Solenidade Todos os Santos – Ano C – Alegrai-vos e exultai! O rosto de Deus é alegria, justiça e paz

(Foto: Pixabay)

04 Novembro 2022


“Mais que penso, sinto nestas leituras um reforço da consolação, sopro do Espírito, alento para a caminhada que vai chegando a um fim, não importa em que tempo, importa quanto ao Caminho”, escreve Eliana Yunes na reflexão a seguir.

Formada em Filosofia e Letras, ela possui doutorado em Linguística e Literatura, é pesquisadora e crítica, com publicações em interpretação, Teorias da Leitura e Formação de Leitores, estudos inter e transdisciplinares nas áreas de Hermenêutica, Letras, Educação, Artes, Teologia e Políticas Públicas. Atualmente é professora visitante em universidades do Brasil e exterior, com estudos interdisciplinares,  pesquisadora em leitura e formação do Leitor,  supervisora de estudos e publicações da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio

 


Leituras do dia

1ª leitura: Ap 7,2-4.9-14
Salmo: Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
2ª leitura: 1Jo 3,1-3
Evangelho: Mt 5,1-12a


Jesus Cristo, condensou as tábuas da lei em dois mandamentos, com uma só demanda: amar - ao próximo que vemos e a Deus que não vemos, mas transparece na fraternidade que implica um Pai comum. Este Pai, nos fez conhecer o exemplo de Filho, em Jesus Cristo. Sua vida pública consistiu no anúncio do Reino de Deus, o tempo em que a cura, a partilha, a compaixão e a vida, já ali, alcançavam a precedência sobre todos os males.

Ele não veio para punir, para apagar o pavio que fumega, veio para todos os que desejam a paz, para os que sentem que o sofrimento não é justo e clamam pela misericórdia, como o filho pródigo. É Ele mesmo quem vai recebe-los, lavá-los de toda penúria, e a semelhança de Deus, anunciada no Gênesis, se revelará nos purificados diante do Pai, quando a criação toda se rejubilará, pelo Cordeiro, nos mostra o Apocalipse neste domingo.

Talvez, como os Apóstolos perguntaram a Jesus sobre os poucos que se salvariam, nos perguntemos sobre a porta estreita, sobre quem será digno de subir ao monte do Senhor, como questiona Davi no salmo 23. Certamente os que buscam Sua face para a Ele se assemelharem e com isto, mãos limpas e coração puro, atos e desejos vão nós estar preparando para o encontro de cada dia.

Hoje, talvez, sejamos ainda irreconhecíveis em meio às tribulações, ao choro, à perseguição, às necessidades que já poderiam estar sanadas, desde o anúncio maravilhoso da boa nova. Porque o rosto de Deus é alegria, justiça e paz cuja similitude exibimos por agora como falta. Basta olhar as ruas das cidades, as periferias, as fronteiras, para vermos como não somos ainda a imagem d'Ele. - João nos lembra. E mais: que a vinda do Filho é já a última hora e, para sua volta, a esperança em Seu nome é suficiente para nos purificar porque, em função dela, nossas ações correspondem à fé que está posta em Seu amor anunciado e manifesto na própria vida.

Se fizermos um paralelo entre o que Deus propôs a Moisés no Monte Sinai (e ao povo que não quis espera-lo, fundindo um bezerro de ouro para adorar), com o que Jesus proclamou no alto da montanha às multidões que o esperavam, como o Sermão das bem-aventuranças, podemos encontrar renovados os mandamentos, inscritos pelo, agora, com proibições, mas positivas.

Tenham coração de pobre, generoso, aberto ao próximo, porque o reino é seu; (Bem-aventurados os que tem um coração de pobre...)

Não lamentem suas lágrimas, porque o consolo definitivo virá do Pai, como veio na vitória sobre a morte, na ressurreição do Filho; (...os que choram...)

Exerçam a mansidão, a perseverança, a entrega confiante, pois a terra prometida é sua; (...os mansos...)

Serão saciados pelo próprio Deus, os que pedem por pão e justiça, pois Justo é Seu nome;(...os que tem fome e sede...)

1.Sejam compassivos, e quando pedirem a misericórdia do Pai, Ele os reconhecerá; (...os misericordiosos...)

2. Não cedam ao mal, sejam seus desejos transparentes, puros e Deus se mostrará a seus olhos; (...os puros de coração...)

3. Promovam a paz, que abraçará a justiça, e Ele saberá que são, de fato, Seus filhos; (... os pacíficos...)

4. O Reino, que desde já está instalado, será perseguido, mas não temam porque dia virá em que nele estarão diante do trono com o Cordeiro vivo;(... os perseguidos...)

5. Saibam que serão caluniados por estarem comigo, vão mentir e falsear o que lhes digo, contudo, a verdade libertará suas angústias e lhes dará recompensa a seu tempo. (...quando disserem todo mal falsamente...)

Em Lucas, mais prolixo que Mateus, falando do Sermão da Montanha, Ele confirma que seremos filhos do Altíssimo se nossa bondade exceder a lei, pois Deus é bom, mesmo para ingratos e maus.

Mais que penso, sinto nestas leituras um reforço da promessa, sopro do Espírito, alento para a caminhada que vai chegando a um fim, não importa em que tempo, importa quanto ao Caminho; sim, é este mesmo, nele está a vida, nossas vidas, no convite para subir a montanha onde nenhum dano nos atingirá, nenhum anjo nos danificará, pois que nossas práticas tornam-se o sinal com que seremos assinalados para vestir o traje branco da festa da qual não seremos expulsos.

João, Paulo, Davi, nos animam a acompanhar Este que nos diz para exultar, pois Deus é nosso Pai. Alegremo-nos, Ele nos olhou e nos chamou bem-aventurados!

“Eu os abençoo, eu os bendigo”, continua Jesus, “porque me ouvem e confiam”, lembrando a recusa aos mandamentos mosaicos que levam ao que o Filho do Homem denuncia, advertindo que a Lei é dura, mas o Amor de Deus é maior que ela.


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