"O Oriente Médio, assolado pelo vírus do ódio, nos torna incapazes de enxergar a dor alheia

Foto: Pexels/Canva

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01 Dezembro 2025

"A violência gera mais violência, a dor gera mais dor. Precisamos dar mais espaço à racionalidade e ao diálogo. Vimos que não há limite para a barbárie ou o sofrimento, e que tudo isso produz uma polarização e uma separação cada vez maiores. Enfrentamos um futuro onde a palavra de ordem é a paciência para poder esperar pelos longos tempos que não são os nossos, os tempos da cura das feridas, tempos que não são curtos."

A reportagem é de Nello Del Gatto, publicada por La Stampa, 30-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Frei Francesco Ielpo, Custódio da Terra Santa desde junho, tem sua própria receita para a situação na Terra Santa. Ele dirige a província franciscana especial que, há mais de oitocentos anos, cuida dos lugares sagrados (e administra escolas, associações, atividades e centros comunitários) não apenas em Jerusalém, mas também em Israel, Cisjordânia, Líbano, Síria, Jordânia, Chipre, Rodes e Egito. Uma receita baseada na presença "que não esconde a própria identidade, declarando-a, mas que ao mesmo tempo busca construir, como diria o Papa Francisco, uma amizade social com todos" e acompanhamento, se não para curar, ao menos para transformar as feridas da guerra. "Tudo dependerá", explica ele, "de um grande trabalho no campo educacional. Qualquer crise, qualquer tragédia na história, foi possível de ser superada partindo da educação, aquela que reconhece as feridas, as leva a sério e não as banaliza, porque essas feridas precisam ser mitigadas, curadas com o tempo, com muita paciência, da maneira correta, com as profissões certas. E essas feridas podem se tornar frestas através das quais podemos ver toda a realidade e também o outro, com novos olhos."

Realidades que aqui estão polarizadas e em guerra perpétua. "Leva muito tempo, exige um trabalho na área da educação que nunca terminará. Já existem projetos em andamento, já existem organizações que nos ajudam e nos estão propondo trajetórias desse tipo. Estamos começando com crianças de três a seis anos, justamente para ensiná-las desde cedo a se manterem firmes, mesmo na dor do conflito."

Ielpo tenta vislumbrar um futuro diferente nessa situação. "Se existe um futuro bom, ele será construído juntos e deverá ser igual para todos. E essa é a maior dificuldade, porque obviamente todo esse mal, essas atrocidades, toda essa violência, todas essas mortes, toda essa contagem quase gerou uma incapacidade de reconhecer a dor do outro. E uma exclusividade que advém de ter apenas o próprio ponto de vista. E isso impede qualquer forma de diálogo. Precisaremos ajudar a apontar, um pouco como João Batista, aqueles sinais e sementes de positividade, de bem, de diálogo, de encontro que são possíveis em nível pessoal, cotidiano, de vizinhança. Saber apontar, saber reconhecer, saber valorizar esses pequenos passos."

Há oitocentos anos, essa província franciscana especial tem sido uma presença mediadora, estável e consegue atuar em áreas perpetuamente em guerra. "A presença que gera esperança é a presença que diz 'estou ao seu lado'. É a presença que diz 'você é precioso para mim', é a presença que diz 'mesmo na necessidade, não o abandonarei'. Estamos ao lado de todos, dos santuários de pedra e daqueles de carne, que são, em primeiro lugar, os batizados, mas também todos aqueles que vivem aqui, independentemente de sua religião. Eles nos veem como um ponto de encontro, de mediação até mesmo entre posições distantes ou, às vezes, até conflitantes. Não é fácil, porque é fácil sucumbir ao vírus da polarização, da escolha de um lado, mas mesmo nestes poucos meses vejo que todos vêm para uma conversa, para um encontro, porque todos gostariam de nos ter por perto ou, pelo menos, veem em nós aquele ponto com que se pode entrar em diálogo."

Em sua primeira viagem, o Papa Leão está no Líbano; Frei Ielpo também esteve lá antes de vir a Jerusalém. "É uma visita ao Oriente Médio, ao Oriente Médio onde há uma presença cristã. O Líbano é Terra Santa. É uma primeira viagem motivada por diversas circunstâncias, mas vejo-a como um sinal de cuidado com esta parte do mundo, uma preocupação que ele demonstra desde o primeiro dia de sua eleição. Ele nunca esquece a Terra Santa e o Oriente Médio, nem a Ucrânia, nem qualquer outro conflito."

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