Virada à direita em Honduras: dois candidatos em empate técnico

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02 Dezembro 2025

Os candidatos de direita à presidência de Honduras, o empresário Nasry Asfura, apoiado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e o apresentador de televisão Salvador Nasralla, estão praticamente empatados, informou nesta segunda-feira o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Asfura, ex-prefeito de Tegucigalpa, lidera Nasralla por apenas 515 votos após a apuração digital de 57% das cédulas, afirmou a presidente do CNE, Ana Paola Hall, que pediu “paciência” sem especificar quando a contagem manual será concluída.

A reportagem é publicada por Página|12, 02-12-2025.

“Os números falarão por si”, disse Asfura, do Partido Nacional (PN), em seu comitê de campanha. Nasralla afirmou estar à frente por cinco pontos, segundo suas projeções. Não há segundo turno no país centro-americano, portanto o candidato que obtiver o maior número de votos será declarado vencedor e assumirá a presidência em 27 de janeiro de 2026, substituindo Xiomara Castro, do Partido Liberdade e Refundação (Libre).

O Procurador-Geral de Honduras, Johel Zelaya, pediu respeito à vontade popular expressa nas eleições gerais de domingo. Em mensagem nas redes sociais, Zelaya afirmou que a Procuradoria-Geral "sempre foi garante" o andamento normal do processo eleitoral e que "continua seu trabalho, exercendo a competência penal que a Constituição lhe confere para defender os interesses da sociedade".

Trump meteu o nariz onde não devia

Os hondurenhos puniram o governo de esquerda liderado pela presidente Xiomara Castro, que governa um dos países mais pobres e inseguros da América Latina. Ostentando a bandeira do anticomunismo, Donald Trump ameaçou cortar a ajuda ao país caso seu sucessor escolhido, Nasry Asfura, não vencesse, e rotulou a esquerdista Rixi Moncada de amiga do presidente venezuelano Nicolás Maduro e seus “narcoterroristas”.

Pouco antes da votação, o republicano reforçou sua promessa, anunciando que concederia indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado nos Estados Unidos a 45 anos de prisão por enviar centenas de toneladas de drogas em aliança com o narcotraficante mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán. Segundo o sistema judiciário americano, Hernández, que governou de 2014 a 2022 pelo partido de Asfura, transformou Honduras em um “narcoestado”, mas Trump afirma que ele foi vítima de uma “armação” orquestrada por seu antecessor, Joe Biden.

O indulto anunciado contraria a agressiva ofensiva antidrogas de Trump no Caribe, parte de sua pressão sobre o presidente venezuelano Nicolás Maduro, aliado de Xiomara Castro. O indulto para esse "chefão do narcotráfico" foi "articulado" por elites locais, denunciou o candidato de esquerda.

Ao apoiar Asfura, Trump alertou que não poderia trabalhar com Nasralla, a quem chamou de "quase um comunista" por ter ocupado um cargo de alto escalão na atual administração, com a qual posteriormente rompeu relações. Nasralla atribuiu as declarações de Trump à "desinformação maliciosa" disseminada por seus adversários, e Asfura afirmou estar pronto para colaborar com os Estados Unidos, país que abriga dois milhões de hondurenhos e é o principal parceiro comercial da nação.

Asfura, a escolhida de Washington

Filho de pais palestinos, Nasry Asfura nasceu em 8 de junho de 1958, em Tegucigalpa, capital de Honduras, onde atuou como prefeito por dois mandatos consecutivos (2014-2022). Após se formar em uma escola secundária católica, inicialmente estudou engenharia, mas logo percebeu que sua verdadeira vocação era a construção civil, à qual dedicou grande parte de sua vida. Como político, também atuou como vereador em Tegucigalpa e secretário do Fundo de Investimento Social de Honduras.

