03 Dezembro 2025
Cerca de 100 agentes de imigração realizarão prisões esta semana nas cidades de Minneapolis e St. Paul, onde residem dezenas de milhares de somalis.
A reportagem é de Paola Nagovitch, publicada por El País, 03-12-2025.
A xenofobia de Donald Trump só está aumentando. Ultimamente, o presidente tem direcionado a maioria de seus insultos a imigrantes de uma nacionalidade específica: a somali. Nesta terça-feira, ele os atacou durante uma reunião de gabinete: "Essas pessoas não fazem nada além de reclamar". O republicano acrescentou que são todos "lixo" e que não os quer nos Estados Unidos.
Esse é justamente o alvo de uma nova operação de imigração lançada por seu governo: agentes federais chegarão esta semana a Minnesota, estado que abriga a maior diáspora somali do mundo, para deter e deportar centenas de imigrantes dessa comunidade.
A operação, noticiada inicialmente pelo The New York Times e confirmada por outros veículos de comunicação dos EUA, ocorrerá principalmente na região das Cidades Gêmeas: Minneapolis, a maior cidade, e St. Paul, a capital do estado, que juntas formam uma grande área metropolitana. O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) mobilizará aproximadamente 100 agentes de todo o país para auxiliar na operação.
Os agentes se concentrarão em somalis que já possuem ordens de deportação definitivas, embora as autoridades não tenham descartado a possibilidade de deter imigrantes que estejam em processo de regularização de sua situação migratória no país.
As autoridades locais rejeitaram prontamente os planos do presidente. Em uma publicação no X, o governador de Minnesota, Tim Walz, candidato democrata à vice-presidência em 2024, classificou a operação como uma "jogada de marketing" e acusou o governo de "visar imigrantes indiscriminadamente".
O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, afirmou que a cidade apoia seus imigrantes somalis e confirmou que a polícia local não participaria da operação. O prefeito de St. Paul, Melvin Carter, comentou: "A última coisa que precisamos é de agentes federais entrando na cidade para criar o caos".
Estima-se que 80.000 somalis vivam em Minnesota, a maioria na região de Minneapolis e St. Paul. A maioria são residentes legais ou cidadãos americanos. Em âmbito nacional, aproximadamente 73% dos imigrantes somalis obtiveram a cidadania, segundo o Censo dos Estados Unidos.
No entanto, Trump insiste que todos são imigrantes indocumentados que entraram ilegalmente no país, principalmente com vistos fraudulentos.
"Quando eles vêm do inferno e reclamam e não fazem nada além de criticar, não os queremos em nosso país", disse o presidente na terça-feira sobre a comunidade somali. "Que voltem para de onde vieram e resolvam seus problemas", continuou. O presidente acrescentou que a Somália "fede" e afirmou: "Estamos seguindo o caminho errado se continuarmos aceitando lixo em nosso país".
Trump também aproveitou a oportunidade para lançar novos ataques contra a congressista Ilhan Omar, uma democrata de Minnesota que veio para os Estados Unidos da Somália como refugiada e se tornou cidadã há 25 anos. "Ela é um lixo. Os amigos dela são um lixo", disse o republicano.
O presidente tem demonstrado uma obsessão antiga com os somalis nos Estados Unidos — desde o seu primeiro mandato. Em uma publicação em sua plataforma de mídia social, Truth, na última quinta-feira, ele afirmou que esses imigrantes estão “tomando conta” de Minnesota e que gangues somalis estão “perambulando pelas ruas” do estado em busca de “presas”.
Poucos dias antes, seu governo anunciou o fim do Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês) para centenas de somalis que entraram legalmente no país por meio do programa, reservado para cidadãos de países que enfrentam conflitos armados, desastres ambientais ou outras condições extraordinárias e temporárias. No caso da Somália, o país está mergulhado em guerra civil desde a década de 1990.
O presidente intensificou sua retórica contra imigrantes somalis nos EUA após o tiroteio da semana passada contra dois membros da Guarda Nacional em Washington D.C., embora o homem acusado do crime seja de nacionalidade afegã e não tenha nenhuma ligação com a Somália.
Quando questionado na última quinta-feira sobre qual a ligação dos somalis com o suspeito do ataque a tiros na capital, Trump respondeu: "Nenhuma. Mas os somalis causaram muitos problemas." Após o ataque, que matou um soldado e feriu gravemente outro, Trump prometeu "suspender permanentemente a imigração de todos os países do Terceiro Mundo".
Sua administração ordenou uma revisão de todos os vistos de residência permanente (green cards) emitidos para imigrantes da Somália e de outros 18 países considerados de alto risco. E na terça-feira, foi revelado que a Casa Branca suspendeu todos os pedidos de imigração apresentados por cidadãos desses 19 países.
Ao mesmo tempo, o governo está considerando expandir a lista de países cujos cidadãos estão proibidos de viajar para os Estados Unidos. Essa lista de 19 nações, incluindo a Somália, pode chegar a cerca de 30 países, embora a Casa Branca ainda não tenha especificado quais. A Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, declarou apenas que seriam aqueles países que têm inundado o país “com assassinos, sanguessugas e viciados em assistência social”.
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