02 Março 2016
O cardeal Bernard Francis Law tem 84 anos e vive em Roma como um simples purpurado em idade de pensão. A única diferença com respeito a todos os outros seus coirmãos é que nos momentos de maior movimento, como por exemplo nestas semanas nas quais “o caso Spotlight” saiu nas salas italianas e venceu o Oscar, ele não sai de sua habitação.
O temor, de fato, de encontrar pela rua jornalistas é grande, e Law não quer de nenhum modo faltar àquela promessa feita a si mesmo desde quando, em 2004, deixou para sempre Boston após as demissões como arcebispo após a falhada denúncia dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores na diocese: “The one thing”, “a única coisa da qual jamais falarei é de quanto aconteceu em Boston”, confiou então aos amigos.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 01-03-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Law vive hoje no Palácio da Chancelaria, entre Corso Vittorio Emanuele II e Campo d’e Fiori. O Palácio é sede histórica da Chancelaria Apostólica do Vaticano, junto a poucos apartamentos e, para alguns dignitários eclesiásticos, acolhe os tribunais da Santa Sé. É inútil chamá-lo ao telefone. O aparelho de casa soa sempre no vazio.
E, de resto, Law, para comunicar-se, serve-se de outros canais. Embora, com moderação, ainda receba pessoas, sobretudo velhos sacerdotes estadunidenses e amigos que de quando em quando passam para saudá-lo. Por certo, nos momentos de calma, é ele mesmo que sai para participar de alguma Missa no Vaticano, ou então, mas sempre em público entre o povo, para qualquer conferência em giro pela capital.
As vivências de Boston, com os escândalos que seguiram, constrangeram de fato pela primeira vez um cardeal à demissão. Então Karol Wojtyla precisou gerir algo novo e, não obstante já desde 2001 ele mesmo se tivesse decidido pela linha da “tolerância zero” (chamou a Roma todos os cardeais e bispos estadunidenses, para evitar equívocos, e lhes disse que a pedofilia não é compatível com o sacerdócio), não foi fácil.
Tanto que, além do Tibre, há quem explica que, se o caso se verificasse hoje, Law não gozaria das mesmas atenções então recebidas. Deixou Boston, sem dúvida, mas permaneceu arcipreste da Basílica Papa Liberiana de Santa Maria Maior até 2011. Embora, como fazem notar outros, nem Bento XVI nem Francisco jamais tenham adotado particulares medidas a seu respeito.
E, quando aos 15 de março de 2013 – dois dias após a eleição ao sólio de Pedro de Jorge Mario Bergoglio – alguns jornais reportaram uma notícia segundo a qual Francisco tivesse afastado da Basílica (então ainda residia ali) o cardeal Law, tanto o padre Federico Lombardi como o padre Thomas Rosica (colaborador de Lombardi durante o conclave) disseram que a coisa era “total e completamente falsa”.
Nascido no México de pais americanos, Law capitulou inicialmente por causa do emergir do caso referente ao reverendo John Geoghan, culpável de ter abusado de 130 menores no espaço de um par de décadas e por muito tempo mantido em serviço de uma paróquia a outra. Law defendeu o próprio caso e reivindicou o mérito de ter reduzido ao estado laical, em 1998, o mesmo Geoghan. O que, no entanto, não disse logo é que o caso Geoghan não era senão a ponta de um iceberg de um fenômeno mais amplo e que deflagrava conjuntamente por toda a Igreja.
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Os silêncios do cardeal Law, o primeiro forçado a deixar por não ter denunciado os abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU