07 Novembro 2025
Relatório “Emissions Gap Report 2025” alerta que promessas nacionais são “insuficientes” para conter a crise; mundo caminha para ultrapassar o limite seguro de 1,5°C em poucos anos, com emissões batendo novo recorde em 2024.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 05-11-2025.
De acordo com a ONU: As emissões em 2030 teriam que cair 25% em relação aos níveis de 2019 para chegar a 2°C e 40% para 1,5°C – com apenas cinco anos restantes para atingir a meta de 1,5°C.
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) expõe a lacuna perigosa entre as promessas climáticas das nações e a ação necessária para evitar impactos devastadores.
O “Emissions Gap Report 2025: Off Target” (Relatório de Lacuna de Emissões 2025: Fora do Alvo, em tradução livre) conclui que os compromissos atuais, para reduzir a poluição que aquece o planeta, limitariam o aquecimento global a, no melhor cenário, 2,5°C neste século – um patamar considerado “inaceitável” pela ciência.
A comunidade científica é unânime em afirmar que ultrapassar o aquecimento de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais desencadeia consequências catastróficas e irreversíveis. No entanto, o mundo deve superar esse limite crítico em uma questão de anos, com as emissões globais batendo um novo recorde em 2024.
A crise se acelera, a ação fica para trás
Com o excesso de 1,5°C agora considerado inevitável, o foco global desloca-se para a velocidade com que as temperaturas poderão ser reduzidas a níveis menos arriscados. Para isso, os grandes poluidores são pressionados a adotar cortes de emissões mais rápidos e profundos. No entanto, a última rodada de metas anunciadas antes da COP30 “mal moveu a agulha”, segundo o relatório.
As projeções indicam que os compromissos climáticos coletivos, se integralmente cumpridos, resultariam em um aquecimento entre 2,3°C e 2,5°C até 2100. Essa trajetória representa uma ameaça existencial para nações insulares e regiões costeiras, e o fracasso coletivo em enfrentar esse desafio pairará sobre as negociações da COP30.
Pontos de não retorno e a inércia dos países
O relatório destaca que cada décimo de grau acima de 1,5°C não apenas intensifica furacões, enchentes e secas, mas também aumenta significativamente o risco de atingir “pontos de inflexão climática” climáticos catastróficos e irreversíveis. A 1,4°C de aquecimento, a maioria dos recifes de coral tropicais já está condenada. Abaixo de 2°C, o gelo da Groenlândia e a Floresta Amazônica podem sofrer alterações severas e duradouras, com impactos em cascata para todo o planeta.
O Acordo de Paris estabelece que cada nova rodada de metas deve ser mais ambiciosa que a anterior. Contudo, o PNUMA revela que, até 30 de setembro, apenas um terço dos países haviam anunciado uma meta de redução de emissões para 2035, como são obrigados a fazer.
Ganhos frágeis e a sombra de Trump
A projeção de aquecimento para este ano é 0,3°C mais baixa que a do relatório de 2024, mas especialistas alertam que isso se deve mais a ajustes metodológicos (0,1°C) e aos compromissos dos EUA sob o governo Biden (0,1°C) do que a um esforço global genuíno.
Esses ganhos, porém, estão sob ameaça. O relatório ressalta que a eleição do presidente Donald Trump, que prometeu retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e revogar as políticas climáticas de seu antecessor, coloca em risco a implementação desses cortes. Os EUA são um dos maiores emissores globais.
Cenário atual: emissões em alta e políticas insuficientes
O panorama atual é sombrio:
Emissões em ascensão: As emissões globais cresceram 2,3% em 2024, um aumento puxado pela Índia, seguida por China, Rússia e Indonésia – um ritmo comparável ao da década de 2000.
Falta de liderança: As economias do G20 são responsáveis por 75% das emissões globais. Dentre os seis maiores poluidores, apenas a União Europeia reduziu seus gases de efeito estufa em 2024.
Meta distante: Com base apenas nas políticas atualmente em vigor – e não nas promessas –, a Terra está a caminho de um aquecimento catastrófico de 2,8°C até 2100.
A COP30 em Belém terá a difícil missão de reverter a percepção de que a ação climática perdeu urgência, diante da retirada americana do processo, do descumprimento de metas coletivas e de governos que priorizam outras agendas em detrimento do futuro do planeta.
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