02 Abril 2025
Mais de 32 mil migrantes foram presos nos primeiros 50 dias do mandato de Donald Trump. No entanto, apesar dos anúncios do presidente republicano, as expulsões permanecem estáveis em relação ao mandato de Joe Biden. De fato, é necessário tempo para organizar os voos de repatriação, e alguns países se recusam a receber migrantes expulsos. Muitos deles, portanto, aguardam em centros de detenção nos Estados Unidos. Isso favorece grandes grupos privados que administram esses centros.
A reportagem é de Justine Fontaine, publicada por RFI, 01-04-2025.
Nos Estados Unidos, a maioria dos leitos nos centros de detenção não é administrada pelo Estado, mas por empresas com fins lucrativos, que também são responsáveis pela gestão de alguns presídios. Os dois gigantes do setor são GEOgroup e CoreCivic.
A maior parte das atividades dos dois grupos ocorre nos Estados Unidos (mas o GEOgroup também tem contratos na Austrália e na África do Sul). O faturamento anual alcança bilhões de dólares. São empresas de capital aberto, e o valor de suas ações disparou após a eleição de Donald Trump. O preço dessas ações se manteve muito alto desde então e as empresas esperam receber ainda mais migrantes detidos.
Atualmente, os centros estão operando a quase 90% de sua capacidade. E o responsável de Donald Trump pelas fronteiras, Tom Homan, anunciou que pretende mais do que dobrar o número de leitos para atender às necessidades do plano de expulsão em larga escala da Casa Branca.
Uma série de contratos foi recentemente assinada. O GEOgroup está reabrindo um centro de detenção em Nova Jersey, que deve gerar para a empresa US$ 60 milhões por ano, durante 15 anos. Por sua vez, a CoreCivic anunciou há duas semanas a reabertura de um centro no Texas, com 2.400 vagas. Essa fase é "uma das mais emocionantes da minha carreira", disse o CEO da empresa em fevereiro, citado pelo jornal New York Times. Ele espera, para os próximos anos, um grande crescimento para a companhia.
Esses grupos contribuíram para a campanha de Donald Trump com pelo menos US$ 1 milhão, segundo a ABC News. Um valor que, sozinho, não seria capaz de mudar o curso das eleições nos Estados Unidos. No entanto, vale destacar que as empresas do setor recentemente mudaram suas estratégias. Normalmente, elas faziam doações quase equivalentes a candidatos democratas. Desta vez, praticamente todas as doações foram para o campo do republicano.
As perspectivas nem sempre foram tão boas para as empresas do setor. Há quatro anos, grandes bancos haviam se comprometido a parar de financiar essas empresas, após uma forte mobilização contra elas, acusadas de se aproveitar do sofrimento dos migrantes. Inspeções também revelaram a insalubridade de vários centros e prisões, além da falta de acesso a cuidados médicos.
Além disso, denúncias foram feitas sobre trabalho forçado, já que os detidos, por vezes, são obrigados a trabalhar por apenas um dólar por hora. O cenário, no entanto, mudou. Há dois anos, o Bank of America e o Wells Fargo suavizaram suas condições de empréstimo. Por fim, Joe Biden, apesar de suas promessas de campanha, manteve durante seu mandato a maioria dos contratos entre o Estado e esses grupos privados.