Fim dos combustíveis fósseis fica de fora do discurso de Lula na ONU

Foto: Ricardo Stuckert/Partido dos Trabalhadores

Mais Lidos

  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Setembro 2025

Em fala de abertura na 80ª Assembleia Geral, presidente reitera proposta da criação de um Conselho do Clima nas Nações Unidas.

A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 23-09-2025.

Em seu discurso na abertura da 80ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (23), o presidente Lula voltou a propor a criação de um conselho na ONU para o clima, nos moldes do Conselho de Segurança. Fala também incluiu temas como justiça climática, metas nacionais e agenda de ação. Para organizações brasileiras, o pronunciamento foi correto, mas nada mais do que isso.

Lula destinou pouco mais de três dos cerca de 18 minutos de seu discurso à crise do clima. Ele cobrou que países apresentem suas metas climáticas nacionais — conhecidas como NDCs —, cujo prazo para apresentação é quarta-feira (24), falou que a COP30 será a “COP da verdade”, ressaltou os avanços do Brasil na contenção do desmatamento e cobrou que países desenvolvidos assumam a maior parcela da conta do enfrentamento da crise climática.

Segundo ele, no entanto, o combate às mudanças do clima precisam ser trazidos ao “coração da ONU”.

“O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima. Mas é necessário trazê-lo ao combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece. Um Conselho vinculado à Assembleia Geral, uma legitimidade para monitorar compromissos, dará coerência à ação climática. Trata-se de um passo fundamental na direção de uma reforma mais abrangente da organização”, propôs Lula.

A ideia da criação de um Conselho de Mudanças Climáticas na ONU não é nova. O Brasil apresentou a proposta há alguns meses, mas não chegou a desenvolver, pois recebeu críticas de que isso aumentaria a confusão em torno da estratégia brasileira na condução da COP30.

Segundo análise do Observatório do Clima, a criação do conselho seria uma forma de destravar decisões cruciais —como o fim da exploração de combustíveis fósseis — que estão emperradas há anos no âmbito das negociações internacionais.

“Embora haja zero clareza sobre como o tal conselho poderia funcionar, a ideia do governo brasileiro é levar debates políticos difíceis, como a transição para longe dos combustíveis fósseis, para decisões por voto, contornando a regra do consenso que impede a UNFCCC (a Convenção do Clima da ONU) de entregar uma implementação adequada do Acordo de Paris”, disse a rede, em nota.

O petróleo e as contradições estratégicas

Para o OC, a fala de Lula foi apenas “correta”, mas previsível, já que o líder brasileiro tinha na pauta muitas outras questões, como a defesa da soberania nacional e o tarifaço americano, regulação das plataformas digitais, conflitos armados e crise no multilateralismo.

“Quem estava esperando um discurso do grande líder climático do Sul Global que arrancou aplausos do mundo em 2022 na COP27, no Egito, pode ter se frustrado: a fala de Lula não foi a de um anfitrião de uma conferência do clima decisiva para garantir um futuro seguro para a humanidade”, avaliou o OC.

Já a 350.org destacou a ausência de menção ao fim da exploração dos combustíveis fósseis e lembrou que o Brasil planeja se tornar o quarto maior produtor de petróleo do mundo, sendo o país um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta.

“Não há redução no desmatamento que irá superar as emissões de carbono do petróleo e do gás, e não se pode reivindicar liderança climática enquanto se expande a destruição da Amazônia. Para começar a falar em transição energética justa, o Brasil precisa parar de apostar nos fósseis e apresentar um Plano Nacional de Transição Energética (Plante) com metas concretas e que coloque as comunidades indígenas e tradicionais e seus territórios no seu centro. Sem essa mudança, a credibilidade do governo será sempre questionada”, disse Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

Assista ao pronunciamento de Lula na abertura da 80ª Sessão da Assembleia Geral da ONU:

Leia mais