Asfura, também conhecido como 'Papi a la orden' (Papai ao seu dispor), busca reconduzir ao poder o Partido Nacional, que sofreu um declínio durante três mandatos consecutivos, de 2010 a 2022, marcados por inúmeras acusações de corrupção e tráfico de drogas. Sua plataforma, caso seja eleito presidente, foca na estabilidade fiscal, no emprego e em infraestrutura produtiva, no fortalecimento do setor agrícola, na melhoria da conectividade e na priorização de projetos com impacto imediato na economia local.

Nasralla, em sua quarta tentativa

Salvador Nasralla, engenheiro civil, nasceu em Tegucigalpa em 30 de janeiro de 1953. Desde a adolescência, envolveu-se com a mídia, tornando-se um renomado apresentador de televisão, com um programa esportivo que apresentou por mais de quatro décadas. Também atuou como mestre de cerimônias em concursos de beleza e outros eventos sociais.

Ele entrou para a política por volta de 2011, quando fundou o Partido Anticorrupção (PAC), com o qual concorreu pela primeira vez à presidência de Honduras em 2013. Posteriormente, repetiu o feito criando outro partido, o Salvador de Honduras (PSH), alegando que o primeiro havia sido "roubado" dele pelo ex-presidente Juan Orlando Hernández. Sua segunda tentativa, em 2017, também fracassou. Em sua terceira tentativa, em 2021, ele finalmente formou uma aliança — apenas para a candidatura presidencial — com o partido Libre, então liderado por Xiomara Castro e atualmente no poder.

O objetivo era remover do poder a “narcoditadura” que, segundo ele, era presidida por Juan Orlando Hernández (do partido de Asfura). Com a vitória de Xiomara Castro, Nasralla ascendeu ao poder como um dos três indicados pelo presidente (vice-presidente), cargo que ocupou até abril de 2024, quando renunciou devido a fortes divergências com a presidente e seu marido, o ex-presidente Manuel Zelaya.

Após deixar o cargo, Nasralla juntou-se a um Partido Liberal fragmentado, que ele pretende levar de volta ao poder depois de 16 anos fora da esfera pública. A agenda de Nasralla concentra-se em atrair investimentos e criar empregos, combater a corrupção, reduzir a burocracia, modernizar a infraestrutura e apoiar pequenas e médias empresas para aumentar a competitividade e gerar empregos formais.

Agradando Washington, Asfura e Nasralla prometeram fortalecer os laços com Taiwan após Castro restabelecer relações com a China em 2023. Apesar dessa estreita relação, os resultados demonstram o retorno da direita ao poder em Honduras, país governado no último mandato pelo partido de esquerda Libre. Rixi Moncada, candidata do partido governista, ficou em terceiro lugar com 19,16% dos votos, bem abaixo de suas próprias projeções, que lhe davam vantagem sobre os dois candidatos conservadores.

“Só os ladrões nos governam”

Num país onde 60% dos seus 11 milhões de habitantes vivem na pobreza e com um longo histórico de fraude e dívida social, os políticos estão profundamente desacreditados. “Eles não fazem nada pelos pobres; os ricos ficam mais ricos a cada dia e os pobres ficam mais pobres a cada dia. Só ladrões nos governam”, disse Henry Hernández, um manobrista de 53 anos, à AFP na segunda-feira.

Michelle Pineda, uma comerciante de 38 anos, espera que o vencedor desta disputa acirrada veja o país “como algo mais do que apenas um saco de dinheiro para saquear”. Quase 6,5 milhões de hondurenhos estavam aptos a votar para eleger o sucessor de Xiomara Castro, bem como membros do Congresso e prefeitos para um mandato de quatro anos. A autoridade eleitoral ainda não divulgou os números de comparecimento às urnas.

Após uma campanha marcada por alegações iniciais de fraude, o dia da eleição transcorreu pacificamente, segundo a missão de observadores da OEA. Os Estados Unidos afirmaram estar acompanhando de perto as eleições. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras, em mensagem de sua presidente, Ana Paola Hall, declarou que, dada a virtual igualdade entre Asfura e Nasralla, a população deveria "manter a calma, ter paciência e aguardar", acrescentando: "O clima de paz que caracterizou o processo deve ser mantido até a divulgação dos resultados finais".

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