19 Novembro 2025
A pegada de carbono de longo prazo do genocídio em Gaza ultrapassa 31 milhões de toneladas de CO₂ emitidas, mais do que Costa Rica e Estônia juntas em 2023 — A COP pode encurralar o petróleo, o gás e o carvão? O primeiro rascunho pede cortar a dependência, mas sem medidas
A informação é de Bernardo Gutiérrez, publicada por El Diario, 18-11-2025.
O lema não há justiça climática sem a libertação da Palestina ressoa por todo Belém do Pará, no norte do Brasil. Desde que a COP30 começou no dia 10, a causa palestina atravessa painéis, marchas, debates e coletivas de imprensa. E vem tornando visível outro crime gigantesco perpetrado por Israel em Gaza: o ecocídio. Uma devastação ambiental que retroalimenta o genocídio.
Na coletiva de imprensa que abriu a Cúpula dos Povos, espaço paralelo à COP30 por onde passaram mais de 30 mil pessoas até domingo, os povos indígenas cederam a primeira fala à ativista palestina Salma Barakat, coordenadora do movimento Stop the Wall. Quando falamos de justiça climática, podemos lembrar que Israel está bombardeando Gaza. Israel está destruindo as árvores da Palestina. Israel está roubando água dos palestinos, lembrou ela em entrevista à Agência Brasil.
A Coalizão Palestina na COP30, formada pelas principais organizações civis palestinas e atores globais relevantes, está dificultando a vida da diminuta delegação israelense na Cúpula do Clima. No dia 11, ocorreu uma manifestação diante das portas da Zona Azul da ONU, reservada às negociações. Fizemos fora da Zona Azul porque a censura da ONU não permite citar Israel e seus crimes de guerra lá dentro, afirma ao elDiario.es uma pessoa integrante da Global Campaign to Demand Climate Justice (DCJ), que prefere manter o anonimato.
Nossas lutas nascem do mesmo lugar: o direito de existir e permanecer no território. O que acontece na Palestina ressoa na Amazônia. Ambos enfrentamos a destruição de nossos territórios pela guerra, pela ganância e pelo extrativismo. Temos o mesmo inimigo, o colonialismo. — Alana Manchineri, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)
Para a Coalizão Palestina da COP30, a participação de Israel nas negociações depois de a comissão independente da ONU ter confirmado sua responsabilidade no genocídio em Gaza é inaceitável: A principal demanda da Coalizão Palestina na COP30 é que Israel seja excluído das negociações aqui e dos fóruns da ONU. Também é necessário proibir a participação de todas as empresas cúmplices do genocídio na conferência. Elas também são responsáveis pela destruição do meio ambiente, da terra e da água na Palestina, declarou Jamal Juma, do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), ao Observatório do Clima do Brasil.
Salma Barakat mostrou-se satisfeita com as ações da Coalizão Palestina na COP30: Queremos que no ano que vem Israel não tenha assento na COP. Este ano vieram com uma delegação pequena, antes eram grandes. Isso mostra o impacto do nosso trabalho, afirmou.
Boicote energético contra o ecocídio
A segunda grande reivindicação da Coalizão Palestina na COP30 é um embargo de energia a Israel, causa que já tem forte trajetória internacional. A espanhola Ana Sánchez, coordenadora da Global Energy Embargo, presente em Belém, sustenta que a libertação do povo palestino faz parte do movimento global por justiça climática porque as mesmas empresas que impõem o apartheid da água na Palestina são as que negam o direito de acesso à água aos povos indígenas. Israel não seria capaz de sustentar nem o genocídio, nem o apartheid, nem a ocupação ilegal da Palestina sem apoio externo e cooperação energética, desde o carvão que mantém toda a energia que ilumina e sustenta a indústria dos assentamentos até todo o combustível militar, afirma.
Um informe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, publicado no final de setembro, revela que Israel está provocando uma verdadeira devastação ambiental em Gaza. O ecocídio é um fator importante do genocídio. Grande parte da vegetação de Gaza foi destruída. Desde 2023, o enclave perdeu 97% de suas árvores frutíferas, 95% de seus arbustos e 82% de suas colheitas anuais. A produção de alimentos em larga escala é inviável. Isso ocorre enquanto mais de 500 mil pessoas em Gaza passam fome e cerca de um milhão estão em situação de emergência alimentar, aponta o relatório.
A degradação do solo é tamanha que ele perdeu a capacidade de absorver água e de se reabastecer com água subterrânea. 97% da água está contaminada e os painéis solares foram sistematicicamente destruídos, afirmou ao Observatório do Clima o ativista palestino Rana Harrara, da Swana Climate Sirens, durante o protesto na Zona Azul. Por sua vez, a campanha Global Energy Embargo denuncia que empresas de água e do agronegócio são cúmplices do genocídio e do ecocídio ao fornecer tecnologia de irrigação e agrícola aos assentamentos ilegais de Israel.
A Coalizão Palestina na COP30 também compartilhou, em Belém, o resultado de um estudo acadêmico que calcula a pegada de carbono do ataque militar de Israel em Gaza. Entre outubro de 2023 e janeiro de 2025, as agressões militares em Gaza emitiram 1,89 milhão de toneladas de CO₂. 99% dessa poluição climática corresponde aos bombardeios aéreos e invasões terrestres israelenses. A pegada de carbono de longo prazo superaria, segundo o informe, 31 milhões de toneladas de CO₂, mais do que Costa Rica e Estônia emitiram juntas em 2023. O céu de Gaza foi transformado em armas. Durante o genocídio, foram emitidas milhões de toneladas de CO₂, afirma Harrara.
Palestina indígena
A Cúpula do Clima de Belém está promovendo uma nova aliança sólida entre a Palestina e os povos indígenas, os verdadeiros guardiões do clima. Salma Barakat confessa que, quando chegou ao Brasil e ouviu uma pessoa indígena falar, chorou. O que acontece conosco, palestinos, acontece na América Latina. As grandes corporações e governos dizem a eles que não têm direito à terra. Tentam expulsá-los e dizem que podem viver em outro lugar. Mas eles acreditam na conexão com a terra, com a água, com o ar. Nós também. Não podemos simplesmente ir embora, porque temos uma conexão com a terra, defende.
A aliança dos povos indígenas da Amazônia com a causa palestina também está sendo construída dentro da Zona Azul da ONU. No painel Práticas Coloniais de Exploração e Estratégias de Resistência nos Territórios, Alana Manchineri, assessora internacional da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), destacou a solidariedade do movimento indígena amazônico com a luta do povo palestino: Nossas lutas nascem do mesmo lugar: o direito de existir e permanecer no território. O que acontece na Palestina ressoa na Amazônia. Ambos enfrentamos a destruição de nossos territórios pela guerra, pela ganância e pelo extrativismo. Temos o mesmo inimigo, o colonialismo.
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