05 Outubro 2018
No Sínodo dos bispos que iniciou nessa quarta-feira, 3 de outubro, sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, um dos participantes é também o Ir. Alois, prior de fraternidade ecumênica de Taizé.
A reportagem é de Madeleine Spendier, publicada por Katholisch.de, 02-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A fraternidade, como se sabe, é frequentada todos os anos por milhares de jovens e adolescentes, e tem uma grande experiência no campo juvenil. Mesmo que não possa votar, o Ir. Alois terá a oportunidade de oferecer uma valiosa contribuição aos Padres sinodais nas suas discussões e deliberações.
Ir. Alois, o senhor participará do Sínodo dos jovens de outubro como “convidado especial”. O que isso significa?
Como a comunidade de Taizé não tem um status canônico, fui convidado para este Sínodo como “convidado especial”, que não vota, porque essa é a tarefa dos bispos. O Papa Francisco recentemente mudou as regras para a realização dos Sínodos. No futuro, talvez, os superiores maiores dos institutos religiosos e os leigos também votarão, e isso seria uma coisa muito boa.
Como será, concretamente, a sua tarefa no Sínodo?
Se tudo ocorrer como nos dois Sínodos dos quais participei em 2008 e 2012, eu terei, assim como os bispos, quatro minutos para falar diante da assembleia e participarei dos grupos de trabalho. Espero que haja discussões animadas e uma boa atmosfera. Sinto-me solidário com os jovens e espero que algo mude em relação a eles.
Que mudanças o senhor espera?
Espero que os jovens sejam mais escutados na Igreja. Eles deveriam sentir que a Igreja é um lugar de amizade. Nós, em Taizé, notamos claramente que, entre os jovens, há um grande desejo espiritual. Muitos, depois de uma semana, afirmam como o silêncio se tornou importante para eles. É um fato surpreendente – especialmente em um tempo turbulento como o de hoje. Também percebemos quantos jovens buscam uma experiência de comunidade. Como podemos responder melhor a eles na Igreja?
Os jovens, muitas vezes, encontram dificuldades com a Igreja instituição. Muitos jovens vão a Taizé. O que vocês fazem de melhor?
Nós, em Taizé, não fazemos nada de melhor! Talvez seja a nossa vida como irmãos que é tão atraente. Nós viemos de diversos continentes e vivemos reconciliados na nossa diversidade. Essa vida intercultural, que vai além das fronteiras, fascina muitos jovens. Nós nos reunimos três vezes por dia para a oração e convidamos todos a participar. Tentamos ser como um ponto de referência em torno do qual é possível se reunir. E tomamos tempo para os adolescentes. Muitos estão enraizados na tradição da Igreja, enquanto outros, não. Muitos nem sabem se creem. Muitas vezes nos perguntam como crer. Esses jovens buscam o seu lugar na grande comunidade que é a Igreja.
O que é importante hoje para ir ao encontro dos jovens?
Acredito que se trata de dois pontos: nós, irmãos, todos os dias, oferecemos uma introdução bíblica, mas, para o resto, não nos intrometemos no andamento do dia. Os jovens, nos grupos de discussão, estão entre eles e organizam os trabalhos práticos. Desse modo, nascem profundas relações. Por outro lado, nós, irmãos, estamos sempre presentes como pessoas às quais é possível se dirigir. Enquanto alguns jovens, depois da oração da noite, continuam cantando até tarde da noite, outros permanecem conosco na igreja. Quem deseja um diálogo sabe onde nos encontrar. Os jovens precisam de alguém que escute os seus problemas e as suas alegrias. Nós não temos respostas prontas, mas tentamos escutar com atenção. Isso muitas vezes ajuda a progredir. Mas eu repito continuamente que eles também ajudam a nós, irmãos, indo nos encontrar. Nós não nos colocamos como mestres espirituais e nem sequer somos “melhores” na fé. Os jovens, vindo ao nosso encontro, nos estimulam a permanecer fiéis à nossa vocação.
Taizé não seria talvez uma sociedade paralela ou até mesmo competitiva com a atividade juvenil da Igreja local?
Se assim fosse, seria ruim! Nós, em Taizé, não somos um planeta que gira em torno de si mesmo. De vez em quando, os jovens nos relatam como estão decepcionados com a sua comunidade eclesial. Muitos simplesmente são gratos por terem encontrado um caminho para a oração que desejam continuar na casa deles. Além disso, muitos em Taizé ampliam o seu horizonte e experimentam como enriquece o fato de superar as fronteiras e ir ao encontro dos outros, das pessoas que vivem nas margens da sociedade, dos migrantes... Nós sempre dizemos aos jovens: Taizé é apenas um lugar de passagem! Voltem para as comunidades de vocês, procurem um grupo existente localmente! Sem comunidade, a fé se atrofia.
A Fraternidade de Taizé tem visões mais liberais sobre a moral sexual do que a Igreja oficial?
Eu não gosto da palavra “liberal” nesse contexto. O que significa? Gosto de ver que hoje na Igreja é possível falar mais abertamente de sexualidade. Tentamos levar a sério cada um dos seus problemas e não julgamos nem as tendências homossexuais nem de qualquer outro tipo. Pelo contrário, acolhemos os jovens como eles são e tentamos refletir junto com eles como pode amadurecer o amor deles e quais são os próximos passos a serem dados nesse sentido. Para mim, é determinante a afirmação do Papa Francisco, que disse: “Quem sou eu para julgar?”. São palavras claras!
O senhor foi frequentemente um convidado do papa. Sobre o que o senhor fala com ele?
A última vez que eu o visitei foi em março passado. Ele está muito bem informado sobre a nossa vida em Taizé. Ele tem uma grande estima pelo Ir. Roger, mesmo que, pessoalmente, nunca tenha se encontrado com ele. O papa também se alegrou muito pelo fato de que nós, em vista da nossa “Peregrinação da Confiança”, preparamos um encontro que ocorreu no fim de agosto em Hong Kong. Eu assegurei a ele que rezamos por ele. Por isso, muitas vezes eu digo aos jovens: “Rezem pelo papa. Não são necessárias ladainhas – apenas um suspiro”.
Por que um suspiro?
O Papa Francisco quer abrir novos caminhos. Ele não tem soluções prontas, mas traça uma direção e depois vê como envolver as pessoas. Esse é um modo totalmente novo de exercer a autoridade na Igreja. O Papa Francisco quer iniciar grandes mudanças e exerce a sua autoridade desse modo. Estou fortemente convencido de que só podemos fazer esse caminho juntos – por isso, devemos rezar!
Mas o Sínodo dos jovens não é um evento de oração...
Por que não? Eu acho que, em um Sínodo, não se deve apenas discutir juntos. Também queremos rezar juntos... a fim de nos escutar melhor e acolher a diversidade do outro... E isso só ocorre mediante a oração.
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Ir. Alois de Taizé é convidado especial do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU