21 Novembro 2025
"Os/as seguidores de todas essas religiões enfrentaram, no passado, consideráveis dificuldades para sobreviver e para ser acolhidos e respeitados. Agora que têm um status jurídico garantido no Irã, poderiam ser seriamente prejudicados, ou talvez até mesmo dissolvidos, caso a ameaça de evacuação os atingisse", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 17-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A seca que ameaça o Irã, deixando em risco de evacuação milhões de pessoas desprovidas de água, poderia tornar extremamente precária a situação de pequenas minorias religiosas em um país predominantemente muçulmano. Esse é o receio dos ambientes cristãos preocupados com essa eventualidade sem precedentes. A questão "atmosférica" no país do Oriente Médio — basicamente ignorada pelas nossas mídias — foi, em vez disso, destacada pelo "L'Osservatore Romano", que dedicou sua primeira página ao tema com uma matéria detalhada. Começando pelo caso de Teerã — uma cidade com nove milhões de habitantes, número que sobe para 14,5 milhões se incluirmos a região metropolitana — o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, declarou: "Se não chover até o final de novembro, teremos que evacuar a capital".
A situação é "extremamente dramática", acrescentou, porque os reservatórios de água da cidade atingiram seus níveis mais baixos em 60 anos. O jornal do Vaticano lembra que, com o ressecamento de rios e áreas úmidas — como o Lago Urmia, no noroeste do país, que já foi um dos maiores lagos salgados do mundo, cuja evaporação deixou para trás vastas extensões e exacerbou as tempestades de areia que ameaçam as cidades próximas — a produção de energia caiu drasticamente, alarmando algumas usinas pela falta de água para o resfriamento. Com uma área superior a cinco Itálias e uma população de 86 milhões de habitantes, o Irã possui obviamente um clima diversificado, muitas vezes bem diferente daquele da capital; contudo, é evidente que, se a previsão catastrófica de Pezeshkian se concretizar, será um cataclismo de proporções imensas.
Nesse contexto, situa-se a preocupação com os grupos religiosos minoritários que, na confusão da evacuação, acabariam em grande parte por se dispersar. No Irã, 99% da população é muçulmana xiita. Entre os seguidores de outras religiões, predominam os cristãos armênios, cuja história, ao longo dos milênios, se entrelaçou, com diferentes graus de sucesso, com aquela do país. Eles somam aproximadamente 250mil, mas, do ponto de vista eclesiástico, não dependem do Patriarca de Etchmiadzin, na Armênia, ainda que muito próximo, mas sim da Grande Casa da Cilícia, localizada em Antelias (Beirute). Existem também vários milhares de caldeus, e um grupo muito pequeno — cerca de três mil — de armênios católicos, que também têm seu patriarca no Líbano. Há ainda aproximadamente cinquenta mil zoroastrianos (que eram a maioria no Irã há vinte séculos); e a presença judaica ainda é muito forte no país, tendo se estabelecido lá há mais de dois milênios: hoje, são cerca de trinta mil.
Tanto armênios quanto judeus ocupam um assento no Parlamento. Os/as seguidores de todas essas religiões enfrentaram, no passado, consideráveis dificuldades para sobreviver e para ser acolhidos e respeitados. Agora que têm um status jurídico garantido no Irã, poderiam ser seriamente prejudicados, ou talvez até mesmo dissolvidos, caso a ameaça de evacuação os atingisse.
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