2º domingo da quaresma - Ano C - "Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!"

03 Março 2022

 "Enquanto reza, Jesus muda de aspecto e diante dos discípulos aparece glorioso, do jeito que eles o imaginavam. E junto com Jesus, na mesma glória, aparecem Moisés e Elias, os dois maiores do AT, que representavam a Lei e os Profetas. Eles conversam com Jesus sobre 'o êxodo a ser completado em Jerusalém'. Assim, diante dos discípulos, a Lei e os Profetas confirmam que Jesus é realmente o Messias Glorioso, prometido no AT e esperado pelo povo. Mas confirmam também que o caminho para a glória passa pela travessia dolorosa do 'Êxodo'. O êxodo de Jesus é a sua paixão, morte e ressurreição. Pelo seu êxodo, ele vai quebrar o domínio da propaganda do governo e da religião oficial, que mantinha todos presos dentro da visão do Messias glorioso nacionalista. Jesus vai libertar o povo da Cruz. Parece que a fala da cruz não agrada. Eles querem é segurar o momento da glória no alto do Monte e se oferecem para construir três tendas."

 

A reflexão é de Amélia Hakme Romano, leiga, facilitadora do CEBI-Mato Grosso do Sul, colaborando com escolas e grupos de estudos bíblicos.

 

 

Leituras do dia

1ª leitura – Gen 15,5-12. 17-18
Salmo 26,1.7-9.13-14
2ª leitura – Fl 3,17-4,1
Evangelho – Lc 9,28b-36

 

Eis o texto

 

A liturgia deste 2º domingo da Quaresma nos convida a confiar nas promessas, na misericórdia e na fidelidade de Deus. 

 

A 1ª leitura (Gen 15, 5-12.17-18) nos conta da Aliança de Deus com Abraão prometendo um filho e o comprimento da palavra.

 

O Salmo 26 é um Salmo de confiança apesar das dificuldades e perigos. O Senhor é minha luz!

 

Na 2ª leitura (Fl 3,17-4,1) Paulo faz um pedido a comunidade: sedes fiéis ao Senhor!

 

O Evangelho é de Lucas (Lc 9,28b-36) é o evangelho da transfiguração de Jesus.

 

Nossos pés no chão da vida

 

Antes de comentarmos  este evangelho vamos lembrar que na nossa vida existem momentos de tantos sofrimentos, que chegamos a pensar: “Deus me abandonou! Não está mais comigo!”. Rapidamente descobrimos que Ele nunca nos abandonou. Nós é que estávamos com os olhos vendados sem enxergar a presença dele. Quando isso acontece, tudo muda e fica transfigurado. É a transfiguração!

 

Evangelho – Lc 9,28b-36

 

Recordando o início do capítulo 9, 1-27: Jesus convocou os doze e os enviou para anunciar o Reino de Deus e curar os doentes. Faz a multiplicação dos pães para alimentar a multidão. Sobe ao monte para orar, desce e pergunta: “O que o povo diz sobre mim?”. Dizem que és João Batista, Elias e um dos antigos profetas. Ele pergunta aos seus: “E vós, quem dizeis que eu sou”. Pedro diz: “Tu és o Messias de Deus!” Em seguida Jesus fala das condições para segui-lo. Esse jeito de Jesus anunciar o Reino causou grandes problemas com as autoridades do poder do império e das autoridades religiosas. Jesus anuncia que o Messias vai ser morto, e quem quiser segui-lo no mesmo compromisso com os pobres e excluídos, vai ter que carregar a mesma cruz. É o momento da crise, tanto para Jesus como para os discípulos.

 

Lucas nos conta que Jesus subiu a montanha para orar levando consigo Pedro, João e Tiago.

