17 Agosto 2016
Dos 6,5 milhões de ingressos postos à venda, a Rio 2016 diz que 88% foram arrebatados por torcedores do Brasil e do mundo. No entanto, o comitê organizador da Olimpíada se viu no centro de críticas por culpa dos "clarões" em diversas arenas, em especial no Estádio Olímpico, palco das competições de atletismo.
A reportagem é de Fernando Duarte, publicada por BBC Brasil, 16-08-2016.
É um problema para o qual não parece haver uma resposta exata e que intrigou até o Comitê Olímpico Internacional.
A Rio 2016 diz que algumas arenas estiveram cheias, como a do vôlei de praia, em Copacabana, o Maracanãzinho, que recebeu as partidas de vôlei de quadra, e o Centro Olímpico de Tênis.
E levanta algumas razões que podem explicar os assentos vazios em outras sedes olímpicas. Eis algumas delas:
Não foi nenhum surpresa que o Maracanãzinho, por exemplo, tenha sido um dos destaques da Rio 2016 até agora em termos de "atmosfera". O ginásio sedia as competições de vôlei, um dos esportes mais populares entre brasileiros e que desde os anos 80 obtém resultados internacionais expressivos tanto no masculino quanto no feminino.
Um cenário que não poderia ser mais diferente que o do hóquei sobre grama, disputadas em um centro olímpico na distante Vila Militar e que, apesar de contar com equipes brasileiras, é uma modalidade de nicho no país - o Brasil só se classificou por ser país-sede. E jogou para arquibancadas vazias.
"Estamos usando esses Jogos como uma oportunidade de criar uma cultura esportiva mais ampla entre o público brasileiro", diz o diretor de comunicação da Rio 2016, Mário Andrada.
Principal dos quatros "hubs" da Rio 2016, o Parque Olímpico da Barra abriga 17 modalidades olímpicas, incluindo alguns dos esportes mais populares do programa olímpico, como a natação e a ginástica olímpica, e populares entre os brasileiros - basquete masculino e tênis.
Por isso, seria natural o parque se mostrar como principal polo de atração entre o público olímpico - e, segundo, Andrada, isso poderia ajudar a explicar "clarões" em outros locais de competição.
"O Parque Olímpico oferece uma concentração de esportes que pode estar se mostrando mais atraente para os espectadores", avalia ele.
Além disso, o Parque Olímpico da Barra também se mostrou de acesso mais fácil para o público, graças à combinação do serviço de ônibus BRT e a linha 4 do metrô carioca.
O Centro Olímpico de Deodoro, por exemplo, que abriga competições como hipismo, tiro e canoagem de corredeiras, representou um percurso mais "indireto" para os torcedores, além de contar com competições menos populares.
Muitos ingressos para os Jogos foram vendidos em sistema de "double headers" (dois eventos no mesmo local para o mesmo ingresso), sobretudo nas competições de esportes coletivos. Na avaliação da Rio 2016, espectadores podem simplesmente terem deixado as arenas durante as sessões.
"A partir do momento em que chegarmos às fases eliminatórias, onde há apenas um jogo, vamos perceber que o número de lugares vazios vai diminuir", explicou, no início da semana, Donovan Ferreti, diretor de ingressos da Rio 2016.
Até esta terça-feira, o comitê organizador ainda não tinha divulgado o número de "no shows" de ingressos - a quantidade de ingressos comprados e não utilizados nas arenas. "A gente acredita que há casos em que espectadores compram ingressos mais baratos apenas para ter a oportunidade de passear pelo Parque Olímpico", especula o diretor de comunicações.
A Rio 2016 diz ter criado tanto uma estrutura de preços como uma flexibilidade de pagamento para permitir uma diversidade de público. Os ingressos mais baratos saíram por R$ 40 e podiam ser parcelados em até quatro vezes sem juros.
Mas nem todos concordam que os preços estão baratos - sobretudo para assentos mais bem posicionados. Nas redes sociais, diversos usuários reclamam dos valores cobrados pela competição pelos ingressos, e uma reportagem da BBC Brasil mostrou que alguns espectadores têm preferido as festas nas casas dos países por serem opções mais baratas de entretenimento no Rio durante a Olimpíada.
E quanto às arquibancadas vazias no atletismo? "O esporte carece de ídolos no Brasil no momento", disse Andrada no fim de semana. Antes, obviamente, de Thiago Braz surpreender o mundo no salto com vara na última segunda-feira.
As filas para entrar nas arenas olímpicas fizeram com que muitos espectadores chegassem atrasados ou perdessem algumas provas para as quais tinham ingressos, o que também pode ter contribuído para os vazios nas arquibancadas.
No Twitter, usuários reclamaram de levar, por exemplo, 40 minutos para entrar no Parque Aquático; outros postaram fotos de filas que permaneciam longas mesmo após o início de partidas de futebol em alguns estádios.
Outra razão para clarões é o não aproveitamento de ingressos para convidados, distribuídos por patrocinadores dos Jogos - estima-se que até 10% do total geral de ingressos possa ter sido entregue para as empresas que pagaram milhões para ter sua marca estampada nos Jogos.
Segundo diversos relatos da mídia internacional, o medo do vírus Zika provocou queda na demanda de convidados internacionais, por exemplo.
O Zika, por sinal, faz parte de uma combinação de circunstâncias problemáticas, como o medo da violência e temores de que as obras não estariam prontas a tempo, que teria afastado o público "gringo" - estimativas são de que apenas 25% dos ingressos foram vendidos para estrangeiros. A Rio 2016 também citou a crise política e econômica como fatores.
"Nós, obviamente, queremos ver estádios lotados. Poderíamos ter feito mais? Sim, mas o nível de vendas está muito bom", disse, na terça-feira, Mark Adams, porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI).
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8 argumentos dos organizadores para explicar 'mistério' das arenas vazias da Rio 2016 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU