08 Julho 2025
Lula diz que Sul Global pode liderar novo modelo de desenvolvimento sem repetir erros do passado, mas que Brasil “não abrirá mão” do petróleo.
A informação é publicada por ClimaInfo, 08-07-2025.
Dizer que o governo é contraditório nas decisões que envolvem o clima e o meio ambiente se tornou repetitivo. Mas o presidente Lula não ajuda a deixar o assunto para trás. A depender da audiência, Lula pode defender arduamente o combate às mudanças climáticas e o fim dos combustíveis fósseis ou fazer exatamente o contrário.
O Lula do BRICS, por exemplo, foi enfático na crítica ao negacionismo climático e ao unilateralismo. O presidente afirmou que os dois barraram avanços no passado e sabotam o futuro em áreas como combate à crise climática e saúde. A fala foi feita na sessão plenária “Meio Ambiente, COP 30 e Saúde Global”, no segundo e último dia da cúpula de líderes do bloco, no Rio de Janeiro, na 2ª feira (7/7), e repercutida por Folha, O Globo, Poder 360 e Brasil de Fato.
“O Sul Global tem condições de liderar um novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros do passado. Não seremos simples fornecedores de matérias-primas. Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor”, disse o presidente.
Ainda segundo Lula, o BRICS não deixou de fazer sua parte na conservação do meio ambiente – afirmação bastante discutível, sobretudo pelo conhecido descaso da Rússia, em particular, com questões ambientais e climáticas. O presidente também afirmou que é preciso colocar o desenvolvimento sustentável no “centro do debate”, destacou o Estadão.
Como g1, O Globo e Valor assinalaram, o presidente voltou a criticar a falta de financiamento para mitigar a crise climática e avançar na transição energética e defendeu que o mundo siga o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas. “Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos. São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação”, reforçou.
Três dias antes, em um evento na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), também no Rio, no qual a Petrobras anunciou investimentos em refino e petroquímica, o mesmo presidente que critica o negacionismo climático disse ser favorável ao fim do uso dos combustíveis fósseis – cuja queima é a principal causa das mudanças climáticas. Mas que não abrirá mão do petróleo brasileiro para “outros explorarem”.
“Não vou abrir mão do petróleo brasileiro para os outros explorarem. Quero que façamos da forma mais saudável e responsável possível [?]. Não queremos prejudicar nada, mas não queremos abrir mão da nossa riqueza”, declarou, citado pelo Estadão. A fala de Lula obviamente agradou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que no mesmo evento disse que a petroleira vai explorar petróleo na Foz do Amazonas “com segurança”.
Lula também disse estar orgulhoso da Petrobras e que é necessária uma transição energética responsável, seja lá o que isso signifique para o presidente. “Tem gente que fala: ‘Vamos acabar com o combustível fóssil’. Eu também sou favorável a acabar. Quando fizermos para o combustível fóssil o financiamento para a chamada transição energética que temos que fazer”, ressaltou, repetindo a falácia de que o dinheiro do petróleo é necessário para a transição, quando os números mostram que não.
Em um dos últimos atos da cúpula de líderes do BRICS, os países do grupo lançaram uma declaração-marco sobre finanças climáticas. O texto defende a ampliação dos mecanismos de financiamento para transição energética e o enfrentamento das mudanças nos padrões do clima. Embora reconheça o papel das nações em desenvolvimento na crise climática, o texto faz uma cobrança aos países mais ricos por maior engajamento (leia-se aporte de recursos). O Globo deu mais detalhes.
Na avaliação do Brasil o BRICS pode ter um papel decisivo para impulsionar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em Inglês). Os países do grupo com recursos, como a China e Emirados Árabes Unidos, estão avaliando investir no fundo, assim como mobilizar capital privado. A expectativa do governo brasileiro é anunciar a operacionalização do fundo na COP30, em novembro, em Belém. A notícia é do Valor.
A cúpula do BRICS tenta reinventar uma abordagem coletiva para problemas mundiais. No entanto, enquanto Lula repreende países ricos pelo recuo em clima e comércio, o bloco está dividido e desequilibrado, avaliou Jonathan Watts no Guardian. Ainda assim, o grupo vem sendo instado a ocupar o vácuo de liderança climática deixada pelos Estados Unidos. “O BRICS se considera uma voz para o Sul Global, que sofre desproporcionalmente com a crise climática. Isso proporciona um forte incentivo para tentar reengajar as partes mais ricas do mundo em uma abordagem multilateral para um problema comum”, escreveu Watts.