Dados alarmantes mostram avanço da violência contra mulheres no Rio

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10 Dezembro 2025

Audiência na Alerj revela que 28 mulheres foram baleadas em 2025 e detalha impactos diretos e indiretos das operações policiais nos territórios periféricos

A reportagem é de Marcus Alencar, publicada por Agenda do Poder, 09-12-2025.

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio se debruçou nesta terça-feira (09/12) sobre um retrato alarmante: a violência estatal que atinge mulheres em territórios vulneráveis do estado.

Em audiência pública marcada pela apresentação de novos dados e análises estruturais, o debate revelou números que reforçam a urgência de mudanças profundas na política de segurança fluminense.

Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, 28 mulheres foram baleadas em operações policiais no Rio apenas em 2025. As ocorrências se concentraram principalmente nas regiões da Penha, Maré, Complexo do Alemão, Jacarezinho e Acari, áreas historicamente marcadas por conflitos armados e maior presença de ações policiais.

Para a presidente da comissão, deputada Renata Souza (Psol), a audiência expôs uma realidade que permanece muitas vezes invisibilizada. Ela afirmou que as operações produzem impactos profundos e que a escuta das mulheres é fundamental para a construção de medidas concretas de enfrentamento.

Números que delimitam cor e território

A pesquisadora Íris Rosa, do Instituto Fogo Cruzado, destacou que os dados evidenciam recortes claros de raça e geografia. Segundo ela, a violência estatal contra mulheres se concentra em áreas periféricas, majoritariamente negras, o que reforça a necessidade de uma política de segurança baseada em evidências, controle externo das ações policiais e diálogo permanente com a sociedade civil.

Essa perspectiva foi reforçada pelo procurador da República Eduardo Benones, que analisou a estrutura que sustenta as desigualdades de gênero, raça e território. Para ele, a organização social segue orientada por valores masculinos e patriarcais, e medidas paliativas não são capazes de enfrentar a sobreposição de violências que recaem, sobretudo, sobre mães que vivem em comunidades afetadas por operações.

Impactos indiretos e a rotina feminina interrompida

Os efeitos indiretos das ações policiais também ocuparam lugar central no debate. Tainá Alvarenga, da Redes da Maré, relatou que mais de 40 casas foram violadas durante operações realizadas em agosto na região. Muitas dessas residências, disse, são chefiadas por mulheres, que lidam com traumas emocionais, insegurança permanente e a ampliação de situações de medo e intimidação no cotidiano.

A representante do Ministério Público do Rio, Patrícia Carvão, apontou que mesmo quando não são baleadas ou feridas, as mulheres permanecem como as principais responsáveis por lidar com os desdobramentos das operações.

Ela afirmou que, ao final das ações, são elas que ficam nos territórios, buscando informações, identificando corpos de familiares e enfrentando momentos de extrema dor. Patrícia ressaltou a necessidade de um olhar mais atento e contínuo dos órgãos públicos sobre essa população.

Ecos institucionais e demandas acumuladas

Além das falas centrais, participaram representantes da Ouvidoria da Defensoria Pública, da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência do Estado e da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial. Cada intervenção reforçou que os impactos da violência estatal vão além das estatísticas de baleamentos e se espalham por dimensões psicológicas, econômicas e sociais que atingem, com força desproporcional, as mulheres das periferias.

A comissão deve consolidar as contribuições apresentadas e encaminhar propostas de políticas públicas que enfrentem o problema de forma estrutural, com foco no controle das operações e na proteção integral das mulheres que vivem em áreas mais expostas à ação do Estado.

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