectarmos ao Evangelho. A Quaresma é o deserto, é o tempo para renunciar, para nos distanciarmos do celular e nos conectarmos ao Evangelho. É o tempo para renunciar a palavras inúteis, fofocas, conversinhas, mexericos e falar e dar do 'tu' ao Senhor".

Segundo ele, este é igualmente o tempo para limpar o coração de tantas misérias e vícios e nos conectarmos novamente com o essencial:

"É o tempo para dedicar-se a uma sã ecologia do coração, fazer limpeza ali. Vivemos em um ambiente poluído por muita violência verbal, por tantas palavras ofensivas e nocivas, que a rede amplifica. Hoje se insulta como se se dissesse: 'Bom dia'. Estamos submergidos de palavras vazias, de publicidade, de anúncios falsos. Estamos habituados a ouvir de tudo sobre todos e arriscamos cair em uma mundanidade que nos atrofia o coração. Custamos para distinguir a voz do Senhor que nos fala, a voz da consciência, a voz do bem. Jesus, chamando-nos no deserto, nos convida a ouvir aquilo que conta, o importante, o essencial."

A atrofia do nosso coração é tão grande, assegura, que por vezes "não estamos tão acostumados a pensar em Jesus sorridente, alegre". Mas Jesus, diz, "estava cheio de alegria, cheio de alegria. Naquela intimidade com seu Pai: ‘Exultou de alegria no Espírito Santo e louvou o Pai’. É precisamente o mistério interno de Jesus, aquela relação com o Pai no Espírito. É sua alegria interior, sua alegria interior que Ele nos dá”.

Que nesta Quaresma, possamos nos unir ao Papa Francisco em sua oração pela alegria:

 

Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida,
na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno,
ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.

Vós, cheia da presença de Cristo,
levastes a alegria a João, o Batista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe.

Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor.
Vós, que permanecestes firme diante da Cruz
com uma fé inabalável,
e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição,
reunistes os discípulos à espera do Espírito,
para que nascesse a Igreja evangelizadora.

Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados,
para levar a todos o Evangelho da vida
que vence a morte.
Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos,
para que chegue a todos
o dom da beleza que não se apaga.

Vós, Virgem da escuta e da contemplação,
Mãe do amor, esposa das núpcias eternas,
intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.

Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.

Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós.

Amém. Aleluia!

Papa Francisco (Evangelii Gaudium)

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