 

Durante a oração

 

Enquanto reza, Jesus muda de aspecto e diante dos discípulos aparece glorioso, do jeito que eles o imaginavam. E junto com Jesus, na mesma glória, aparecem Moisés e Elias, os dois maiores do AT, que representavam a Lei e os Profetas. Eles conversam com Jesus sobre “o êxodo a ser completado em Jerusalém”. Assim, diante dos discípulos, a Lei e os Profetas confirmam que Jesus é realmente o Messias Glorioso, prometido no AT e esperado pelo povo. Mas confirmam também que o caminho para a glória passa pela travessia dolorosa do “Êxodo”. O êxodo de Jesus é a sua paixão, morte e ressurreição. Pelo seu êxodo, ele vai quebrar o domínio da propaganda do governo e da religião oficial, que mantinha todos presos dentro da visão do Messias glorioso nacionalista. Jesus vai libertar o povo da Cruz

 

A reação dos Discípulos

 

Eles estavam dormindo e só acordaram no fim. Ainda puderam ver um restinho da glória de Jesus, mas não escutaram a conversa sobre o êxodo. Como acontece conosco tantas vezes, eles escutaram só aquilo que lhes interessava. O resto escapou da atenção deles! E agora, acordando, falam bobagem, ficam com medo e não querem mais descer. Toda vez que se fala da cruz, tanto no Monte da Transfiguração como no Monte das Oliveiras (Lc 22,45), eles dormem. Gostam mais da glória do que da cruz. Parece que a fala da cruz não agrada. Eles querem é segurar o momento da glória no alto do Monte e se oferecem para construir três tendas.

 

A voz do Pai

 

A voz do Pai sai da nuvem e diz: “Este é o meu filho, o eleito, ouçam-no”. Com esta mesma frase o profeta Isaías tinha anunciado o Messias-Servo (Is 42,1). Depois de Moisés e Elias, agora é o próprio Pai que apresenta Jesus como Messias-Servo que chega a glória através da cruz. No fim da visão, Moisés e Elias desaparecem e só fica Jesus. Isto significa que, daqui para frente, quem interpreta a Escritura e a Vontade de Deus para o povo será Jesus, só ele! Ele é a Palavra de Deus para os discípulos: "Ouçam-no!"

 

A Transfiguração é narrada em três Evangelhos: Mateus 17,1-8, Marcos 9,2-9 e Lucas 9,28-36. Sinal de que este episódio tinha uma mensagem importante para as primeiras comunidades. Ela foi uma ajuda para superar a crise que a cruz e o sofrimento provocaram nos discípulos e discípulas. A Transfiguração continua sendo ajuda para superar a crise que o sofrimento e a cruz provocam hoje. Os três discípulos dorminhocos são o espelho de todos nós. A voz do Pai diz a eles e a nós: “Este é o meu filho, o eleito, ouçam-no!”

 

No Evangelho de Lucas, existe uma semelhança muito grande entre a cena da Transfiguração (Lc 9,28-36) e a cena da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras (Lc 22,39-46). Você pode conferir e vai perceber o seguinte: nos dois episódios, Jesus sobe a montanha para rezar e leva consigo os mesmos discípulos, Pedro, Tiago e João. Nas duas ocasiões, Jesus muda de aspecto e se transfigura diante deles, seja glorioso, seja suando sangue. Nas duas vezes aparecem figuras celestes para confortá-lo, seja Moisés e Elias, seja o anjo do céu. E tanto na Transfiguração como na Agonia, os discípulos dormem, se mostram alheios ao fato e parecem não entender nada. No final dos dois episódios, Jesus se reúne de novo com seus discípulos. Com certeza, Lucas teve alguma intenção em acentuar a semelhança entre estes dois episódios. Qual seria? Vamos pensar, rezar e aos poucos entenderemos.

 

Que nosso olhar se abra para enxergarmos as dores deste mundo.

Que nosso olhar encontre o olhar de tantas pessoas desfiguradas pelo abandono, pela fome, corrupção, exclusão, escravidão, ganancia, guerras, poder...

Vamos viver o projeto de vida de Jesus: “Eu vim para que todas e todos tenham vida em abundância.”

Nós podemos transformar estes rostos desfigurados em corpos transfigurados!

 

Amém! Que assim seja!

 

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