21 Novembro 2025
"Que seja lembrado como o lugar onde a humanidade preferiu a cooperação à divisão e à negação." A voz de Leão XIV, em inglês, ressoa às margens do Rio Guamá, um dos últimos afluentes do Grande Rio antes de desaguar no oceano. Ali, no coração do futurista projeto Porto Futuro II, ergue-se o novíssimo Museu das Amazônias, com sua imponente estrutura de madeira maciça e acolhedora. Um desdobramento da floresta que circunda Belém, que a iniciativa quer contar. Os corredores decorados com fotografias de Sebastião Salgado e o coletivo de artistas do Pará conduzem à sala de conferências onde acaba de ser instalada uma enorme rede colorida. Ela recebeu o apelido de "Rede do sínodo", por ter acompanhado a assembleia extraordinária de bispos de todo o mundo convocada pelo Papa Francisco em Roma, em 2019.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 18-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
As Igrejas do Sul do mundo, por meio dos seis cardeais presentes na Conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP30) — Jaime Spengler e Leonardo Steiner, do Brasil; Pedro Barreto, do Peru; Fridolin Ambongo, do Congo; Felipe Neri Ferrao, da Índia; e Pablo David, das Filipinas — doaram-na ao museu. Uma homenagem à "Querida Amazônia" que, com "seu esplendor, drama e mistério" — escreve Francisco no texto homônimo —, é o emblema e o teste decisivo de toda a criação. Uma criação que grita sua dor "através de inundações, secas, tempestades e calor implacável", disse Leão ontem, renovando seu apelo pela defesa de nossa casa comum com uma mensagem em vídeo, após a leitura de seu texto pelo Cardeal Pietro Parolin no início do encontro. "Uma em cada três pessoas vive em situações de grande vulnerabilidade devido às mudanças climáticas", afirma o Pontífice: ignorá-las "é negar nossa humanidade comum". Seus rostos são o antídoto mais tangível à tentação do desespero e do derrotismo. Trata-se, antes, de renovar a esperança e a determinação. "Não apenas com as palavras e as aspirações, mas também por meio de ações concretas", enfatiza Leão. E acrescenta, cadenciando as palavras: "O Acordo de Paris trouxe progressos concretos e continua sendo nossa ferramenta mais forte para proteger as pessoas e o planeta. Devemos ser honestos: não é o Acordo que está fracassando, somos nós que estamos fracassando em nossa resposta. O que falta é a vontade política de alguns. A verdadeira liderança significa serviço” para fazer a diferença. É do interesse de todos. Ações e políticas ambientais mais fortes criarão sistemas econômicos “mais fortes e equitativos”; são, portanto, “um investimento em um mundo mais justo e estável."
Tendo como pano de fundo a "rede do sínodo", o Papa exortou a caminhar "ao lado de cientistas, líderes e pastores de todas as nações e crenças. Somos guardiões da criação, não rivais por seus despojos." Portanto, concluiu, apoiemos todos o Acordo de Paris e a cooperação climática "com solidariedade inabalável".
Essa mensagem inequívoca chega em um momento crucial. As negociações técnicas da COP foram concluídas.
Desde ontem, com a chegada de representantes governamentais a Belém, a cúpula entrou na fase política, a fase das decisões. Faltando 96 horas para o término, apesar dos adiamentos, a presidência brasileira pressiona. O diplomata André Corrêa do Lago enviou ontem uma nota resumida que parece ser o esqueleto da "cover decision", a decisão política esperada ao final. Em primeiro lugar, constam as posições expressas pelas partes sobre os quatro temas em que há convergência: o compromisso dos países ricos em ajudar os países mais pobres a enfrentar a emergência, maior ambição nos planos nacionais, medidas comerciais e transparência. A partir da página 4, são mencionadas as questões controversas, aquelas em que se medirá o resultado da COP: triplicar o financiamento para a adaptação dos mais vulneráveis e a transição do petróleo, gás e carvão. Sobre este último ponto, o Brasil revelou suas cartas. Após retirar o tema da agenda para decidi-los à parte, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falou claramente sobre a necessidade de ter a "coragem" de sair da era dos combustíveis fósseis por meio de um roteiro. Dar o primeiro passo rumo à sua construção, dois anos após a decisão histórica de Dubai, é o desafio da Conferência da Amazônia.
No texto "está presente um espaço para explorar oportunidades, barreiras e fatores facilitadores. Nesse sentido, é positiva”, enfatiza Luca Bergamaschi, diretor do think tank Ecco. Cerca de sessenta países apoiariam a opção. Mais do que os números, pesa a oposição da Arábia Saudita, a destruidora por excelência de qualquer cúpula climática. Em jogo estão os US$ 170.000 por minuto produzidos pela Aramco, a companhia petrolífera do Reino e o maior gigante petrolífero do mundo, indispensáveis para manter o apoio da população com subsídios e impulsionar o soft power internacional. Para Riad, o fim dos combustíveis fósseis é uma ameaça existencial, e o país o trata como tal, alternando obstrucionismo, negação implacável e descrédito das posições científicas. Desta vez, não parece ser diferente. De fato, agora os sauditas podem contar com o apoio dos EUA. Hoje, Mohammed bin Salman (MbS) – o estrategista da delegação na cúpula – partirá de Belém rumo a Washington para se encontrar com Donald Trump na Casa Branca.
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