24 Setembro 2025
No mês de dedicado a Campanha Setembro Amarelo de prevenção ao suicídio, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apresenta os resultados da pesquisa inédita “Como você está? Uma pesquisa nacional sobre saúde mental e sentimentos na vida adulta”, realizada em 2025 como parte das ações da campanha. A pesquisa revelou um panorama da saúde mental dos brasileiros adultos e reforça a necessidade de ações efetivas para a prevenção do suicídio no país.
A informação é da assessoria de comunicação da ABP Brasil.
Entre os dados que mais chamaram atenção, está o fato de que 25,7% dos participantes relataram ter tido pensamentos suicidas nos últimos seis meses. Além disso, 25,2% afirmam que não se sentem bem atualmente, enquanto 30,9% se declaram tristes ou decepcionados, mas ainda com esperança de melhora.
A pesquisa também mostrou que mais da metade das pessoas entrevistadas já pensou em se isolar completamente ou desaparecer. Esses dados reforçam a importância de pensar ações para cuidar destas pessoas levando em consideração aspectos sociais e demográficos e combater o estigma que ainda impede muitos de buscarem tratamento médico.
54,1% dos participantes afirmaram saber onde buscar ajuda especializada diante de uma crise intensa. Outros 33,2% relataram que conversariam com alguém próximo. Ainda assim, menos de 10% das pessoas disseram nunca ter buscado ajuda ou não acreditarem na necessidade de procurar.
Por outro lado, um dado considerado positivo pela ABP é que 50,9% das pessoas já procuraram atendimento com psiquiatras ou psicólogos pelo menos uma vez e estão sendo acompanhadas por profissionais especializados. Esse resultado mostra que há uma crescente conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde mental e prevenção da doença, embora ainda haja muitos desafios a serem enfrentados. Esse resultado também aponta a diminuição do estigma com os temas relacionados à doença mental, algo que a ABP tem trabalhado intensamente desde 2011.
No entanto, o cenário é ainda mais desafiador quando se observa o acesso ao atendimento especializado. A pesquisa indicou que 31,6% dos brasileiros acreditam que poderiam buscar atendimento com um psiquiatra por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 33,8% consideram o plano de saúde como uma opção viável e 50,9% buscariam atendimentos particulares. 9,8% mencionaram a possibilidade de recorrer ao apoio de instituições como ONGs ou universidades.
Esses dados indicam que há uma consciência da população sobre a necessidade de cuidados e quais são os canais de acesso disponíveis, mas também revelam disparidades. A realidade de um sistema público de saúde insuficiente, com longas filas e recursos limitados, é uma uma barreira. Já o atendimento privado amplamente citado é uma opção restrita a uma parte da população.
O principal objetivo da pesquisa é compreender os principais desafios enfrentados pela população adulta brasileira em relação às doenças mentais e como as pessoas reagem diante da necessidade de ajuda, se elas sabem onde e como buscar suporte. As informações coletadas serão utilizadas para traçar um panorama nacional e orientar a criação de materiais informativos sobre as doenças mentais e ações de prevenção ao suicídio mais alinhados com a realidade dos brasileiros.
A pesquisa foi realizada com a participação de pessoas de todos os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, abrangendo diferentes faixas etárias entre 18 e maiores de 65 anos, níveis variados de escolaridade e condições profissionais diversas, incluindo trabalhadores formais e informais, empreendedores, estudantes, servidores públicos, desempregados e aposentados.
No dia 8 de setembro, foi sancionada a Lei nº 15.199, que estabelece o dia 10 de setembro como o Dia Nacional de Prevenção do Suicídio e o dia 17 de setembro como o Dia Nacional de Prevenção da Automutilação no Brasil. A ABP acredita que a responsabilidade de prevenir doenças mentais e consequentemente prevenir o suicídio é um plano coletivo que envolve ações de conscientização, educação e cuidado o ano inteiro. As doenças mentais devem ser tratadas como qualquer outra doença física que necessita de atendimento especializado, exames clínicos e tratamento. A saúde mental deve ser uma prioridade nas políticas de saúde pública.
Os dados completos da pesquisa estarão disponíveis em breve no site da Campanha Setembro Amarelo.
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